segunda-feira, 30 de junho de 2014

A RÚSSIA É UM BLEFE?





Depois da crise que resultou na anexação da Criméia – que Putin jura de mãos postas que não desejava, mas respeitou a vontade do povo crimeano –, a sucessão de recuos russos ante a pressão ocidental, culminando com a retirada do seu exército das fronteiras com a Ucrânia e o pedido do dirigente russo para que a Duma (congresso russo) anulasse a autorização para intervir no país vizinho, entregando os insurgentes ucranianos à sua própria sorte e revelando, senão perfídia, uma timidez muito próxima da covardia, muitos se perguntam: a Rússia é um blefe? 

   Putin é um blefe. O sucessor de Bóris Yeltsin – o famoso bêbado do Kremlin que teve como missão destruir a União Soviética, junto com Mikhail Gorbachev – viu-se perdido ante um emaranhado de acordos com os Estados Unidos, OTAN e União Européia e quando a Ucrânia foi tomada pelos golpistas e dele se esperava uma atitude no mínimo firme preferiu encasular-se em concha, permitindo massacres e violação de direitos humanos dos fascistas ucranianos no sudeste daquele país e fingindo que não era com ele o assassinato contínuo e persistente de russos que vivem na Ucrânia. 

   Mostram os jornais virtuais russos – como Voz da Rússia, Diário da Rússia e Gazeta Russa – o formidável arsenal bélico daquele país, revelam as incessantes manobras de cansados soldados que não param de manobrar e somente manobrar dentro se seus limitados polígonos; anunciam armas de quarta a quinta geração, mísseis formidáveis e forças armadas com uniformes impecáveis. Ao mesmo tempo, queixam-se do cerco da OTAN em torno do território russo, protestam muito diplomaticamente contra a guerra civil na Ucrânia e desvelam um governo impotente e atemorizado ante as ameaças verbais dos líderes dos Estados Unidos e da União Européia e que nada mais deseja senão novos acordos comerciais e uma atividade econômica mais sólida para as empresas multinacionais sediadas na Rússia. Putin se revela como um gerente de empresas e não como um chefe de Estado preocupado com o seu território e com a sua nação. 

   Em 2018 a Rússia sediará a Copa do Mundo da FIFA e deverá, assim como o Brasil, em troca do turismo e da “maior visibilidade do país”, ceder em todos os pontos àquela entidade que ultrapassa fronteiras e desdenha de governos. Putin quer se reeleger e a classe média que o apóia, formada por oligarcas que defendem os seus interesses econômicos - assim como no Brasil onde o governo, que deveria ser dos trabalhadores, é protegido pelos sarneys, malufs, donos de empresas multinacionais e a burguesia nacional, que finge desejar a volta de retrógrada ditadura dos militares – além dos próprios militares, satisfeitos com a sua absurda ação contra favelados e haitianos e felizes por alguns cargos de chefia em missões de paz da ONU. 

   Também na Rússia o governo pretende a paz dos domados e satisfeitos e deseja acabar com todas as crises que possam abalar o seu prestígio de país grande ou de grande país, como um adolescente que cresceu desmesuradamente e não sabe onde colocar pernas e braços. Um país que perdeu a identidade desde que acabou a União Soviética e não sabe ainda o que deseja para o seu futuro, teme o presente e deseja mais parecer do que ser. 

   A seleção de futebol da Rússia reflete o seu país. Quando veio à Copa no Brasil, os jornais russos escreviam que desejava vencer o torneio, ou, ao menos, terminar em uma ótima colocação. Depois da primeira derrota, os mesmos jornais fizeram uma enquete que resultou com um número expressivo de cidadãos russos que acreditavam que a Rússia poderia vencer a Copa do Mundo. Estavam completamente fora da realidade, mas fazer o que com uma imprensa controlada pelo governo e que é tão ou mais ufanista que a imprensa brasileira? 

   Quando empataram a segunda partida da fase de classificação, os jornais virtuais russos destacaram que a Rússia se classificaria vencendo a Argélia. E mais: a receita seria chutar em gol seguidamente, porque alguém teria dito que o goleiro da Argélia enxergava mal. Perderam para a Argélia e foram desclassificados. O que escreveram aqueles jornais? Que a Rússia tinha sido considerada a seleção mais simpática do mundial e os uniformes da sua seleção foram eleitos como os mais bonitos e vistosos. 

   Um blefe atrás do outro, que revela a ausência de senso de realidade que impera naquele país. Talvez o povo russo acredite nesses blefes, assim como acredita que Putin, Medvedev, e outros menos cotados do seu governo, não têm medo da OTAN, claro que não, apenas efetuaram uma retirada estratégica, um movimento de recuo para se lançarem com mais força na hora que julgarem a mais adequada para agir. Enquanto isso, a Rússia vai perdendo em todos os pontos da política internacional e pouco falta para que considere a entrada para a União Européia uma boa opção. 

   E perde, também, a confiança de todos aqueles que a julgavam uma opção ao império. Mas espero estar errado.

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