quarta-feira, 8 de junho de 2011

PELA PORTA DOS FUNDOS


Palocci saiu pela porta dos fundos, correndo, esfogueado, não porque tenha perdido o apoio da famosa base aliada ou por qualquer outra razão apontada na famosa mídia que nada informa, mas para fugir de uma investigação parlamentar cada vez mais próxima. Como ministro, seria obrigado a dar explicações detalhadas sobre o milionário aumento do seu patrimônio; como ex-ministro, no máximo poderá ser convidado a dar as mesmas explicações. E recusará.

     Palocci fugiu pela porta dos fundos do poder para poder, quem sabe, em próxima época de amnésia política, voltar ao poder que o aconchega e releva suas faltas, porque o poder não é ético ou não seria poder. E as pessoas que dominam no atual Brasil não tem a ética na política como principal preceito moral. Ao contrário: acreditam que o poder é a força em si mesmo e quem o detém não poderá ser jamais questionado se tiver os votos do povo a seu favor, mesmo que a maioria do povo seja constituída de pessoas com incapacidade de raciocínio lógico, ou por pessoas que prostituem o seu voto devido à fome, à miséria, à educação que deseduca e a todas as mazelas sociais que o poder perpetua para continuar sendo poder.

     Palocci fugiu pela porta dos fundos não por desejo próprio ou por acesso súbito de elevada moral. No dia 7/06, quando decidiu sair correndo, uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) proposta pela oposição tomava corpo e faltavam apenas sete assinaturas para que a Comissão fosse instalada no Senado. Membros da estereotipada base aliada já estavam assinando e em questão de minutos ou de poucas horas Palocci não poderia mais escapar à CPI. E teria de dizer a verdade sobre o seu enriquecimento gigantesco, o que, muito provavelmente iria provocar grandes dores de cabeça para a dona Dilma.

     A oposição detectou que a empresa WTorre, para quem Palocci tinha prestado consultoria, através da sua empresa Projeto, teria feito uma bela doação de campanha para a então candidata do PT. No mesmo período em que a empresa de Palocci ganhou mais de 10 milhões de reais – durante os últimos dois meses de 2010, novembro e dezembro, quando o então deputado Palocci era o líder da equipe de transição da eleita presidente Dilma.

     A WTorre Engenharia e Construções S. A. é uma grande empresa de engenharia, uma das maiores do Brasil, senão a maior, e está encarregada, no atual governo, de diversos empreendimentos. Um deles é a construção do estádio do Corinthians, o Itaquerão, onde será feita a abertura da Copa do Mundo de 2014. Também está construindo a Arena Palestra Itália, futuro estádio do Palmeiras, entre outros grandes empreendimentos. Na época a empresa recebeu uma restituição da Receita Federal no valor de nove milhões de reais e repassou dois milhões para a campanha de Dilma Roussef.

     Palocci saiu correndo antes de ser chamado para depor na CPI, porque teria de dar muitas explicações. Uma delas seria como aumentou o seu patrimônio em 20 vezes em apenas cinco anos. E nesse “como” ele teria de dizer para quem passou informações confidenciais – “consultoria” -, quais foram as informações prestadas e quanto recebeu cada vez que foi consultado. Consultado por empresários dos mais diversos setores, principalmente durante o período de transição do governo Lula para o governo Dilma, quando recebeu mais de 10 milhões por suas informações privilegiadas.

     E Dilma seria respingada, o seu belo vestido branco da posse ficaria um pouco sujo, porque é provável que, além da WTorre, outras empresas que teriam consultado Palocci também tenham contribuído para a campanha da atual presidente. Uma troca de favores.

     Palocci saiu pela porta dos fundos para não ser obrigado a informar à CPI, que estava sendo formada no dia em que ele pediu demissão, quais as empresas que tinham favorecido Dilma (e ele) e como essas empresas teriam sido favorecidas pelo poder. Quem teria ganhado, de que forma e o que.

     Então Palocci saiu correndo, esbaforido pediu demissão do seu cargo, para conservar o crédito e os clientes.

     O governo faz de conta que nada aconteceu, os supostos opositores fingem que vão esmiuçar o caso, o Congresso promete trabalhar, fala-se em democracia enquanto o povo reclama que não gostou muito da coisa, e conspira-se nos bastidores. Como sempre. Qualquer dia Palocci reaparece. Ninguém levou xeque-mate e o resto é quase silêncio.

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