segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O VESTIDO DE DILMA E O FIM DA POBREZA


Dilma receberá a faixa de presidente vestindo branco. Não será um vestido vermelho, conforme todos pensavam. Branco é mais adequado. Vermelho, apenas nas veias, no coração, onde pulsa aquele imenso amor pelo povo brasileiro e a sua vontade indomável de contar com todo esse povo para, enfim, fazer uma revolução socialista no Brasil.

     É o que se entende nas entrelinhas das suas afirmações, quando ela diz que vai acabar com a pobreza no Brasil. Para que isso aconteça, será necessário mudar o regime político, de capitalista para socialista.

     Isto significa ampliar a participação popular em todos os setores da sociedade, acabar com os pequenos grupos de muito ricos, com as oligarquias regionais e nacionais, mudar de uma democracia meramente representativa para uma democracia participativa, quando o povo poderá não só eleger, mas ter o direito de votar pela anulação do mandato daqueles representantes que não cumprirem com as suas promessas de campanha.

     Dar saúde, educação e moradia para todos, gratuitamente. Mais que isso, fazer uma reforma radical na saúde e na educação.

     Na saúde, para que todos tenham atendimento digno e, se possível, domiciliar, quando necessário; na educação, para que todos não só aprendam a ler e a escrever, mas saibam raciocinar a respeito de suas próprias vidas e daquilo que desejam para si e para todos, em termos de dignidade humana.

     Mas, principalmente, e antes de tudo, fazer uma reforma agrária de fato, acabando com as terras improdutivas, com os grandes latifúndios e com a escravidão no campo.

     Ao invés do latifúndio, fazendas-modelo, com toda a aparelhagem para os agricultores, que trabalharão em comunidades agrícolas modernas, com escolas, redes de água e de esgoto, centros médicos e hospitalares, parques esportivos e acesso às tecnologias avançadas. Os que trabalharem na agricultura deverão plantar apenas produtos orgânicos, visando em primeiro lugar o mercado interno para depois exportar o excedente.

     Os pecuaristas terão todo o apoio de médicos-veterinários e tudo o mais que for necessário, para que seja aumentada a criação, com qualidade, e o povo possa ter acesso à carne quase a preço de custo.

     Acabar com a monocultura, que só destrói a terra; não usar mais produtos transgênicos, criar leis severas contra o desmatamento e priorizar a proteção à natureza, não construindo hidrelétricas que a destruam, mas procurando alternativas mais saudáveis e naturais, como a energia solar e eólica.

     E também uma reforma urbana. Transformar as vilas e favelas em pequenas cidades onde todos tenham moradia decente e saudável, com água e energia gratuitas, assim como escolas, ginásios esportivos, centros de teleconferência, cinemas, hospitais gratuitos e com médicos e enfermeiros bem pagos pelo Estado, para que possam atender a todos com respeito e equidade.

     Aumentar o número de transportes públicos confortáveis e baratos; diminuir o número de carros; melhorar as estradas, mas dar preferência à construção de ferrovias em todo o país, não só para o transporte de passageiros, mas para facilitar o escoamento da produção.

     Nacionalizar as fábricas, pequenas e grandes, para que o Estado realmente mande no país e não fique a serviço das multinacionais e para que todos tenham trabalho com salário digno. Aumentar a produção, com qualidade, para que todos tenham acesso aos produtos, gastando apenas o necessário para adquiri-los, sem ágio, e o excedente seja exportado e sirva como valor de troca.

     Acabar com a corrupção em todos os setores, a começar pelo governo. Acabar com especulações na Bolsa, ou melhor, acabar com a Bolsa. Não ficar dependente de outros países, porque temos no Brasil todas as condições para que possamos crescer em igualdade com os demais países, com o nosso povo sendo dono de seu próprio destino.

     Isso para começar.

     E traria dignidade ao povo. Aos poucos iríamos perder aquela sensação de cão sem dono, ou melhor, um cão com dono lá no norte da América, mas sempre cão.

