domingo, 19 de fevereiro de 2012

LIBERDADE PARA O TRÁFICO





Você sabe o que é “pequeno traficante?” É uma pessoa pequena que trafica ou é um traficante que pratica tráfico de entorpecentes em pequena escala? Talvez seja um aprendiz de grande traficante, aquele que repassa o produto que recebe do grande traficante que, por sua vez, repassa em grande escala o produto que recebe dos fabricantes de drogas.

     O Senado acaba de liberar os pequenos traficantes. Bem na época do Carnaval. Talvez, lá em seu íntimo, os senadores tenham pensado como ficariam os viciados numa época em que o vício é incentivado. Sem os pequenos traficantes não há venda de drogas, ou vocês imaginam que o grande chefão de alguma rede de tráfico irá se dar ao trabalho de entregar drogas de porta em porta? Para isso existem os pequenos traficantes que, agora, são criminosos menores, de acordo com o seu trabalho.

     Se forem presos, os pequenos traficantes receberão penas alternativas, como serviços prestados à comunidade, mas os pequenos traficantes já prestam serviços comunitários. O que é um vendedor de drogas, senão alguém que passa o seu produto para um número de usuários cada vez maior? Usuários de drogas, comumente chamados de “viciados”, necessitam desse serviço para que possam ficar calmos e tranqüilos, vivendo o seu mundo muito particular e não saiam a incomodar os outros pecadores que não são viciados com desesperadas crises de abstinência devidas à ausência dos pequenos traficantes.

     Liberar os pequenos traficantes é liberar o tráfico de drogas, mas quem disse que o tráfico de drogas não está liberado no Brasil? É claro que há todo um jogo de cena, com policiais e militares invadindo favelas, prendendo grandes traficantes e queimando enormes quantidades de drogas. Mas é um jogo de cena. Se existem usuários, compradores, viciados, sempre haverá uma maneira para que essas pessoas recebam os seus produtos preferidos. Se um traficante não se comporta bem é preso; se os produtos tendem a baratear, queimam-se algumas toneladas para que a lei de oferta e procura prevaleça e os preços sejam controlados.

     O usuário de drogas não regateia preço. Ele quer a droga, necessita dela e aceita o preço que for estipulado. Não se queixa para o PROCON, não chama a imprensa para dizer que está sendo explorado e esconde-se para usar a droga. Com exceções, como os que usam maconha e crack. Os primeiros não se escondem porque a maconha está liberada e porque não vêem nenhum mal no seu uso; os outros, porque perderam totalmente a consciência e são retirados das ruas porque os cidadãos que usam drogas mais caras não gostam daquela visão grotesca.

     Usar drogas também é uma questão de classe social, às vezes de status.

     Aos muito pobres, o crack e coisas piores, para que se matem rapidamente e parem de incomodar. Para a classe média, maconha e drogas leves; para os muito ricos, cocaína, heroína, ecstasy e todos os tipos de drogas sintéticas.

     Todos eles necessitam do pequeno traficante, que agora está liberado para traficar. Por vezes, os muito ricos fazem festas, onde incluem muitas drogas exóticas e, provavelmente, convidem os grandes chefes das quadrilhas de traficantes. É quando novas drogas são experimentadas e os pequenos traficantes servem como mordomos.

     Em 1972 o cineasta espanhol Luis Buñuel dirigiu “O Doce Charme da Burguesia”. Em uma das cenas, depois de um belo jantar os convidados passam para outra sala para tomar o café e, pouco depois, chega um mordomo que serve um pó branco para todos aspirarem. Tudo muito chique.

     E agora o Senado brasileiro liberou os pequenos traficantes para cumprirem o seu papel mais comodamente. Acredito que foi um dos poucos momentos em que o nosso Senado tirou a sua caquética máscara da hipocrisia. 

     Por falar em máfia, de acordo com “O Diário Online”, de 19 de fevereiro de 2012, “neste ano, escolas de samba do Grupo Especial do Rio vão receber R$ 29,8 milhões, entre patrocínios e convênios com Petrobras, governo do Estado e prefeitura. Entre as beneficiadas, pelo menos sete são controladas pelo jogo do bicho, duas têm suspeita de ligação com milicianos e uma mantém relação com traficantes. É o que mostra inquérito civil do Ministério Público do Rio, que investiga repasses de recursos públicos para as 13 agremiações”.

     Vocês acreditam que todo esse vinculo monetário com o Poder fará com que as escolas de samba do Rio apresentem enredos criticando a corrupção, desmatamento, usina de Belo Monte, desemprego, miséria e coisas do gênero? 

     Por exemplo, a Beija-Flor de Nilópolis tem como samba-enredo cantar as maravilhas da cidade de São Luís, capital do Maranhão, terra do Sarney, onde a sua filha, Roseana Sarney é governadora. 

     Por um descuido, a polícia carioca prendeu Anísio Abraão David, Presidente da Beija-Flor, pouco antes do carnaval, mas o Sarney ficou sabendo e o Anísio já está solto para pular o carnaval. Para quem não se lembra, o Sarney é o Presidente do Senado.

Um comentário:

  1. "MUITO INTERESSANTE SEU BLOG, COM TEMAS ATUAIS, QUE SÃO VERDADES QUE DEVERIAM SER COMENTADAS SEMPRE, POIS ESTAMOS NUM MUNDO ONDE O SABER SE IMPÕEM CADA VEZ MAIS. NOS DEPARAMOS COM ASSUNTOS, QUE INTERESSA À TODOS, E VC AQUI O FAZ MUITO BEM!

    (CARMEM)

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