sábado, 2 de março de 2013

A ESTOLA E O AVENTAL (5) – CONSPIRAÇÃO E RENÚNCIA



Em 28 de setembro de 1978, morria aos 65 anos João Paulo I, o italiano Albino Luciani, 33 dias depois de ser eleito Papa. Oficialmente morreu de infarto, mas o cadáver de um pontífice nunca é submetido a autópsia. Em 28 de fevereiro de 2013, outro Papa defensor da Igreja deixou o Vaticano. Desta vez, antecipou-se ao muito provável infarto, caso não se decidisse a renunciar. E mesmo após deixar de ser Papa, o cardeal Joseph Ratzinger ainda corre o perigo de um ‘mal súbito’ e por isso prefere a clausura – um lugar onde poderá, supostamente, ficar seguro daqueles que não se contentaram com a sua renúncia.

“(...) E oxalá que todos, julgando a árvore pelos seus frutos, soubessem reconhecer o germe e o princípio dos males que nos acabrunham, dos perigos que nos ameaçam! Lidamos com um inimigo astuto e fecundo em artifícios. Ele prima em fazer cócegas agradavelmente nos ouvidos dos príncipes e dos povos; tem sabido prender uns e outros pela doçura de suas máximas e pelo engodo das suas lisonjas.” (Leão XIII).

     Em Bagé, onde eu moro, e que já foi uma cidade católica, no dia 28 esperei o ressoar dos sinos – o que seria, no mínimo, um sinal de gratidão ao Papa que se afastava. Nada. Entrei em uma das igrejas e ali estavam duas ou três pessoas. Da mesma maneira no restante do mundo, com honrosas exceções. Desde o anúncio da renúncia de Bento XVI, as reações que houveram foram, senão de euforia, de indiferença. Aqui, temos um bispo distraído. Passa a impressão de que uma ordem secreta, emanada, talvez, do que seriam as catacumbas no início do Cristianismo, ou de lugares ainda mais estreitos em espírito, fez com que as pessoas, incluindo os pseudo-católicos, vissem a renúncia do Papa como um acontecimento “normal”, indigno de maiores manifestações.

     Não era um Papa carismático e agradável aos donos do mundo, como João Paulo II, Paulo VI ou João XXIII. Ao contrário. Parecia-se  muito com João Paulo I. Desejava uma Igreja forte, independente e realmente cristã. Liderava a resistência à impiedade representada pela infiltração maçônica em todos os setores da Igreja, e que ameaça destruí-la. Foi atacado de todas as maneiras e não só se defendeu como contra-atacou. Certa vez, falou: “Diria que uma Igreja que procura ser acima de tudo atrativa já está no caminho errado. Pois a Igreja não trabalha por si, não trabalha para aumentar seus próprios números, e assim o seu poder. A Igreja está a serviço de um Outro”.


     Não admitia a Igreja subserviente aos interesses políticos de governos corruptos. Em outra ocasião, deixou claro: “Um governo sem princípios morais não passa de uma quadrilha de malfeitores”. Bento XVI incomodava muito pela sua força moral, pelo seu conhecimento da religião e, principalmente, pelo discernimento que revelava ao combater o principal inimigo da Igreja. “Estamos nos dirigindo a uma ditadura do relativismo, que não reconhece nada como definitivo e tem seu mais alto valor no próprio ego e nos próprios desejos”.


A CONSPIRAÇÃO


Comenta-se que a conspiração começou em 2010 ou, mesmo, logo após a sua posse. Os maçons, dentro e fora da Cúria, teriam decidido que Bento XVI estava ficando inconveniente.


     Após inúmeras pressões para que o Papa desse continuidade ao “espírito” do Concílio Vaticano II – o que levaria à diluição e gradativa destruição da Igreja Católica, em um dos seus momentos de luta mais ferrenha Ratzinger desabafou: “Às vezes, o ar que respiramos em nossas sociedades não é saudável, está contaminado por uma mentalidade que não é cristã, porque está dominada por interesses econômicos, preocupada apenas com as coisas terrenas e privada de uma dimensão espiritual”.


    Em 2009, o Papa resolveu reabilitar o bispo britânico Richard Williamson, que nega a existência do Holocausto e, por essa razão, tinha sido excomungado por João Paulo II. Junto com Williamson, outros três bispos tiveram as suas excomunhões revogadas, mas Williamson é um caso à parte. Para os judeus e sócios, negar o Holocausto é um pecado grave e, como todos sabem, João Paulo II fazia do Judaísmo a sua segunda (ou primeira) religião. Além disso, Williamson afirma que os ataques ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, originaram-se dentro do governo dos Estados Unidos. Duplo pecado mortal.


