segunda-feira, 26 de setembro de 2011

DIGA NÃO


Estamos aceitando tudo muito facilmente. Estamos aceitando que a Dilma realmente fará uma faxina nos seus ministérios, quando sabemos que a corrupção no Planalto vem desde o governo Lula, ou antes, com o Fernando Henrique; ou ainda antes, muito antes... Porque a corrupção está entranhada na alma brasileira e os nossos governos e governantes nada mais fazem que repetir o que essa alma conspurcada de “jeitinhos” pede.

     Somos um povo de corruptos porque elegemos corruptos; e mais corruptos ainda ficamos quando os corruptos oficiais mostram a sua cara corrupta e nada fazemos, a não ser apontar as feridas e rirmos delas.

     Estamos aceitando e rindo do que fazem conosco, mas nada fazemos porque temos medo ou porque nos sentimos impotentes ante o poder tão poderoso dos poderosos corruptos que assolam o país ou porque nos acostumamos a nada fazer, porque há uma lei brasileira que diz que malandro deve ser reverenciado e até cantado em óperas e uma corrupção maior será sempre uma malandragem maior e não exatamente um grande crime.

     Estamos ficando tristemente acostumados a aceitar a impunidade como lei, porque é através da lei que os corruptos ficam impunes; e a pensar que a cada vez que nos tiram um pedaço devemos agradecer porque foi somente um pedaço; e se nos escravizarem ainda mais, devemos rezar porque é uma servidão branda, que levará à morte em suaves prestações.

     Estamos ficando cínicos, debochados, tristes, apalermados, ridicularizados pelos povos que lutam pelos seus direitos, porque entregamos os nossos direitos justamente àqueles que denunciamos como corruptos, esperando que façam alguma coisa contra os seus próprios desmandos.

     Como crianças, esperamos que papai e mamãe nos consolem com mesadas e promessas.

     Estamos perdendo o ímpeto, a força, a energia. Não sabemos mais dizer não.

     Não dizemos não quando uma classe média alienada e deslumbrada passa quinze dias ouvindo música no Rock in Rio, enquanto a esmagadora maioria do povo trabalha para que eles se divirtam.

     Não dizemos não quando a Câmara Federal, através de dois deputados, com o plenário vazio, aprova 118 projetos em poucos minutos, sem discussão ou debates. E dois deputados que seriam, na aparência, de partidos opostos – PT e PSDB –, mas que se unem para defender os seus interesses comuns.

     Não dizemos não quando dois estados apadrinhados pelo governo federal – Espírito Santo e Rio de Janeiro – recebem todo o dinheiro oriundo dos royalties do petróleo extraído no que deveria ser o território brasileiro.

     Não dizemos não quando o governo investe milhões para a Copa do Mundo de 2014 – que será um evento que trará benefícios e ganhos somente para o governo e empresários aliados – ao mesmo tempo em que deseja lançar novos impostos, que seriam, talvez, para a área da saúde.

     Não dizemos não quando não há licitação para as obras da Copa do Mundo.

     Não dizemos não quando deputados corruptos são inocentados através do corrupto voto secreto.

     Não dizemos não quando os morros são invadidos por tanques e o povo é espezinhado em seus direitos, em clara demonstração de que a ditadura não acabou - apenas trocou de roupa.

     Não dizemos não quando a famosa Comissão da Verdade faz um acordo com os militares para que a verdade seja encoberta ainda mais.

     Não dizemos não quando filmes fascistas, que defendem o assassinato e a tortura – como os dois “Tropa de Elite” -, que instigam a violação dos direitos humanos, são veiculados como se fossem obras de verdadeira arte – quando são exemplos da natureza morta em nossos corações.

     Não dizemos não contra as comissões de parlamentares que apenas discutem a fome, apenas discutem o analfabetismo e a miséria, apenas discutem a falta de justiça em nosso país – em ambientes luxuosos, através de discursos emocionantes que não são mais que palavras vãs, pois se sabe que eles nada farão de concreto e visam apenas os votos dos passivos.

     Não dizemos não quando destroem as nossas florestas, liquidam com a fauna e flora, para plantarem transgênicos que provocarão a desertificação do solo.

     Não dizemos não quando constroem hidrelétricas que provocam cataclismos climáticos e ecológicos e expulsam os povos indígenas das suas terras ancestrais – apenas para dar dinheiro a um grupo de empresários.

     Não dizemos não quando o governo faz a opção obsoleta e assassina pela energia nuclear.

     Não dizemos não quando o governo diz não à energia eólica e à energia solar.

     Não dizemos não quando empresas de pecuária e agricultura extensiva transformam a terra que deveria ser dos brasileiros em imensos desertos.

     Não dizemos não quando empresas estrangeiras compram o Brasil aos pedaços.

     Não dizemos não quando o ensino brasileiro é um dos piores do mundo e os professores recebem salários de miséria.

     Não dizemos não quando as informações que recebemos são filtradas de tal maneira pelas agências de notícias, que sabemos no máximo 5% do que acontece no país e no mundo; e muitos são tão massificados que realmente acreditam que Nova Iorque é a capital do mundo.

     Não dizemos não quando nos tratam como massa, como bois no curral esperando pelo abate; como incapazes e inconscientes.

     Não dizemos não quando eles pedem os nossos votos.

     Raramente dizemos sim às lutas dos povos oprimidos, às lutas dos povos segregados, à luta dos martirizados por uma política que diz não ao povo.

     Diga não. Não somente para as grandes corrupções neste país de tantos carnavais. Diga não a si mesmo quando perceber que está concordando em ser roubado pelos impostos, roubado pelas falsas informações, roubado quando acredita nas promessas dos políticos que dizem não a você, roubado quando acredita que eleições resolverão todos os males, roubado quando não é atendido nas repartições dos governos que você ajudou a eleger, roubado quando espera nas eternas filas para receber atendimento médico, roubado quando eles aumentam ainda mais os próprios salários e não lhe dão nada, a não ser, talvez, um olhar de escárnio.

     Diga não, comece a dizer não, experimente dizer não. Continue dizendo não, insista em dizer não.

     Diga sim à sua dignidade.

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