quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O DIA DA PALHAÇADA


Nesta quarta-feira, o ancião Senado Federal deverá referendar o que a esperta Câmara Federal já tinha decidido na semana passada. O salário mínimo de 545 reais para os trabalhadores que conseguem ter carteira assinada, neste Brasil de todos os enganos e todas as perfídias.

     O ridículo é que justamente o PT – que tanto fingiu lutar pelas liberdades democráticas, quando estava apenas fazendo conchavos com os donos do país na época em que foi decidido que a farda seria trocada pela gravata – é o defensor do arrocho salarial, enquanto os partidos ditos de “direita” querem 15 reais a mais para os trabalhadores.

     Além disso, o mesmo Partido dos Trabalhadores que defende uma democracia que somente ele vê, e que deve estar relacionada com os ganhos pessoais dos seus membros e “aliados”, esse mesmo PT que tirou a máscara e mostrou a cara feia da ganância quer que o Congresso Nacional fique atrelado ao Executivo na questão salarial devido a um acordo que o Lula fez com as suas centrais sindicais em 2007.

     Centrais sindicais do governo, monitoradas e patrocinadas pelo governo, que não representam a maioria dos trabalhadores brasileiros e cuja única razão de existir é amordaçar os seus sindicalizados.

     A “direita” – pois não existe direita nem esquerda neste atual Congresso, que mais parece ser formado por robôs que não tem direito nem a usar a própria voz – esperneará durante muitas horas pelos quinze reais a mais, para, ao fim, dar-se por vencida.

     O governo, que se diz de “esquerda”, triturará mais uma vez os trabalhadores em sua máquina de fabricar passivos seres sonambulantes.

     E todos sairão felizes e de braços dados, depois da palhaçada.

     Este é o mesmo dia em que o Lula – o festejado “filho do Brasil” – estará sendo indiciado pelo Ministério Público Federal por mau uso do dinheiro público – e todos sabem que esse indiciamento, mesmo que seja transformado em processo, não dará em nada, porque neste Brasil os poderosos mandam e não pedem e jamais são condenados pelos seus crimes.

     Este é o mesmo Brasil em que gente como o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, manda morrer uma mulher que reclama de suas péssimas condições de vida e a discrimina por ser paraense – e também não acontecerá nada ao referido prefeito, porque ele também faz parte do grupo dos que tem mais e falam o que querem.

     O mesmo Brasil onde no mesmo Pará a presidente Dilma manda cavar um imenso buraco para servir de sepultura a grande parte da fauna e flora da Amazônia - e chama esse buraco de Belo Monte. Buraco que será coberto com água com cheiro de dólar, o perfume preferido dos habitantes do Palácio do Planalto.

     O Brasil inteiro grita contra esse desvario perverso – somente no Pará são mais de 250 associações contra Belo Monte, organizadas dentro do Movimento Xingu Vivo Para Sempre -, o Ministério Púbico entra com ações contra essa anomalia – mas nada acontecerá, porque os gritos do povo nunca são ouvidos e as ações que vem do povo somente são julgadas pelo Judiciário muito amigo do Executivo depois que o crime já foi cometido.

     Mas sobre isso o Congresso continua mudo, como se nada estivesse acontecendo.

     Uma mudez covarde, que diz bem dos que se consideram representantes do povo, mas sabem que representam apenas os seus interesses pessoais.

     E o Congresso Nacional insiste em existir. Seus membros ganham muito para fingirem que estão fazendo alguma coisa. O Congresso é como se fosse uma concessão do Executivo. Somente vota medidas provisórias – sempre as aprovando. O seu poder é um mistério a ser desvendado, talvez por gerações futuras, e os seus caquéticos membros brincam de conversar o dia inteiro.

     São muito bem pagos para usarem uma verborragia triste e irritante; para concordarem eternamente com um governo que só pensa em seus próprios negócios.

     Esta quarta-feira da primeira grande palhaçada do ano vai passar. Já está passando. Mas muitas palhaçadas ainda virão durante o ano – principalmente quando os congressistas resolverem falar ou quando fingirem agir.

     Ao fim do dia haverá futebol. No outro final de semana, carnaval, ocasião em que os congressistas trocarão de fantasia.

     Mas o povo continuará com a sua estereotipada e alugada fantasia de democracia – e drogando-se e bebendo para poder acreditar em suas vestes carnavalescas.

Um comentário:

  1. Sabe que me custa cada vez mais assistir uma sessão do congresso? Realmente é muito faz de conta pro meu gosto. Concordo que a palhaçada da votação do salário mínimo é um abuso moral-ético contra o povo brasileiro, com seus pilas a mais e que todos sabem não sustenta nem um ser humano, quanto mais uma família. Falou!
    Lidia.

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