segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

CARO GOLPISTA, O GOLPE JÁ ACONTECEU




O jornalista Roberto Pompeu de Toledo, em 29/11 publicou matéria na revista Veja intitulada “Caro Golpista”. Lembra o senhor Toledo que os chefes militares das três armas declararam recentemente que estão inseridos numa democracia e que golpe nem pensar. Aventa, porém, a possibilidade de que os militares venham a mudar de idéia e decidam-se pelo golpe. O que aconteceria? - pergunta o articulista. E menciona a censura, as torturas, as mortes e outras barbáries ocorridas a partir de 1º de abril de 1964. Acrescenta seriamente que Estados Unidos e países europeus não ficarão muito satisfeitos com o golpe, que o governo golpeado se transformará em vítima, que surgirão guerrilhas a partir dos movimentos sociais e fecha a matéria dando um recado ao “amigo golpista” para que recolha sua faixa e faça oposição pacífica ao governo. Mas o mais gozado é quando diz, no hipotético caso de um golpe, que “a imagem de um general de óculos escuros sintetiza os acontecimentos no Brasil”. 

   Exatamente, na Veja. Você que é petista ou simpatizante não se assuste, seja um pouco rebelde e leia a Veja. Leia a Veja, leia a Isto É, a Época... Leia todas as revistas e jornais para poder formar o seu senso crítico. É claro que umas repetem as outras e que em todas existem boas e más matérias, além do quê a Veja pretende dominar uma faixa da população que se entende de “direita” – aquele tipo de gente que brada contra o governo, chamando-o de “comunista”, e que nunca leu Marx ou, mesmo, Bakunin. Muito menos Gramsci. Não seja como eles: leia. Ler faz bem, e não fique com medo de ser influenciado, porque, afinal, você não é um bonequinho que qualquer partido, revista ou jornal poderá manipular. Ou é? 

   Ora, a partir de abril de 1964, os militares que tomaram o poder afirmaram que golpeavam as instituições em nome da democracia – e hoje ainda dizem isso e organizam festas nos dias 31 de março (e não no dia 1º de abril, porque não querem parecer bobos), não por saudosismo de um novo golpe, porque o golpe já aconteceu e deu certo, mas para se congratularem com a democracia que hoje defendem e que nasceu naquela data. Uma democracia extremamente suspeita, onde existem urnas eletrônicas fraudulentas, governos corruptos, um Congresso vendido e um Judiciário muitas vezes acusado de estar sendo aparelhado pelo partido do poder – mas, segundo os militares, é uma democracia. O modelo de democracia que eles propuseram quando concordaram com a “redemocratização”. 

   Convém lembrar que em 1964 a luta se deu também dentro dos quartéis, com muita gente sendo presa, expulsa e exilada. Era um tempo em que milhares de militares brasileiros ainda defendiam a sua pátria, eram nacionalistas e não aceitavam a ideologia entreguista daqueles que apelidaram de “gorilas”. Estavam prontos a lutar contra o golpe, mas Jango fugiu. Assim, quando se fala em “militares”, com certeza é uma alusão aos generais e coronéis, talvez capitães, que tem uma ótima vida no atual governo, ao contrário dos militares de patente mais baixa. Assim como naquela época. As divisões de classe existem em todos os setores da sociedade, inclusive na caserna. 

    Esses militares apelidados em 1964 de “gorilas” e que hoje recebem todas as benesses do governo é claro que não querem um golpe. O golpe já foi dado, repito, e os presidentes civis que se sucederam após os governos militares têm obedecido perfeitamente à prescrição principal, que consiste em fazer um governo capitalista, de acordo com as leis do mercado, obedecendo ao neoliberalismo econômico e à globalização que desnacionaliza todos os países e os entrega de mãos amarradas ao império. 

   Pessoas que desejam um golpe militar acreditam que os gorilas são contra o governo – o que não é verdade. Nunca um governo foi tão afável com militares de patente superior, que podem cercar favelas, invadir o Haiti para receber ordens dos militares dos Estados Unidos, participam de operações da ONU na África, manobras da OTAN, etc. Na verdade, este é um governo dos militares. Diferente daquele, porque permite eleições, desde que devidamente monitoradas. 

