sábado, 9 de fevereiro de 2013

O POLÍTICO CARNAVAL BAJEENSE



No dia 4 de fevereiro, o Prefeito Dudu Colombo cancelou o Carnaval de Bagé, em respeito à tragédia de Santa Maria, que já vitimou, até o momento, 238 pessoas. Uma atitude digna, já esperada por quem conhece o caráter do Dudu, que destacou que todas as atividades ligadas ao carnaval foram canceladas, como a escolha da Rainha do Carnaval, Mesa de Bar e Santa Thereza. “As entidades carnavalescas serão indenizadas. Elas deverão apresentar as despesas através de nota fiscal. O ressarcimento será uma antecipação do carnaval de 2014. Vamos cumprir com o nosso compromisso” – afirmou Dudu.

     Dois dias depois, o radialista Edegar Abip Muza, da Rádio Cultura de Bagé, anunciava que o carnaval bajeense, no que respeita aos concursos Rainha do Carnaval de Bagé e Rainha do Carnaval do Estado aconteceria com o apoio das entidades carnavalescas da cidade e de segmentos do comércio que se dizem prejudicados com o decreto da Prefeitura.

     O concurso Rainha do Carnaval do Estado vem sendo realizado há muitos anos pela empresa Muza Publicidade. O Rainha do Carnaval de Bagé também era organizado pelo radialista até o final da segunda gestão de Luiz Fernando Mainardi. Quando Dudu Colombo assumiu a Prefeitura, diversos eventos carnavalescos passaram para a responsabilidade da prefeitura. Este ano foram cancelados e formou-se a polêmica.

  Até agora, além de Santa Maria, mais de vinte cidades gaúchas cancelaram o carnaval: Jaguari, Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, São João do Polesine, Nova Palma, Ivorá, Formigueiro, Santiago, São Martinho da Serra, São Sepé, Silveira Martins, Santa Margarida do Sul e Toropi, Pinhal Grande, Restinga Seca, Cerro Largo, Santa Bárbara do Sul, Tupanciretã, Pejuçara, Bagé, Lavras do Sul e Cachoeira do Sul.

 Através do programa diário “Visão Geral”, da Rádio Cultura de Bagé, o decreto do cancelamento do Carnaval de 2013 vem sendo bombardeado, inclusive com ataques pessoais ao Prefeito. O que parecia, de início, despeito do antigo radialista citado, tomando como questão pessoal o cancelamento das atividades carnavalescas oficiais, foi encampado por toda a Rádio Cultura, que insiste em realizar, além do Rainha do Carnaval do Estado, o Rainha do Carnaval de Bagé, que foi cancelado.

 Inclusive, datas já foram marcadas. O Rainha do Carnaval de Bagé será realizado pela Rádio Cultura no ginásio do clube Flamengo, dia 11, segunda-feira. O Rainha do Carnaval do Estado será no Clube Caixeiral, no dia 16.

 Afirmam os representantes da Rádio que não somente as entidades carnavalescas foram prejudicadas pelo cancelamento do Carnaval, mas, inclusive, o comércio varejista. A Rádio Cultura está fazendo rifas e recebendo doações para poder realizar o seu Carnaval.

 Para o povo muitas vezes desinformado por veículos que deveriam ser de informação a aparência dos fatos revela um confronto entre o radialista Muza e o prefeito Dudu. Isto seria verdade caso o radialista fosse um dos responsáveis diretos pela Rádio Cultura, o que não é verdade. Acima dele e de seus companheiros radialistas existe o diretor – jornalista Vacionir da Silva Lopes – que, com certeza, autoriza tudo o que é veiculado. No entanto, o diretor de qualquer veículo de informação é apenas o representante dos concessionários, dos quotistas, dos donos.

