terça-feira, 6 de março de 2012

A SOBERANIA A CABRESTO





Dilma foi a Hannover, esbravejando contra a guerra cambial e, depois de uma conversa com a Ângela Merkel, voltou dizendo que o Brasil vai emprestar dinheiro ao FMI para ajudar os coitados dos países europeus.

     E fazer lastro para o caso de uma não tão distante necessidade de apelar para o FMI. Afinal, o PIB está crescendo pouco, a inflação está mascarada e quando houver uma grande recessão atingirá todos os países globalizados economicamente. E o Brasil é um deles.

     A nossa economia cumpre o papel que, desde abril de 1964, lhe foi atribuída: a de celeiro mundial. É a economia do cabresto, também conhecida como economia de exportação.

   Plantamos para exportar, desmatamos para exportar. No tempo da ditadura fardada, o governo militar lançou um slogan: “Plante Que O Governo Garante”. E os mercadores formaram as suas empresas e se atiraram a desmatar, a expulsar indígenas das suas reservas, a devastar as florestas para aumentar os campos agricultáveis e a plantar, plantar, plantar de tudo, porque tudo o que plantassem era subsidiado pelo Governo.

     Foi a época do chamado “milagre econômico”, quando as ferrovias foram abandonadas e dezenas de estradas foram abertas para que os caminhões das recém instaladas multinacionais de veículos automotores pudessem transitar livremente para escoar a produção. Para eles – Europa, Estados Unidos, Canadá e demais países interessados. Quando perguntaram a um daqueles generais de plantão quando o dinheiro do “milagre” seria repartido com o povo brasileiro, respondeu que o Governo estava esperando o bolo crescer para repartir.

     Também foi a época em que milhares de pessoas foram expulsas do campo e aumentaram as favelas nas grandes e pequenas cidades brasileiras. E surgiram os movimentos dos sem terra e sem teto, sempre reprimidos pela atenta polícia dos fazendeiros e empresários, aliados do Governo.

     Os operários começaram a reivindicar aumentos, porque as grandes empresas, principalmente as metalúrgicas, estavam enriquecendo rapidamente. Formaram-se sindicatos; surgiram protestos e greves, líderes sindicais apareceram para pacificar os mais revoltados e fazer os necessários pactos com os empresários. Era o momento da “abertura política” – uma metáfora utilizada pela mídia para tentar convencer o povo de que eleições e presidentes civis fariam a grande diferença. Fez-se uma nova Constituição. Grandes discursos falaram em estado de direito. A classe média saiu às ruas, pensando que fazia História e, depois, voltou para assistir as novelas.

     E a política continuou a mesma. Um pouco pior, concordo, mas isso porque agora podemos ver quem rouba e quanto rouba. O Brasil continuou um país agrícola e exportador, os operários foram amansados, os líderes sindicais foram para o Governo pactuar com os empresários e latifundiários e foi dado um salário mensal aos mais pobres. A miséria aumentou e foi marginalizada pelas tropas de assalto e maquiada pela mídia amestrada.

     Importamos tudo do exterior, menos tecnologia. Este é um país que exporta insumos para importar produtos eletrônicos, carros e tudo o mais que for necessário. Também importamos necessidades desnecessárias que as empresas de marketing e propaganda impõem a um povo que prefere não mais raciocinar.

     Também exportamos petróleo, embora tenhamos entregado todas as empresas importantes para o capital estrangeiro. Os governos deste país adoram o capital estrangeiro e reverenciam o deus Mercado.

     Neste momento está sendo votado o novo Código Florestal, que permitirá às grandes empresas agropecuárias desmatarem o que resta das nossas florestas. Não que isso não esteja sendo feito desde o Brasil colônia, mas será tornado lei.

     Os ganhos são muitos para os empresários e latifundiários. Cortam as árvores, vendem a madeira, utilizam a terra para agricultura, usando sementes transgênicas que rendem mais grãos, mas esterilizam o solo e o transformam em deserto verde em poucos anos. Ou utilizam a terra desmatada para pecuária extensiva, porque do boi tudo se aproveita e tudo se vende, até os chifres legitimamente brasileiros.

     Já ia esquecendo: Dilma também disse, antes de ir para a Alemanha, que o Brasil é um país soberano. Pois é...

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