quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O SABIÁ E AS ELEIÇÕES



Está terminando o horário político, ou “horário de propaganda eleitoral gratuita”. Confesso que ainda não entendi a justiça do critério para a divisão desse horário entre os partidos. Observem que pela Lei Eleitoral Os candidatos a presidente dividem entre si seis minutos em cada dia, inclusive aos domingos.

     Um terço do tempo do horário eleitoral gratuito é dividido igualmente entre todos os candidatos e dois terços proporcionalmente às bancadas dos partidos no Congresso.

     Se tivermos três minutos de propaganda eleitoral gratuita entre três partidos dos quais dois deles tem representação igual no Congresso e o terceiro nenhuma representação, este, o sem representação terá pouco mais de 20 segundos para divulgar suas idéias e propósitos. Os outros dois, terão o restante do tempo.

     Não vejo nenhuma justiça nisso. Justiça haveria se todos os partidos pudessem veicular as suas ideias em igual espaço de tempo. O que acontece hoje no que chamam de “propaganda eleitoral gratuita” é o mesmo que, por exemplo, em uma partida entre Flamengo e Grêmio Prudente, o Flamengo já começasse a partida com dois gols de vantagem porque é o time com maior torcida.

     Daí, surgem as coligações. Quanto mais os partidos se unem, mais representação e mais tempo no rádio e na televisão. E com as coligações, vemos a diluição das propostas partidárias, o fim das ideologias.

     Geralmente, os partidos que se coligam o fazem com fins estritamente eleitoreiros, o que já demonstra a ausência de ideias e a única preocupação em eleger os seus candidatos, os quais, obviamente, apresentam-se apenas como representantes do nada ideológico que os ampara o que resulta em auto-propagandas ridículas de pessoas que se dizem capazes de “fazer e acontecer”, quando, na verdade, para fazer seja o que for elas dependerão totalmente dos acordos dentro dos partidos a que pertencem, entre os partidos de cada coligação e da vontade dos seus chefes partidários.

     Além do que, deverão obedecer aos interesses daqueles que patrocinaram as suas campanhas eleitorais, que não dão dinheiro de graça. Geralmente, os “patrocinadores” são grandes empresas que desejarão ver favorecidos os seus grandes interesses econômicos no Congresso. Assim, em última análise, o voto do povo não vai para o candidato ou partido de sua preferência, mas para os interesses daqueles que pagaram as campanhas dos candidatos e partidos nos quais o povo votou.

     Por isto, os partidos que representam um todo ideológico, uma determinada forma de pensar a política do país, e que, por isso mesmo, para não abrirem mão de sua ideologia não se coligam a outros partidos, que tenham formas de pensar diferentes ou opostas, não elegem os seus candidatos.

     Não porque o povo brasileiro seja ignorante, ou não saiba votar, como se propala, mas porque esses partidos não tem tempo suficiente para divulgarem as suas ideias e não aceitam dinheiro para comprarem mais tempo nos meios de comunicação.

     São os partidos que defendem o povo e nos quais o povo não vota porque mal os conhece ou os conhece mal, devido à contra-propaganda dos demais partidos que entram em coligações, aceitam todos os favores e alianças e quase obrigam o povo a votar neles devido à sua propaganda maciça e enganadora.

     Este é um tempo em que os partidos que dominam o Congresso, aliados às grandes empresas de comunicação, são os agentes principais da tentativa de despolitização e alienação do povo brasileiro.

     Quanto ao sabiá? Pois o sabiá voltou. Aqui perto da minha casa tem um matinho, além de várias árvores na frente de casa. Durante o ano inteiro cantam os bentevis de papo amarelo. Aquele cantar conhecido, mas nunca monótono: “ben-te-vi!” ben-te-vi!” – e eu quase respondo: “eu também te vi!” “eu também te vi!”. O ano inteiro, não interessa a época. É claro que tem outros pássaros, também: joão-de barro, tico-tico e outros que não lembro agora.

     Mas sabiá só no tempo quente. Porque, eu não sei. Passamos o inverno inteiro tentando ouvir sabiá, e nada! Mas agora, com a Primavera, ele voltou. Eu digo “ele”, porque é como se fosse um só, mas são vários, com trinados diferentes. Uma festa para o coração! Cantam primeiro que todos os pássaros, de manhã cedinho e, quando a tarde já vai indo, ouve-se de novo aquele belo cantar.

     Como tudo na natureza, são puros. Não querem ser mais do que os bentevis, nem os bentevis querem ser mais do que os sabiás. Em uma única árvore há lugar para todos, e cada um faz o seu ninho à sua maneira e vive a sua vida. A única tristeza, é que quando vem o tempo frio eles vão embora. Mas sempre temos a certeza de que voltarão na Primavera.

Um comentário:

  1. Muito bom o contraponto entre a natureza do ser racional e do irracional. Poderia ser diferente, mas a beleza da natureza, composta por seus seres irracionais dá um belo exemplo a ser seguido. Concordo que o sabiá, bentevis e outros pássaros fazem mexem nossas emoções com seus cantares.
    Lidia.

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