Em uma entrevista recente concedida a um repórter de um dos jornais de Bagé, sobre a descoberta astronômica de uma nova constelação e suas conseqüências na Astrologia tive a triste surpresa de ver, no dia seguinte, a palavra astrologia trocada pela palavra astronomia – o que alterou completamente o sentido do que eu havia falado ao jovem repórter do Jornal Minuano.
Frases como “a mudança pode acarretar em uma crise de identidade em pessoas que se guiam pela astronomia”; “Ele também critica a astronomia. Segundo ele, essa ciência surgiu há cerca de 2,5 mil anos, baseada em uma concepção geocêntrica – em que a Terra seria o centro do universo” foram lidas por centenas de bajeenses.
Recebi muitos telefonemas a respeito e tive que explicar a todos que na verdade eu falara sobre Astrologia e onde era lida a palavra Astronomia, por favor, entendessem como Astrologia – acrescentando que eu não afirmara que a 2.500 anos a Terra era o centro do universo. Apenas tinha explicado ao repórter que a astrologia teria surgido cerca de 2.500 anos atrás, provavelmente na Caldéia, fruto do desconhecimento de que a Terra não é o centro do universo.
Esperei alguns dias, talvez demasiadamente, para que o jornal se retratasse, confiando que teriam se dado conta dos erros contidos na matéria. Nada aconteceu.
Então, mandei mensagens para a redação do referido jornal, explicando que por uma questão de ética e de respeito não só ao entrevistado como ao leitor, o Jornal Minuano deveria colocar algo assim como:
“Erramos: na matéria do dia 29/01, com o jornalista, poeta e numerólogo Fausto Brignol cometemos erros. Onde está escrito Astronomia deve ser entendido Astrologia e o entrevistado não quis dizer que a Terra era o centro do universo há 2.500 anos, mas que astrólogos daquela época assim entendiam.”
Nada mais digno. Todos nós erramos - e temos esse direito. Mas quando o erro é muito grave, como foi o caso, é importante que haja uma retificação, um ato de humildade (o que não significa humilhação). E como foi um erro cometido por um jornal, o esclarecimento torna-se importante e urgente para que mais pessoas também não incorram em erro ao ler a matéria.
Mas o jornal nem respondeu às minhas mensagens. Faz de conta que não aconteceu.
Então resolvi escrever este pequeno texto e acrescentar uma ou duas coisas a mais – além de desculpar o jornal pelos seus próprios erros ao redigir a matéria da entrevista.
Aprendi que em Jornalismo a leitura é essencial. O jornalista de verdade tem a obrigação de estar bem informado sobre tudo. Aliás, é a única profissão que, tratando diretamente com a informação, obriga o profissional a inteirar-se de absolutamente tudo o que se passa ao seu redor. Sob pena de ser um mau jornalista.
Para isso, é necessário ler. Não apenas jornais e revistas, mas tudo o que aparecer. Isso desenvolve o senso crítico e a capacidade de interpretação da realidade. É claro que é impossível ler tudo, mas sempre é possível ter-se uma visão geral do mundo que nos rodeia, não só em nossa cidade, mas no país e no mundo.
Em minha primeira aula do Curso de Comunicação – que, felizmente, fiz em Santa Maria – o professor de Introdução à Comunicação obrigou a turma a ler Marshall Macluhan. Ninguém conhecia e, ao ser inquirido pelos novos alunos, o professor respondeu algo assim como “leiam para conhecer”.
Leitura atrai leitura e gera conhecimento e cultura. A cada semana, um novo livro era dado para a turma ler. Ao final da semana, grupos se formavam para tentar explicar – a si mesmos e ao professor – o que haviam entendido da leitura semanal.
Lia-se de tudo. Desde livros técnicos sobre a ciência da Comunicação, até ficção latino-americana, passando pela literatura brasileira, européia e de onde mais surgisse. Mesmo os que não gostavam de ler se viram obrigados a isso, e, com o tempo, foram tomando gosto. Ler é uma questão de hábito, assim como tudo.
Dois anos depois, a turma se dividiu, e os que optaram por fazer Jornalismo, como eu, e não Relações Públicas ou Publicidade e Propaganda, viram-se na obrigação de não apenas ler tudo o que encontrassem e o que era indicado nas aulas, mas ler no mínimo dois jornais por dia - para fazer uma análise comparativa. Aprendia-se fazendo - e lendo o que os outros faziam.
É claro que existem muitas outras matérias no curso de Jornalismo, mas lembrei daqueles primeiros momentos, onde a leitura foi colocada como a base para uma boa formação cultural.
Porque é essencial que o jornalista saiba o que está fazendo. Por exemplo, se você, como jornalista, for entrevistar alguém sobre a nova descoberta astronômica de uma nova constelação a que foi dado o nome de Serpentário, e das conseqüências dessa descoberta na astrologia, deverá, primeiro, ler a respeito e inteirar-se do assunto antes da entrevista. Até para fazer as perguntas corretas e saber a diferença entre Astronomia e Astrologia. No mínimo. E, na hora de redigir a matéria, ter consciência do que está escrevendo.
Outro detalhe importante que nunca é demais lembrar: após a redação da matéria, o entrevistado deve ser contatado novamente, ocasião em que será lido o texto e dados os últimos retoques. Isso evita erros como os citados acima. E também por uma questão de ética profissional.
Coisas básicas, que alguns jornais esquecem, às vezes: a revisão e a copidescagem. Todo jornal deverá ter um revisor que, como o próprio nome diz, é aquele encarregado de evitar grosseiros erros de ortografia e gramática.
Eu sei que após a introdução da informática, alguns jornais eliminaram a figura do revisor. Mas não devem nunca esquecer o copy-desk. O copy-desk é aquele que vai analisar cada texto, observar a coerência do conteúdo e dar o tratamento final, para que o leitor possa ler e entender de maneira clara cada matéria.
Ainda (e quantos detalhes existem no jornalismo!), quando de uma entrevista, o entrevistador deve levar um gravador e não um caderno e caneta. Isso é básico.
Pode até não parecer para os mais jovens, mas jornalismo de verdade é coisa séria.
Fausto
ResponderExcluirParabéns pelo seu belo Blog, que coloca a disposição de toda a comunidade brasileira. Envolvendo assuntos atuias, de sociologia, astronomia e conhecimentos gerais. Quanto a astrologia, para mim não muda em nada, não acredito mesmo.
Abraços
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau
Suas poesias, poemas, são escritos pela alma e pelo sentimento.
ResponderExcluirMuito bom e lhe agradeço pelas belas mensagens que tenho recebido por e-mail
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau
Realmente jornalismo é coisa séria. Concordo plenamente, e fico preocupada com os jornalistas de hoje, pois para começar me apavora o fato de praticamente não lerem quase nada sobre o que os rodeia e sobre qualquer assunto relevante. Acho que falta curiosidade e amor à profissão. A matéria vem a calhar e dar o que pensar. Parabéns!
ResponderExcluirLidia.