Enquanto a direita dava um golpe na direita, lá no Egito, com o apoio dos Estados Unidos e das Forças Armadas do próprio Egito, e prepara-se para novos golpes via internet - porque a estratégia facebook, twiter e outras engenhocas deu certo para a classe média egípcia, que pensa estar fazendo uma revolução - Lula esteve no Fórum Social Mundial, em Dakar, Senegal.
Acostumado com Davos – aquele Fórum Econômico Mundial que se reúne na mesma época do Fórum Social – e sua linguagem restrita, onde os grupos dos muito ricos avisam para os governos do mundo inteiro como deve ser a política econômica durante o resto do ano, Lula meio que se confundiu: foi contra o aumento do salário mínimo no Brasil. Mesmo assim foi aplaudido.
Todos aplaudem Lula aonde quer que ele vá e diga lá o que diga. É um hábito, no mundo inteiro. O Lula aparece e as pessoas já se preparam para aplaudir. É como aqueles palhaços que quando surgem as pessoas já começam a rir antes que façam palhaçadas. Reflexo condicionado.
Lula exaltou o Fórum Social e criticou Davos – para onde irá, na semana que vem, receber ordens e orientações. Fez do Fórum Social Mundial um palanque e elogiou o próprio governo de oito anos. E o público aplaudindo. Chegou a dizer – pasmem! – “Nós ensinamos ao mundo como é que uma força de paz deve agir. É motivo de orgulho a quantidade de brasileiros que querem se inscrever para ir até o Haiti.”
E o público aplaudiu essa tolice gigantesca. No Haiti, o exército brasileiro está às ordens do exército dos Estados Unidos para o que der e vier. Como sempre esteve, desde 1945, ou pouco antes. Desconfia-se que o Fórum Social Mundial não seja o mesmo: cada vez menos social e menos mundial.
O ministro-chefe da secretaria geral da Presidência, Gilberto Carvalho, com todo esse título pomposo também esteve lá, provavelmente para fazer propaganda do seu governo. Envolveu-se em um debate – o que talvez não esperasse – e disse a seguinte pérola: “O governo do PT não é socialista, mas é de esquerda”. Uma confissão interessante.
Todos já sabiam que o governo do PT não é socialista, mas a afirmação de que é um governo de esquerda foi surpreendente. O ilustre ministro-chefe, etc., baseou a sua afirmação no fato de que o governo do PT segue, em parte, a Constituição, dando mesadas ao povo mais faminto. E considera que isso é ser de esquerda.
É claro que ele não citou Belo Monte e os continuados casos de corrupção em muitos setores do governo Lula (e no governo Dilma é uma questão de tempo, a continuar o mesmo ritmo).
Vou lembrar de alguns:
- Caso Celso Daniel. Assassinato do prefeito de Santo André, em 2002. Sete testemunhas morreram em circunstâncias misteriosas. A família pressionou as autoridades para que o caso da morte do prefeito fosse reaberto. Em 5 de Agosto de 2002 o Ministério Público de São Paulo solicitou a reabertura das investigações sobre o sequestro e assassinato do prefeito. Em Agosto de 2010 a promotora Eliana Vendramini, responsável pela investigação e denúncia que apura o assassinato do ex-prefeito Celso Daniel, sofreu um estranho acidente automobilístico em uma via expressa de São Paulo. O veículo blindado e conduzido pela promotora, capotou três vezes após ser repetidamente atingido por outro automóvel, que fugiu sem prestar socorro.
Há a hipótese de crime político. O irmão de Celso Daniel, João Francisco alega que Celso Daniel, quando era prefeito de Santo André, sabia e era conivente de um esquema de corrupção na prefeitura, que servia para desviar dinheiro para o Partido dos Trabalhadores. O suposto esquema de corrupção envolvia integrantes do governo municipal e empresários do setor de transportes e contava ainda com a participação de José Dirceu. Zé Dirceu foi inocentado recentemente, pouco antes de assumir um dos ministérios de Dilma.
- Caso José Eduardo Dutra. O senador José Eduardo Dutra foi acusado de envolvimento na violação do painel eletrônico do Senado no episódio da cassação de Luiz Estevão. A denúncia questionava o fato de Dutra ter afirmado que ouvira boatos sobre a violação. A partir de um parecer da Advocacia Geral do Senado, o conselho de ética do Senado decidiu arquivar a denúncia por falta de evidências. José Eduardo Dutra é o atual presidente do PT.
- Caso Benedita da Silva. Foi governadora do Rio de Janeiro. Deixou o Governo sob polêmica após usar recursos públicos em um evento religioso na Argentina. Devolveu o valor das diárias e das passagens após o caso ser divulgado pela imprensa.
- Escândalo dos Bingos. O escândalo dos bingos é o nome de uma crise que surgiu em Fevereiro de 2004, após denúncias de que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil José Dirceu, estava extorquindo empresários com a finalidade de arrecadar fundos para o Partido dos Trabalhadores. O escândalo veio à tona após a divulgação de uma gravação feita pelo empresário lotérico (bicheiro) Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira. A gravação mostra Cachoeira sendo supostamente extorquido por Waldomiro Diniz.
- Escândalo do Mensalão. Escândalo do mensalão, escândalo ocorrido em 2005 no governo Lula e que causou indiciamento no STF de 40 políticos, entre eles José Dirceu. Também conhecido como mensalão do PT.
