sábado, 16 de fevereiro de 2013

A ESTOLA E O AVENTAL (2) – O BANCO MAÇÔNICO DO VATICANO



Cardeal Paul Casimir Marcinkus, responsável pelo Instituto para as Obras Religiosas (Banco do Vaticano), o secretário de Estado do Vaticano e Camerlengo, cardeal Jean Villot, o cardeal norte-americano John Cody, o mafioso Michele Sindona, Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano em 1982; Licio Gelli, grão-mestre da loja maçônica Propaganda Due (P-2). Estas as principais personagens envolvidas no escândalo do Banco do Vaticano e com a quebra do Banco Ambrosiano, na época (1982) manipulados e dirigidos por membros da maçonaria ligados à máfia siciliana e estadunidense.

Dividida em 17 células,  cada qual com um líder que respondia diretamente a Licio Gelli, a Loja Maçônica Propaganda Due era formada ao melhor modelo Illuminati; tão secreta, que até mesmo os seus membros não conheciam o grão-mestre ou os objetivos da organização, agindo como verdadeiros robôs.

A P-2 era composta por 953 membros - incluindo o Ministro da Justiça Adolfo Sarti. Vários ex-Primeiros Ministros, como Giulio Andreotti que exerceu o cargo entre 1972 e 73 e novamente entre 76 e 79; 43 membros do Parlamento; 54 altos executivos do Serviço Público; 183 oficiais das forças naval, terrestre e aérea, incluindo 30 generais e 8 almirantes (entre eles o Comandante das Forças Armadas, Almirante Giovanni Torrisi); 19 juízes; advogados, magistrados, carabiniere; chefes de polícia; poderosos banqueiros; proprietários de jornais, editores e jornalistas (incluindo o editor do maior jornal do país, Il Corriere Della Sera); 58 professores universitários; líderes de diversos partidos políticos (evidentemente, não do Partido Comunista Italiano, por razões óbvias); diretores dos três principais serviços de inteligência do país. Todos esses homens, de acordo com os documentos apreendidos, juraram obediência a Gelli e estavam prontos para responder a seu chamado. 

A história relata que, em 1877, ainda nos tempos da reunificação de Mazzini e Garibaldi, foi fundada pelo Grande Oriente uma loja maçônica em Roma chamada Propaganda Massonica. Era freqüentada por políticos e altos funcionários governamentais que não deviam ter os seus nomes expostos na relação das lojas normais e era diretamente ligada ao Grão-Mestre. Esta seria a Propaganda Uno.
        
Em 1981, o GOI dissolveu e declarou ilegal a P-2 (que também teve o seu reconhecimento suspenso pela Grande Loja Unida da Inglaterra em 1993). Mas o estrago já estava feito. O Vaticano fora quase completamente infiltrado e o seu Banco (IOR) estava à beira da falência. O Banco Ambrosiano - filial do Banco do Vaticano na Itália – se transformara em uma lavanderia da máfia aliada à maçonaria. Quebrou, e a Igreja pagou milhões em indenizações.

Essa infiltração teria ocorrido desde a época em que Paulo VI ainda era o Monsenhor Montini, de Milão. E continuou, sob outras máscaras, após a morte de Albino Luciane (João Paulo I), depois que assumiu o pontificado Karol Woityla (João Paulo II).

A primeira coisa que Albino Luciane tomou conhecimento após ser eleito Papa João Paulo I foi sobre o rombo no Banco do Vaticano. Esse conhecimento já existia antecipadamente, quando ele era apenas um cardeal, mas não sabia dos detalhes, não conhecia os nomes de todos os implicados, não sabia que Licio Gelli era o verdadeiro Papa Negro por trás de Paulo VI e não entendia como isso tinha acontecido. Procurou documentar-se. Afinal, quem era o maçom Licio Gelli?

Gelli foi membro ativo do movimento fascista em 1936, tendo servido ao lado das tropas de Francisco Franco no Batalhão Camisas Negras durante a Guerra Civil Espanhola. Quatro anos mais tarde, recebeu a carteira do Partido Nacional Fascista Italiano. Em 1942, já se tornara secretário dos fascistas italianos no exterior. No período da IIª Guerra Mundial, Gelli, atuando como membro dos Camisas Pretas de Mussolini, chegou a ser oficial de ligação do Exército Italiano com a divisão de elite SS de Hermann Goering. Em 1944, sentindo que os ventos não mais sopravam favoráveis a Mussolini, criou uma rede de resistência conectada à CIA, graças ao V Exército norte-americano recém chegado à península. Após a guerra, migrou para a Argentina sendo o primeiro a obter uma dupla nacionalidade: argentino-italiana.