    Williamson criou polêmica ao questionar a existência das câmaras de gás. “Se eu encontrar provas (do Holocausto) então retificarei o que disse” – mas considerou que o pedido de desculpas ainda poderia demorar muito, visto as provas ainda não terem sido encontradas. Assim, foi excomungado por João Paulo II, por delito grave de livre pensamento, e reabilitado por Bento XVI.


    Não tardaram as manifestações de repúdio. O teólogo suíço Hans Küng pediu a renúncia de Bento XVI, afirmando ao jornal “Franfurter Rudschau”: “É hora de substituí-lo”. Simples assim.


     Traçou-se um plano, como sói acontecer em todas as conspirações. Atacar o Papa diretamente daria motivo a sábias defesas e Ratzinger é exímio esgrimista com as palavras. O correto seria agredir, injuriar aqueles que estavam mais próximos ao Papa. O alvo principal: Tarcisio Pietro Evasio Bertone, 78 anos, cardeal Camerlengo e primeiro-ministro do Estado do Vaticano.


   Em abril de 2010, quando o cardeal Bertone declarou, baseado em informações de psiquiatras e psicólogos, que o homossexualismo estava ligado à pedofilia, a imprensa do mundo inteiro bradou que os homossexuais sentiam-se ofendidos com as declarações de Bertone. Seguiram-se discussões, informações e desinformações até o assunto se esgotar. No mesmo ano, em junho, Tarcisio Bertone era acusado de encobrir escândalos sexuais nos Estados Unidos durante os anos 1970 – o que foi negado, sendo que Bertone afirmou que a Congregação para a Defesa da Fé teria agido imediatamente.


     Seguiram-se meses de ataques à Igreja, como se ela fosse a culpada pela pedofilia no mundo e a única igreja ou associação a conter homossexuais e pedófilos. Observe-se, por exemplo, que a igreja Anglicana aceita padres declaradamente homossexuais, mas como é uma igreja dominada por maçons é muito protegida. Durante todo o período do seu pontificado Bento XVI interveio severamente quando de casos confirmados de pedofilia dentro da Igreja, o que não aconteceu durante João Paulo II e não é cabível que a imprensa estivesse tão cega antes de Bento XVI.


     Em fevereiro de 2012, o jornal “Il Fatto Quotidiano” anunciou a possibilidade de um complô contra a vida de Bento XVI. O arcebispo de Palermo, Paolo Romeo, ao visitar a China teria comunicado que o Papa seria assassinado dentro de 12 meses – até novembro de 2012. Angelo Scola, monsenhor de Milão, seria o sucessor e, além disso, o Papa viveria em constante conflito com Tarcisio Bertone.


    O mesmo jornal publicara, a 4 de fevereiro, acusações de corrupção no Vaticano, atribuídas ao núncio dos Estados Unidos, Carlos Maria Vignó. Por outro lado, Bertoni também era acusado de esconder as supostas verdadeiras revelações do Terceiro Segredo de Fátima.


     Atacava-se por todos os lados. O cerco começou a ficar sufocante mesmo para o corajoso Ratzinger quando, em maio de 2012, o jornalista Gianluigi Nuzzi publicou um livro – “Sua Santidade” - basicamente composto por documentos confidenciais do Vaticano e que tinha como principais alvos o cardeal Tarcisio Bertone e o monsenhor George Ganswein, secretário particular de Bento XVI – justamente a pessoa que tinha detectado o vazamento das informações.


     No livro aparecem todo o tipo de fofocas e intrigas no Vaticano, acusações de encobrimento de escândalos sexuais e os confrontos com a chanceler da Alemanha, Ângela Merkel, sobre aqueles que negam o Holocausto.


    O vazamento dos documentos foi apelidado de “Vatileaks” e se descobriu que um dos responsáveis era o mordomo do Papa, Paolo Gabriele, que admitiu a culpa, dizendo que fizera tudo sozinho para defender o Papa e a Igreja. Enquanto Gabriele estava preso e sob investigações novos documentos foram publicados, em primeira mão pela revista Panorama, do grupo Mondadori, propriedade de Silvio Berlusconi – maçom pertencente à Loja Propaganda Due.