 Cabe ao diretor orientar os jornalistas dentro das idéias daqueles que exercem o verdadeiro poder de mando em uma rádio. Se não fosse assim, ele, o diretor, estaria completamente desabrigado em caso de polêmica ou, mesmo, de algo mais grave, como um processo. Quem dá as diretivas para qualquer veículo de comunicação são os seus donos.

 Os donos atuais da Rádio Cultura de Bagé são os senhores Odilo Dal Molin e Alencar Dal Molin, segundo o Memorial Landel de Moura – www.memoriallandeldemoura.com.br

 Os dois pertencem ao PMDB. Odilo Dal Molin já foi prefeito de Candiota e recentemente, em 2012, concorreu novamente à Prefeitura,  perdendo para a coligação PT/PSDB: Luiz Carlos Folador e Paulo Brum.

 Alencar Dal Molin candidatou-se a vereador nas eleições de 2012, em Bagé, pelo PMDB, e recebeu 520 votos, equivalentes a 0,76% dos votos válidos. Em sua declaração de bens (2012) revelou-se um dos dois quotistas da Rádio Cultura. É empresário, membro do Rotary Club e já foi presidente do G.E. Bagé.

 Alencar Dal Molin é o Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico de Dudu Colombo. Ganhou a secretaria por exigência, imposição ou acordo do PMDB com o Prefeito. Foram tantas as alianças feitas pelo PT para vencer as eleições que, depois, foi obrigado a premiar cada partido coligado. Para isso, aumentou o número de secretarias para vinte e duas. Por exemplo, a secretaria dada a Alencar Dal Molin chamava-se Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo. Foi desmembrada em duas. E a de Turismo foi para Jean Vieira.

 A nomeação de Alencar Dal Molin foi festejada pelos setores mais à direita e explicada pelo chefe do Executivo pelo fato de Alencar ser um empresário e ter fácil trânsito com outros empresários. Pois é justamente o Sindicato dos Lojistas (Sindilojas) um dos setores que está apoiando o “Carnaval do Muza”, como vem sendo apelidado o Carnaval que a Rádio que também é do secretário do Prefeito está promovendo para afrontar o Prefeito.

 O que acontecerá?

 1) No máximo, Dudu protestará através de outros secretários ou porta-vozes da sua indignação por estar sendo atacado pela Rádio Cultura, mas dificilmente fará algo mais. Deixará passar, como se nada tivesse acontecido, porque a sua autoridade está dividida, muito dividida, a ponto de quase ser um refém dos diversos partidos que o apoiaram nas eleições. Alencar Dal Molin poderá dizer que nada sabia, que é ‘coisa do Muza’ – e tudo se arranjará depois do Carnaval.

 2) Dudu tomará uma atitude mais forte, em respeito também ao povo que o elegeu e não somente aos donos dos partidos.

 O povo, em sua ingenuidade, sente-se resguardado ao eleger determinada pessoa para um cargo executivo. Não conhece os bastidores da política, as tramas, os conchavos. Não sabe que aquela pessoa não pode governar, impor um plano de governo, mesmo que tenha a maioria da Câmara de Vereadores, porque outros interesses estão por trás de tudo o que acontece na cidade – principalmente os interesses econômicos.

 A questão não é o Carnaval ou a falta de sensibilidade do pessoal da Rádio Cultura que, aliás, faz do seu programa “Visão Geral” um ataque diário a tudo o que consideram como “esquerda” – principalmente aos sábados.

 O que está acontecendo no Brasil de tantas alianças é a perda de referência dos partidos, que não mais oferecem programas ou metas de governo. Perderam a personalidade em troca do poder pelo poder, cedendo em todas as frentes e transformando o povo em carnavalesca máscara a ser usada quando é conveniente.

Um comentário:

  1. Esclarecedora postagem sobre a polêmica do carnaval de Bagé que foi cancelado por decreto municipal, mas desrespeitado por um grupo de pessoas com apoio explícito de meio de comunicação e outros segmentos. Vamos ver no que vai dar. Ótima análise.

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