     O povo poderia levantar a cabeça e pensar: “Eu tenho orgulho de ser brasileiro, não porque aqui tem o melhor carnaval do mundo, ou porque se joga muito bem o futebol, mas porque lutamos com bravura pela nossa independência econômica e pela liberdade social e política. Aqui ninguém passa fome, todos tem emprego com bons salários e podem prosperar”.

     Parece pouco? A nossa cultura ressurgiria, mesmo que aos poucos, e não seria mais essa cultura importada que nos despersonaliza. Finalmente, agiríamos como latino-americanos e não como imitadores da cultura norte-americana e européia.

     Porque, se Dilma realmente deseja acabar com a pobreza, não poderá fazê-lo em um país capitalista.

     Talvez ela não saiba e seja até bem intencionada, mas a pobreza não poderá acabar através de mesadas. Cria um mau hábito e o povo que recebe mesadas torna-se servilmente dependente do Estado e, aos poucos, desiste de lutar por si mesmo. Além do que, mesadas não acabam com a pobreza.

     Vou explicar para a presidente.

     Capitalismo é um sistema econômico em que os meios de produção e distribuição são de propriedade privada e com fins lucrativos; decisões sobre oferta, demanda, preço, distribuição e investimentos não são feitos pelo governo, os lucros são distribuídos para os proprietários que investem em empresas e os salários são pagos aos trabalhadores pelas empresas.

     Ou seja, no capitalismo o governo não manda, o povo muito menos. O capitalismo é gerador de pobreza, porque os capitalistas necessitam do trabalho assalariado para as suas empresas particulares. É a mão de obra barata que traz o lucro e as grandes fortunas. As grandes fortunas ficam com poucas famílias.

     A tendência lógica dos capitalistas é a de aumentar as suas fortunas ao mesmo tempo em que o povo se torna mais pobre. Aquilo que deveria ser do povo passa para poucas pessoas. Com o apoio do governo, porque no capitalismo o governo sempre é cúmplice dos capitalistas e inimigo do povo, a quem engana com promessas e migalhas.

     O capitalismo é irmão gêmeo da corrupção, da mentira e da vigarice. Traz consigo o pecado mortal do egoísmo. Arrasta as pessoas à degradação moral e física.

     O capitalismo não respeita nada, nem pessoas nem a natureza. Os capitalistas acreditam que são donos de tudo, donos do mundo, e que poderão devastar e matar, se julgarem necessário, desde que isso lhes traga mais lucros.

     Os capitalistas são promotores de guerras e de miséria. Necessitam das guerras para aumentar o número de países sob o seu domínio, aumentando o número de pessoas que consumam os seus produtos. E isso provoca miséria, porque para onde se expande a ganância capitalista formam-se oligarquias, pequenos grupos de pessoas muito ricas que dominam todo o comércio, industrialização e produção e milhões de pessoas empobrecidas que são exploradas na sua força de trabalho.

     Além disso, as guerras são necessárias para os capitalistas porque eles criaram um monstro chamado indústria bélica, que necessita vender armas e munições e está sempre se expandindo. E a guerra promove destruição, morte e miséria.

     O capitalismo destrói a moral e a dignidade das pessoas pobres e as faz acreditar que a pobreza é o seu destino, porque, apoiado por religiões cúmplices, principalmente no Ocidente, inventou um deus falso – que não é o verdadeiro Deus de amor – que provoca temor nas pessoas, incerteza sobre o seu futuro e as torna covardes a ponto de aceitarem o seu presente miserável como inevitável.

     O capitalismo não hesita em destruir a natureza, se isso lhe trouxer lucro.

     Desmatamento, monocultura, construção de hidrelétricas, destruição de povos nativos, destruição da fauna e da flora, plantação de transgênicos são alguns dos aspectos mais visíveis do capitalismo devastador no Brasil.

     O capitalismo é cínico. Fabrica toda a espécie de drogas “proibidas” e depois finge combater os traficantes quando, na verdade, o vício das pessoas é mais uma fonte de lucro capitalista. As drogas mais pesadas também servem para embotar, fechar a mente dos seus soldados, quando os capitalistas os jogam nas guerras que fabricam.