     Os documentos também apontavam para Ettore Gotti Tedeschi, presidente do Banco do Vaticano (IOR), investigado por lavagem de dinheiro e por passar informações confidenciais a terceiros. Nas suas cartas a Bento XVI Tedeschi teria demonstrado temor de ser demitido por Bertone devido à sua política de transparência.


     Para acalmar os boatos que não se confirmaram, Tedeschi foi realmente demitido e chamado para ocupar o seu lugar o advogado alemão Ernst Von Freyberg, pessoa da confiança de Ratzinger – imediatamente acusado pela imprensa de ser ex-membro do quadro executivo do estaleiro Blohm+Voss, que fabrica navios de guerra.


     A estratégia da conspiração em andamento era caluniar e afastar os mais próximos ao Papa. Primeiro, foi cooptado o mordomo que servia a Bento XVI, para roubar documentos secretos do Vaticano. Esses documentos foram manipulados por aquele tipo de mídia para colocar sob suspeita a Tarcisio Bertone e George Ganswein, secretário particular do Papa. Ao mesmo tempo, colocava-se em atrito aberto o presidente do banco do Vaticano, Ettore Tedeschi com Tarcisio Bertone, que foi obrigado a demiti-lo.


   Daniel Estulin, um dos últimos jornalistas investigativos do mundo, autor de “A Verdadeira História do Clube Bilderberg”, uma espécie de anti-Dan Brown, em entrevista à televisão espanhola, declarou: “O Vaticano é o principal inimigo de algumas das principais sociedades secretas do mundo e a maçonaria está muito infiltrada no Vaticano. Nas últimas décadas, os postos importantes recaíram em mãos da maçonaria e Bento XVI era um rival muito incômodo”.


     Estulin não é o único a constatar o óbvio. O que não tem sido dito, no entanto, é que a maçonaria é a mãe do capitalismo, do consumismo e do suicídio espiritual. O principal objetivo dos lluminati, que usam a maçonaria, é o domínio do mundo e a imposição de uma nova ordem, com um governo mundial e uma religião que sirva a todos os gostos, travestida de ecumenismo. E para que isso aconteça, faz de tudo para destruir as grandes religiões: Islamismo e Cristianismo.


     Bento XVI, em sua última mensagem de ano novo disse claramente que a mentalidade egoísta e individualista é o resultado de um capitalismo financeiro descontrolado. Pediu um novo modelo econômico e regras éticas para o mercado, dizendo que a crise financeira global é prova de que o capitalismo não protege os mais fracos da sociedade. Condenou as desigualdades entre ricos e pobres e se referiu aos focos de tensão e confronto gerados por essas diferenças sociais. Acrescentou que a humanidade tem uma vocação inata pela paz e rezou pelo dom da paz, citando palavras de Jesus: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”.


     Ou seja, o Papa apontou diretamente a maçonaria e sua visão materialista como responsável pelo Mal que governa o mundo, provocando desigualdades e opressões. Depois disso, a 11 de fevereiro, anunciou a sua renúncia, consciente de que preservar a própria vida e tentar morrer de morte natural, fazendo parte da corrente de fé e orações que luta pela sanidade da vida espiritual, é mais coerente do que se expor a um acidente ou inesperada doença fatal.


    Deixou para o seu sucessor o resultado das investigações sobre o roubo dos documentos secretos do Vaticano, realizadas por três cardeais: Julián Herranz, 82 anos; Salvatore De Giorgi, 82 anos e Josef Tomko, 88 anos.


     Não incluiu nesse grupo Angelo Sodano, 85 anos, considerado por muitos como o líder da maçonaria eclesiástica no Vaticano. Sodano representaria o poder paralelo e oposto a Bento XVI. Devido à idade, não poderá votar no próximo conclave, mas deverá exercer forte influência sobre grande número de cardeais.


     Vários são os candidatos, mas uma corrente (dizem maçônica) está promovendo o cardeal de Gana Peter Kodwo Appiah Turkson. Correm por fora Angelo Scola, Tarcisio Bertone, Angelo Bagnasco, Gianfranco Ravasi, Mauro Piacenza e, inclusive, o brasileiro Odilo Scherer.


     Quem será o eleito e o que fará? Por seus frutos o conheceremos. Uma certeza fica do curto pontificado de Bento XVI: caíram as máscaras.

Um comentário:

  1. Completadas as informações sobre o que aconteceu nos bastidores da renúncia do Papa Bento XVI. Diabólico sistema que ultrapassa o limite do que se possa imaginar. Parabéns! Dever cumprido. Obrigada.

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