   Além disso, aquele golpe de 1964, que hoje perdura em mãos civis, foi orquestrado nos Estados Unidos, visando acabar com o nacionalismo que os gorilas da época apelidaram de “comunismo”. Quase conseguiram. Li em algum lugar que Dilma não é socialista ou comunista, mas militarista. Estou começando a acreditar. Viram os óculos escuros? Pode ser algum sinal esotérico aos seus amigos de farda. E o novo ministério de extrema-direita, com Kátia Abreu e Joaquim Levy? Até a Veja está aplaudindo. A Veja, a Época, a Isto É... Todos eles. É de se pensar que se consentissem na eleição do Aécio ele faria, ao contrário do PT, um governo de centro-esquerda. Quem sabe até um governo não-entreguista. Ao contrário do PT. 

   Penso, também, que as manifestações contra o governo - que já estão sendo abafadas pela mesma imprensa que as incentivou – se, por algum acaso, continuarem poderão ser reprimidas – imaginem! – pelos militares. 

    No entanto, se você, “amigo golpista”, insiste em chamar os militares para um golpe sob o pretexto de que o governo Dilma está construindo um grande porto em Cuba, não se alarme, não é uma questão ideológica. O Brasil dos governos civis é a quinta-coluna do capitalismo na América Latina. Construir um porto em Cuba significa, em primeiro lugar, incluir aquele país no livre mercado através do escoamento da sua produção, e receber produtos estrangeiros para impulsionar Cuba de volta ao capitalismo. Fidel castro está doente e fora do governo; Raúl Castro não é exatamente um socialista convicto. Aliás, é maçom, e lembre que parte da Maçonaria apoiou o golpe de 1964 no Brasil. Alie a isso o fato de que vice-presidente Michel Temer também é maçom. Já foi chamado até de satanista, mas é só maçom. Também Tarso Genro é maçom, além de outros líderes do PT e de partidos aliados. E quase todos os presidentes dos Estados Unidos eram maçons, incluindo o atual, Obama. Dá pra somar dois mais dois? 

    Então você dirá, “amigo golpista”, que o governo brasileiro é bolivariano. Errado. O bolivarianismo é uma espécie de socialismo que inclui o nacionalismo, o amor à pátria – o oposto do PT, que não é nem socialista nem nacionalista. Muito pelo contrário. As relações do governo brasileiro com os países da ALBA (Aliança Bolivariana das Américas) é meramente comercial. E, se puder, o governo brasileiro tentará cumprir “a missão” de destruir a ALBA através da divisão, atraindo alguns dos seus países para o insosso MERCOSUL. De quebra, o nosso é um governo aliado da Colômbia, país ocupado pelos Estados Unidos e cujo governo tem contra si duas fortes guerrilhas populares. Também lá a “missão” do governo brasileiro consiste em tentar desativar as FARCs – em primeiro lugar. 

    Ainda não convencido, “o amigo golpista” poderá redargüir que o governo brasileiro está muito próximo da política de Cristina Fernandez Kirchner. Novamente errado. O governo da presidente Cristina Kirchner é nacionalista, posto que sustentado pelo partido peronista e combate os abutres capitalistas, ao contrário do governo de Dilma e aliados, que é um governo entreguista. 

     Neste momento, o amigo – golpista ou não – ficará até tentado a entrar para o PT, que é o partido do Novo Capitalismo, mas lembrará que o PT (e aliados) rouba muito, o que já seria suficiente razão para um golpe (militar?). 

     Roubam, roubam muito e estamos indignados com tamanha sujeira, mas a indignação deve ficar restrita a conversas e comentários. Não se deve pensar em conspiração, porque os militares a soldo de Dilma e aliados poderiam reagir com intolerância desmedida. Eles também roubaram, roubaram muito em seus tempos de ditadura militar, que agora é civil. A Polícia Federal que se cuide. Se continuar a descobrir corruptos poderá ser substituída pelos militares, ou pelos militantes do PT e aliados de todas as cores. A diferença é muito pouca.

2 comentários:

  1. É...Realmente o golpe já aconteceu. Muito boa análise sobre os militares e a política praticada no Brasil.

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  2. De ante das circuntâncias é preciso refundar o Brasil...

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