sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

MEDO E PIZZA



Medo. O soldado deve ter medo quando em combate; caso contrário, poderá ser ferido. Não o medo covarde, que é o medo dos covardes, mas um medo sadio, de autopreservação. Os destemerosos, aqueles que levantam com a bandeira na mão, serão feridos. Quase sempre. Deve-se ter medo de ser ferido – dizem os instrutores militares. Um soldado a menos dá trabalho.

     Errático, incerto e descabido é o medo de fantasmas, vampiros, lobisomens, mulas-sem-cabeça, lulas ou maias. Maias no final do seu calendário estão prestes a sair de férias e tem por hábito o grito destemperado, ou com algum tempero que possa assustar os que não viajarão imediatamente.

     Deve ser dolorido e demencial perder as férias por causa do aguerrido e ameaçador grito maia. É um grito que assusta, intimida, provoca solidão e dúvidas. Acabará o mundo?

     Orgulhem-se os que não sentem medo. Terão vivido. Cícero fugiu de César e acabou sendo capturado e morto. O valoroso Heitor perdeu o valor na hora de enfrentar Aquiles e saiu correndo. Quando parou, tentou regatear a própria morte. E foi morto.

     Estamos vivendo um estado de medo. Pessoas se escondem com medo do fim do mundo. Alguns pensam no suicídio por medo da morte. Outros tentam acordos com arcanjos e Ets através de pias e duvidosas canalizações. Mantras são entoados às cortes angélicas para que afastem Nibiru, Hercólubus, o Planeta X que tudo devastará...

     Passaporte. Cuide do seu passaporte com carinho. Caso você seja um corrupto conhecido que roubou milhões do Estado e nada devolverá, porque os ministros do Supremo que o condenaram não tem o conhecimento necessário, não sabem como fazer para que você e seus amigos corruptos conhecidos condenados simbólicos devolvam o dinheiro roubado, esmere-se em cuidar do passaporte. Ele será a chave da liberdade para novas corrupções. Bastará entregá-lo e o Brasil será a sua imensa cadeia. Na dúvida, atravesse as nossas desmatadas e abertas fronteiras e compre um passaporte falso, caso deseje ir além, enquanto o  mundo não acaba. Grandes são as chances de sucesso e prestígio para os corruptos profissionais.

    Indignados cidadãos honestos que são escorchados a vida inteira pela impostura do Estado, pelos maiores impostos do mundo, chamarão você de ladrão. Não ligue, você já está acostumado a esta palavra amiga que regala os seus sonhos. Retruque dizendo que rouba, mas faz. Faz mais roubos, mas alguns não desconfiarão - aqueles que você paga para que o protejam e gritem que você é um grande herói.

     Zeros à direita. Muitos zeros à direita nos cheques que você troca para corromper e ser corrompido. Todos sabem disso, mas você é intocável: já entregou o seu passaporte.

     Zeros à esquerda, é como você considera aqueles que revelam os seus roubos. Nunca poderão ser mais que zeros à esquerda. Não tem a sua inquestionável esperteza e malandragem; não sabem e nunca saberão roubar; não entendem que política, gestão pública e esta nossa democracia que você tanto defende se relacionam estreitamente com muitos, muitos zeros à direita.

     Assustado? Você, com tantos amigos ilustres? Jamais! Finja-se de indignado. Ainda existem pessoas que acreditam em dignidade. Principalmente o povo humilde e submisso aos seus discursos enfáticos. É dele que depende o seu sucesso. Ele, inconscientemente, bobamente, o elevou à sublime e indevassável impunidade.

Um comentário:

  1. Gosto dos seus comentários. São ricos em conteúdo, desperta a nossa curiosidade. Abraços
    < nelson.spaixao@hotmail.com > Coimbra-MG.

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