sexta-feira, 9 de março de 2012

A VIAGEM DE DIONÍSIA



Dionísia Rosa da Silva, 77 anos, brasileira. Ficou três dias presa em uma cela do aeroporto de Barajas, na Espanha. Foi deportada e voltou para o Brasil no dia 8 de março. Talvez tenha recebido flores pelo Dia Internacional da Mulher. O consulado do Brasil em Madri não fez nada por Dionísia, durante todo o período em que ela esteve presa e abandonada no aeroporto. A embaixada brasileira na Espanha não fez nada por Dionísia; o Itamaraty não fez nada por Dionísia. Dilma nem falou em Dionísia.

     Até agora, o que se sabe é que Dionísia passou fome, não teve acesso às suas malas e, por isso, não conseguiu tomar banho e sofreu maus tratos.

     “Tão ruim quanto à precariedade da cela foi o tratamento que ela recebeu no aeroporto de Barajas, em Madri. “Os outros só rindo. Rindo porque a gente tá preso. Eu dizia: ‘eu tenho que sair daqui, eu tenho que pegar minha neta’. E eles só riam”, diz.” (g1.globo.com).

     Mas Dionísia é apenas Dionísia da Silva. Não é ministra, não é secretária, não é senadora, não é deputada, não é governadora, não é prefeita, não é vereadora. Não é nem mesmo uma socialite deslumbrada. Dionísia não foi miss ou atleta conhecida. Dionísia é mais uma brasileira aposentada. Só.

     “Nos últimos dias eu vivi mal, fiquei chateada demais, só chorava, presa, comida ruim demais, cama de arame, sentava em uma bancada só de madeira. Cela mesmo. Cadeia”. (g1.globo.com).

     E o Governo brasileiro não fez nada a respeito. O grande crime de Dionísia foi desejar visitar a filha, que mora na Espanha, em situação irregular. Foi presa por isso. Depois foi deportada de volta. Passou três dias na cadeia. E o Governo brasileiro não fez nada, apenas constatou o fato.

     Pequena entrevista da Folha.com com Dionísia.

“Folha - Como foi a detenção?

”Dionísia Rosa da Silva - Eu cheguei com a minha neta e três malas. Tinha 70 euros e a passagem de volta. O policial me pediu para sair da fila. Falei: "Justo eu, com essa idade?".

“E o que aconteceu?

”Ele me disse: "Fica ali". Comecei a reclamar para minha neta, o policial viu eu falando e disse que ia me algemar. Falei pra ele: "Não vai fazer isso".

“Os policiais a maltrataram?

”Não. Mas fiquei presa na cadeia, naquela casa, com mais gente, sem ninguém... Uma cama ruim. A comida era meio em mutirão, sem sal... Eu emagreci.

“Tomou banho?

”Eles ficaram com a minha mala, fiquei só com a roupa do corpo até hoje. Banho, só sem sabonete.

“O que a sra. acha do que lhe fizeram?

”Uma cachorrada. Isso não é tratamento que se faça com a gente. Eu tinha ido ver meus netos, estava com a passagem de ida e volta [R$ 2.900 foi o preço da passagem dela e da filha, pago à vista, disse].

“A sra. passou mal lá?

”Meu nariz sangrou e tive dor nas costas. Me levaram para o médico, mediram minha pressão.

“A sra fala espanhol?

”Não.

“Como conseguiu conversar com os policiais?

”A gente entende, né... Dá uma de "joão sem braço".

“E como dormia lá?

”Tinha uns dormitórios, cada um com quatro beliches. Fiquei em um desses. Mas o colchão era velho, afundava.

“Pretende voltar à Espanha?

”Nunca mais. Vou ficar aqui até morrer.”

     E logo será esquecida até morrer.

     “O Itamaraty garante que, apesar da retenção por três dias no aeroporto, não houve maus tratos e que o governo espanhol estava apenas seguindo suas exigências de admissibilidade. "Mas é isso que pode acontecer quando se adotam regras sem flexibilidade. Essas injustiças acontecem. E poderão acontecer quando o Brasil passar a adotar a reciprocidade com a Espanha", comentou um diplomata.” (brasil247.com).

     E mais que isso o Itamaraty não fez. Reciprocidade? Vão prender alguma idosa espanhola na cadeia de algum aeroporto brasileiro? “Retenção” por três dias não é igual a maus tratos?

     Por falta de ideias, a ideologia do Governo é o feminismo. Todas as mulheres da Presidente estão sendo nomeadas para cargos especiais. Fica implícito que lá no Planalto presentear mulheres com cargos importantes é sinônimo de vanguardismo - mulheres fiéis ao Governo, mulheres que já tem algum status. Emoldurados quadros partidários.

     Não é um governo que se preocupe com mulheres comuns. As mulheres que a Dilma privilegia pertencem todas ao mesmo clube.

     Então, porque se preocupar com uma Dionísia da Silva qualquer? Logo será esquecida. Ela só queria viajar.

Um comentário:

  1. Triste e desoladora a história de Dionísia. Surpresa? Nenhuma. Pessoas com o perfil dessa idosa , simplesmente não existem. O sistema capitalista só resguarda e privilegia com suas benesses a classe social a que pertecem as mesmas, que certamente, como bem diz o blogueiro, se identificam.
    Lidia.

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