     O capitalismo provoca distorções mentais nas pessoas que são bombardeadas pela imprensa capitalista, o que faz com que todos pensem em termos de dinheiro, lucro e posse. Aprofunda a divisão de classes, provoca o ódio, a inveja, a ganância, o apodrecimento por dentro.

     O capitalismo é corruptor em todos os aspectos da vida. É sinônimo de morte. Primeiro mata por dentro; depois, destrói tudo ao seu redor. Os capitalistas não nascem maus e alguns até pensam que fazem o bem através de obras assistencialistas.

     Mas o sistema que eles inventaram e que lhes dá o prazer da conquista dos bens materiais, que os impele à volúpia do luxo, que os faz se considerarem exceção, seres superiores aos demais, os comeu por dentro. Tirou-lhes as emoções naturais, tornou-os egocêntricos e os faz agir com barbarismo e selvageria em relação a tudo e a todos.

     Se a presidente Dilma pretende de fato acabar com a pobreza no Brasil deverá, primeiro, acabar com o capitalismo no Brasil. Apenas programas de “inclusão social” e assistencialismo de nada adiantará.

     Promover a participação de todos os cidadãos é um dever do Estado, não um ato meritório. Está na Constituição. É claro que todos sabemos que a Constituição foi feita por e para pessoas que já detem o poder. Não se aplica aos pobres e desamparados. Um exemplo claro é o que está acontecendo nas favelas do Rio de Janeiro, neste momento: invasão de domicílios, fim do direito de ir e vir e outras atrocidades ilegais. Com o aval do governo, o beneplácito do Congresso e o silêncio da OAB.

     Nos países capitalistas, como o nosso, as leis são feitas para serem aplicadas apenas quando favorecerem interesses de Estado ou de oligarquias.

     O povo é considerado um corpo estranho que deve ser reprimido a todo custo – principalmente quando esse corpo estranho se manifesta, reivindicando os seus direitos. Ou o que pensa serem os seus direitos. E o povo é mantido na ignorância justamente para que não saiba quais são os seus direitos. Para que não ouse reivindicar, reclamar, ir às ruas. Quando isso acontece, o Estado usa os meios repressores: polícia, exército e o que tiver à mão.

     Outros meios repressores são a imprensa, a chamada grande mídia, que justifica sempre as ações ilegais do Estado,massificando as pessoas para que pensem sempre de acordo com o sistema imposto - e os partidos políticos.

     Os partidos políticos fazem o jogo do sistema ao fingirem que democracia é o mesmo que eleições. Agrupam as pessoas, dão-lhes lições de “comportamento cívico”, impedem que se manifestem espontaneamente, fazendo com que acreditem que a única manifestação deve ser através do voto, periodicamente e em silêncio.

     Em um país capitalista, apenas os partidos políticos de direita tem vez. Os de esquerda são amordaçados ou se acomodam dentro das estruturas do sistema. E obedecem à Direita.

     Assim, “inclusão social” é um apelido do que já está explícito na Constituição, em seu artigo 3º:

“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

"I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

"II - garantir o desenvolvimento nacional;

"III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

"IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

     Mas serve de propaganda para o partido do governo e seus aliados. Qualquer coisa que for feita no sentido do que já está explicitado nesse artigo como sendo um dever do Estado o povo pensará que é uma dádiva do governo.

     Se Dilma está sendo verdadeira ao dizer que vai acabar com a pobreza no Brasil, deverá liderar um grande movimento no sentido de transformar o Brasil em um país socialista.

     Caso contrário, estará iludindo a si e aos demais, e as suas intenções não são puras como a cor do vestido que provavelmente estará estreando em sua posse.

Um comentário:

  1. Como sempre, bem a propósito a matéria. Às vésperas da posse, as intenções de Dilma não enganam e nunca enganaram, se olharmos o que foram as eleições presidenciais. O que foi explanado sobre o Sistema Capitalista, rico em detalhes, foi altamente esclarecedor. Eu acredito que a grande maioria de nosso povo é altamente ignorante e alienado para sequer parar para pensar. Uma das piores culturas da América Latina, sem dúvida, é a do Brasil. Parabéns!
    Lidia.

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