Iniciou-se na maçonaria em 1965, buscando se mirar nos dois Grão-Mestres sucessivos do GOI – Gamberini e Salvini – que se interessavam por uma aproximação mais estreita com o Vaticano. Três anos mais tarde, foi nomeado secretário da P2, elegendo-se seu Venerável Mestre em 1975. Gelli convidou Michele Sindona, o gênio financeiro do Vaticano, que trouxe consigo Roberto Calvi, o banqueiro mais chegado ao Vaticano. Em dezembro de 1969, num encontro promovido no escritório romano do Conde Umberto Ortolani, o Embaixador da Ordem de Malta para o Uruguai, que era, na época, o cérebro da P2, foi montado o Estado-Maior da Loja: Umberto Ortolani, Licio Gelli, Roberto Calvi e Michele Sindona.

Em 1973, foi citado como traficante de armas para os países árabes e implicado numa transação de três milhões de liras italianas numa operação conhecida como Permaflex, uma firma que trabalhava com a OTAN. Gelli era tão bem articulado com o establishment político estadunidense que chegou a ser convidado para as festas de investidura de três presidentes: Ford, Carter e Reagan.

Magistrados italianos, examinando cuidadosamente documentos apreendidos na Villa Wanda (nome de sua mulher), de onde Gelli tinha fugido quando a P2 explodiu, encontraram centenas de documentos altamente secretos dos serviços de inteligência. O Coronel Antonio Viezzer, ex-chefe dos serviços secretos de inteligência combinados, foi identificado como a fonte primária desse material, tendo sido preso em Roma por espionar em nome de uma potência estrangeira. Junto com Roberto Calvi,  Licio Gelli usou o Banco Ambrosiano, de Milão, para lavar dinheiro da máfia e da maçonaria, através do Banco do Vaticano, que foi completamente envolvido em fraudes financeiras. O mafioso Michele Sindona era o financista da P-2 e conselheiro de investimentos do Banco do Vaticano, ajudando o Banco a vender os seus ativos italianos e reinvesti-los nos EEUU. Uma trama que aliava a máfia à maçonaria, com o suposto beneplácito de Paulo VI e minava a Igreja na sua base financeira.

Albino Luciane (Papa João Paulo I) representava o oposto de Paulo VI – assim como hoje o Papa Bento XVI mostra-se completamente diferente de João Paulo II, por tentar defender a Igreja dos seus inimigos. E por isto está sendo deposto. João Paulo I não agradava à extrema-direita, pois esta o considerava indulgente em relação ao comunismo e por seu pai ter pertencido aos quadros do Partido Socialista Italiano.  Acredita-se que tenha sido assassinado após saber de todo esse imbroglio, às vésperas  de anunciar grandes modificações que incluiriam os principais nomes da Igreja, na tentativa de sanar os problemas financeiros do Estado do Vaticano e de reorientar a Barca de São Pedro para um caminho verdadeiramente cristão.

Durou um mês o seu pontificado. Após a sua morte e com a eleição de Karol Woytila (João Paulo II) a Igreja continuou permissiva em relação à ação da maçonaria e ao uso do Banco do Vaticano para fins ilegais. É claro que, antes, houve a necessária queima de arquivos. Paul Marcinkus foi exilado para uma paróquia dos Estados Unidos, Calvi e Sindona foram mortos, o GOI considera o assunto tabu – assim como os maçons do mundo inteiro.

Com a morte de Karol Woytila (João Paulo II) – aliado do neoliberalismo econômico - e a eleição de Joseph Ratzinger (Bento XVI) – inimigo do capitalismo desumano – as mesmas forças que apoiavam João Paulo II passaram a hostilizar o novo Papa com todo o poder da sua mídia, e não o perdoaram quando, por sua vez, decidiu sanar o Banco do Vaticano e chamar os católicos ao catolicismo. Era uma grande desobediência aos donos do mundo.


(Continua).

Um comentário:

  1. A cada postagem as surpresas se sucedem com informações completamente desconhecidas para mim. Que horror o que aconteceu e continua acontecendo no Vaticano. Continuo no próximo capítulo. Parabéns pela coragem, Blogueiro.

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