quinta-feira, 4 de março de 2010

brasileiríadas - O PREFEITO E O CAMPEONATO DE PETECA


O secretário chegou para o Prefeito e disse: - “Companheiro Prefeito, já recebi três mensagens da mesma pessoa. Insiste que o companheiro Prefeito responda a ele."


O Prefeito, com o seu sotaque arrastado de ex-seminarista, respondeu: - "Mas companheiro! Estamos aqui para atender a todos, somos um governo popular. O que deseja esse companheiro, companheiro secretário?"

- “É sobre aquele assunto da minha Secretaria, companheiro Prefeito, sobre a organização do campeonato de peteca."

- "Mas o que diz a mensagem desse companheiro, companheiro secretário?"

- "Companheiro Prefeito, esse companheiro contesta o campeonato, diz que não é democrático..."

- "Uh-la-lá!". Mas porque esse companheiro diz isso, companheiro secretário?"

- "Ele não concorda, companheiro, que o campeonato municipal de peteca seja organizado pelo Clube Petequense Municipal."

- "Mas o que tem de mal nisso, companheiro secretário?"

- "Ele diz que outros jogadores de peteca, que não pertencem àquele clube não foram ouvidos sobre a organização do campeonato. Dá a entender que os jogadores do Clube Petequense seriam beneficiados..."

- "Dilma do Céu!, companheiro secretário... Então esse companheiro quer complicar? Deve ser algum purista... Por acaso, companheiro secretário, esse companheiro é aquele companheiro?..."

- "Aquele mesmo, companheiro Prefeito."

- "Uh-la-lá! Russef!-russef!... Perdão, companheiro secretário... Estou com uma tosse! Será a H1N1, companheiro secretário? Feche aquela janela e me alcance a minha écharpe, por favor, companheiro secretário."

- "Mas com esse calor, companheiro Prefeito? Não se preocupe, que a H1N1 está proibida de entrar nas nossas prefeituras, companheiro Prefeito."

- "Então deixe a écharpe, companheiro secretário. O que iriam dizer?... Não é verdade, companheiro secretário?"

- "Ora, companheiro Prefeito... É tudo maldade do povo, o companheiro sabe..."

- "O povo às vezes é mau, companheiro secretário, mas precisamos dele, mesmo assim."

- "Com certeza, companheiro Prefeito. Mas, voltando ao companheiro insatisfeito com o campeonato de peteca, o que eu faço, companheiro prefeito?"

- "Precisamos compor com esse companheiro, companheiro secretário... Vamos ver... Se não estou enganado, ele tem um cargo na Federação de Peteca, não é?"

- "Não tem mais, companheiro Prefeito. Pediu demissão, alegando corru... corru... - perdão, companheiro Prefeito, estou com um pigarro - ele alegou má administração da Federação."

- "Mas ele é mesmo um purista, companheiro secretário! Ora, então vejamos... Quem sabe ele poderia patrocinar uma das etapas do Campeonato de Peteca, companheiro secretário? Nesse caso, ouviríamos os outros setores petequenses da cidade, é claro... O que acha, companheiro secretário?"

- "Temo que não seja possível, companheiro Prefeito. Parece que esse companheiro é muito purista mesmo e não teria dinheiro para patrocinar alguma etapa."

- "Russef!-russef! Ó, esta tosse, companheiro secretário!... Então ele é um companheiro pobre, companheiro secretário? Sinto tanto por ele... Ainda bem que nós já temos os patrocinadores do Clube Petequense, companheiro secretário... Não precisaremos mesmo desse companheiro."

- "Então, o que respondo a ele, companheiro Prefeito?"

- "Mas o que ele tem para nos dar para ficar exigindo alguma coisa, companheiro secretário? Você sabe que política é negócio. Olhe o seu caso, companheiro secretário."

- "O meu caso, companheiro Prefeito?"

- "É claro que você é competente, ninguém nega isso, companheiro secretário. Mas você deu o voto decisivo para que eu fosse indicado pelo Partido como candidato a Prefeito e agora, depois de eleito, você é um dos meus secretários, o seu pai é assessor, a sua..."

- "Correto, companheiro Prefeito. Uma troca justa."

- "Justíssima. Aliás, estamos aqui para fazer justiça social, não é companheiro secretário?"

- "Claro, companheiro Prefeito. E quanto ao companheiro queixoso...?"

- "Queixas, companheiro secretário? Todos se queixam de alguma coisa... Eu mesmo, agora, me queixo desta tosse... Russef!-russef! Você tem mesmo certeza, companheiro secretário...?

- Absoluta, companheiro Prefeito. A H1N1 não entra nas nossas prefeituras... Só nas dos DEMs."

- "Ó, isso já é um alívio!... Pois deixemos assim, companheiro secretário."

- "Assim como, companheiro Prefeito?"

- "Esse caso do companheiro que se queixa, das petecas... Ignore."

- "Mas se ele insistir, companheiro Prefeito?"

- "Uh-la-lá! Pois é... Deixe em banho-maria..."

- "Mas se ele continuar insistindo, companheiro Prefeito?"

- "Uff!... Diga que estou com a agenda cheia, que responderei assim que for possível."

- "Deleto ele, companheiro Prefeito?"

- "Ainda não, companheiro secretário... Russef!-russef!... Esta tosse!... Não delete... Nunca se sabe... Talvez um dia ele ainda possa servir. Os puristas são necessários numa sociedade."

- "Muito bem, companheiro Prefeito, então vou indo. Também estou com a agenda cheia."

- "Um momento, companheiro secretário!"

- "Sim, companheiro Prefeito?"

- "Apesar de tudo, não esqueça: a luta continua!"

- "Com certeza, companheiro Prefeito: a luta continua!"

3 comentários:

  1. Opa, Fausto. Olha lá, este conto me lembra alguma coisa. Até parece ficção-realidade. Ou o contrário? Parabéns! Bem na mosca. Ou no moço, moça, sei lá?
    Lidia.

    ResponderExcluir
  2. Felizes os cães, que pelo faro descobrem os amigos.
    Muito bom!

    Eduardo.

    ResponderExcluir
  3. Parece utopia e ao mesmo tempo real.Parabéns abriu a chave com Ouro. Amei seu blog e já sou sua seguidora, pretendo voltar mais vezes para ler outras postagens.Adorei abraços Heudes

    ResponderExcluir

Faça o seu comentário aqui.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...