sábado, 18 de janeiro de 2014

DA REVOLUÇÃO AO ROLEZINHO




Achei estranho quando a Dilma se manifestou a favor dos rolezinhos em shoppings, porque estaria indo contra os seus principais aliados da burguesia e classe média alta, mas logo entendi que ela vislumbrou a possibilidade de atrair os votos da juventude esvoaçante da periferia, aqueles que passam dia e noite pensando em festas e que acreditam que ser jovem é um grande brinquedo, e só então me dei conta que dar um rolê nos shoppings não significa necessariamente protestar contra a sociedade de consumo que massifica e transforma as pessoas em produtos. Muito pelo contrário.

     Imaginem que, desde o ano passado, eu tinha uma idéia errada sobre a juventude que protesta, acreditando que realmente era composta por pessoas bem informadas e a favor de uma mudança radical no sistema e tal e coisa e coisa e tal. Qual o quê!

   Aos poucos, fui percebendo que sem os “Anonymous” e os “black blocs” - que todos ou quase todos sabem que são cobra mandada dos serviços de informação estrangeiros, atuando desde o Egito até a Síria, Irã, Rússia, Líbia, Venezuela, Bolívia, Equador, enfim, aqueles países que são ou eram, de alguma forma, contra o império – não haveria protestos, no máximo manifestações caóticas e com pedidos mínimos e pontuais, jamais abrangendo o fim da política ou dos políticos ou o fim do Estado para dar espaço aos boinas azuis da ONU. Ou coisa pior.

   E para este ano estão previstas novas manifestações, com direito a vandalismo, bombas de fabricação caseira e outras armas que o pessoal da CIA já deve estar preparando, porque o Brasil é um país estratégico e deve ser dos Estados Unidos não apenas através de tratados de boas intenções e trocas de bens e serviços, mas totalmente - acredita Obama e seus sequazes - e nada como atiçar os mais histéricos dentre os jovens, os que desejam muito correr e pular e gritar e são programados para atender a todos os apelos publicitários e palavras de ordem, principalmente se partirem daquele partido aliado que se finge de muito esquerda e promete um golpe blanquista para junho.

       Porque o blanquismo é arma utilizada pela direita. Louis Blanc pregava a tomada do poder político por uma minoria revolucionária, o que sempre foi contestado pelos marxistas que não acreditam em revolução sem a participação popular, e se até Luiz Carlos Prestes incorreu nesse pecado em 1935 – provocando uma grande reação da direita – não significa que deva ser repetido, e sua tentativa significaria apenas que há grupos de esquerda que agem infantilmente, provocando a direita a dar seus golpes oportunistas. Mais vale dizer que são grupos de direita travestidos de esquerda.  

       Protestar contra a Copa do Mundo em um país de extrema pobreza é legítimo; denunciar o barbarismo contra os favelados é uma obrigação; revelar os desmandos e a corrupção na política deve ser um compromisso dos mais engajados. Mas jamais se deve dar chance a que a extrema-direita aproveite um momento de caos para dar um golpe e provocar novo retrocesso.

       E o que tem a ver o pessoal dos rolezinhos com isso? Nada. Absolutamente nada. O pior é que nem infantis blanquistas eles são. Os rolezinhos são manifestações de jovens desesperados porque não podem consumir e que tem o capitalismo como um deus que deve ser cultuado diariamente. Assistem as propagandas de carros, computadores, relógios, roupas, tênis caríssimos que são expostos em lugares exclusivos para a classe média alta e ficam indignados, não pelas propagandas ou pelos produtos que são muito caros, mas porque eles - jovens que moram na periferia - não têm condições de comprar o que é anunciado.

      Não são comunistas, são consumistas que têm como grande objetivo na vida comprar produtos de marcas consagradas. Para isso e pensando somente nisso usam gírias, como “portar o kit” (se vestir bem), “tênis de mil” (gíria para as marcas Mizuno e Adidas), “lala” (gíria para a marca Lacoste), “onda gigante” (gíria para a marca Quiksilver), “setas” (gíria para a marca Ciclone), “pano loko” (roupas de marca) e não gostam de “barracudas” (meninas briguentas), “lókis” (bagunceiros) e “vermes” (policiais). Eles desejam muito as “novinhas” (garotas novas) e elas querem ficar famosas junto com os “garotos do momento” (quem fica famoso no perfil do Facebook ou pelas roupas que usa). Chamam de “parceiro” ao logista e muitos não renegam uma “farinha” (cocaína) ou “beck” (maconha).

       São amantes do rap e do funk, principalmente do Funk Ostentação, que fala de carros (chamados de “naves”), vida de luxo, dinheiro e mulheres, e onde é importante ostentar o “kit” (tênis, bermuda, camisa, anéis e colares, óculos escuros e boné). Adoram letras de música como a do rapper 50 Cent, que possui discos como “Power of the Dollar” (O Poder do Dólar) e “Get Rich or Die Tryin” (Fique Rico ou Morra Tentando). Os cantores são chamados de Mestres de Cerimônia, ou MC (deve ser pronunciado emici), os instrumentistas de DJs (deve ser pronunciado dijeis) e os dançarinos ou participantes tentam ao máximo falar inglês.

      Não se espere desses jovens qualquer rebeldia, exceto quando não podem comprar o que desejam. Não serão revolucionários, porque perderam, ainda na juventude, a capacidade de indagar e é muito provável que não gostem do ensino e detestem a leitura. Tentam apenas copiar a cultura burguesa que lhes é ditada pelos meios de comunicação e entregaram a sua força de vida ao capital.

       Ultimamente, resolveram se reunir nos shoppings para um rolezinho, provavelmente para ficarem mais perto dos produtos desejados. Combinaram os encontros através da internet e compareceram aos milhares. Foram repelidos, inclusive com bombas e balas de borracha. Em sua maioria, são negros ou mestiços e logo perceberam a discriminação e o racismo. Este é o país onde se diz cinicamente que há união entre as raças. Agora, esses jovens que querem ficar ricos ou morrer tentando possivelmente estejam aprendendo alguma coisa sobre a divisão de classes que não olha a cor da pele, mas o dinheiro. Provavelmente, tentarão novos protestos, ou voltarão para os bailes funk, muitos deles acreditando que em junho, data marcada para a rebelião, poderão quebrar e assaltar.

3 comentários:

  1. Excelente matéria! Não conhecia nem o termo rolezinho. Grata pelas informações e análise sobre o assunto.

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  2. Muito rico-o texto- de informações dos movimentos ora em efervescência no país.

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