- Escândalo dos fundos de pensão. O escândalo dos fundos de pensão foi um entre os muitos escândalos que eclodiram durante a crise do Mensalão, no governo brasileiro do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele veio à tona depois das denúncias feitas para uma Comissão Parlamentar de Inquérito, originalmente criada para investigar denúncias de irregularidades na estatal Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Nos primeiros depoimentos para esta CPI - que ficou conhecida como CPI dos Correios - foram feitas denúncias de que algumas instituições financeiras estariam recebendo investimentos de entidades privadas de previdência complementar (fundos de pensão) através de um esquema montado pelo empresário Marcos Valério.
- Escândalo da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa.
Francenildo é um caseiro que obteve notoriedade ao dizer publicamente ter visto o então Ministro da Fazenda Antonio Palocci freqüentar habitualmente uma determinada mansão em Brasília, coisa que o ministro negava com veemência perante a opinião pública e a imprensa.
No local, conforme narrou Francenildo, teriam ocorrido reuniões, churrascos e festas com a presença de garotas de programa, das quais participavam o ministro (que, segundo o caseiro, tinha o apelido de "Chefe") e os seus ex-assessores da prefeitura de Ribeirão Preto, com o suposto objetivo de se fecharem negócios considerados suspeitos e procederem à divisão do dinheiro relativo a tais negócios.
Aos depoimentos de Francenildo perante a imprensa e a Polícia Federal seguiram-se um polêmico indiciamento por lavagem de dinheiro (já arquivado), tido por certos analistas como meio velado de pressão do governo do PT sobre uma testemunha julgada perigosa, além da muito comentada quebra do sigilo bancário do caseiro, que divulgou para a Revista Época extratos bancários sigilosos nos quais constavam certos depósitos em dinheiro. Aventou-se que tais recursos poderiam ter sido pagos ao caseiro pela oposição ao governo federal, mas logo após foi esclarecido que o dinheiro vinha do pai biológico de Francenildo.
Os testemunhos de Francenildo e o envolvimento direto de Antonio Palocci e de seus assesores na quebra do sigilo bancário do caseiro foram a principal causa da demissão do mesmo, no dia 29 de Março de 2006. No episódio, também perdeu o cargo o então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, tido como co-responsável pela quebra do sigilo. Palocci foi inocentado e é um dos principais ministros de Dilma.
- Escândalo dos Sanguessugas.
O Escândalo dos Sanguessugas, também conhecido como máfia das ambulâncias, foi um escândalo de corrupção que estourou em 2006 devido à descoberta de uma quadrilha que tinha como objetivo desviar dinheiro para a compra de ambulâncias. Entre seus principais envolvidos estavam os ex-deputados Ronivon Santiago e Carlos Rodrigues.
O caso daria origem, no mesmo ano, ao escândalo do Dossiê, em que integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT) foram presos em flagrante pela Polícia Federal comprando, com 2 milhões em dinheiro vivo, um dossiê que revelaria a suposta participação de políticos do PSDB no esquema, entre eles o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, e o candidato à presidência da república Geraldo Alckmin.
- Escândalo do Dossiê.
O Escândalo do Dossiê ou Escândalo dos Aloprados, entre outros nomes, são as alcunhas pelas quais se chama a repercussão da prisão em flagrante, a 15 de setembro de 2006, de integrantes do PT acusados de comprar um falso dossiê, de Luiz Antônio Trevisan Vedoin, com fundos de origem desconhecida. O dossiê acusaria o candidato ao governo do estado de São Paulo pelo PSDB, José Serra, de ter relação com o escândalo das sanguessugas. O plano seria prejudicar Serra na disputa ao governo de São Paulo, para destruir em nível nacional o PSDB e ajudar o PT eleger o senador Aloizio Mercadante como governador naquele estado.
- Escândalo dos cartões corporativos.
O escândalo dos cartões corporativos foi uma crise política iniciada em 2008 após denúncias sobre gastos irregulares no uso de cartões corporativos. Os cartões foram instituídos em 2001 mas só entraram em funcionamento no ano seguinte para uma maior transparência e rapidez em gastos emergenciais. O problema do cartões corporativos é estrutural, pois o sistema que deveria ser usado para despesas pequenas e urgentes vem sendo usando para dispensar licitações e dar mimos aos governistas. Dos 150 cartões corporativos, o Portal Transparência, site oficial do Governo Federal, só divulgou os dados de 68 cartões.
- Operação Santa Teresa.
A Operação Santa Teresa da Polícia Federal foi deflagrada para desmontar um esquema de corrupção envolvendo a liberação de recursos do BNDES que pode ter beneficiado em torno de 200 prefeituras. Alguns presos na operação: Ricardo Tosto de Oliveira Carvalho, advogado, indicado pela Força Sindical para o conselho do BNDES. João Pedro de Moura, amigo do deputado Paulinho.
- CPI da ONGs.
A CPI das ONGs é o nome dado para investigações sobre repasses de dinheiro ocorridos no primeiro mandato do governo Lula (entre 2003 e 2006) para ONGs ligadas tanto ao governo federal como ao Partido dos Trabalhadores (PT), e à oposição.
Tem mais, mas cansei de dar exemplos de corrupção do PT e seus aliados. Também existiram muitos casos de corrupção nos outros partidos de direita, como DEM, PSDB, etc.
A direita é assim. Carente de ideologia, a não ser a ideologia do individualismo, atira-se ao dinheiro do povo como ratos ao queijo. E uma das características da direita é a corrupção desenfreada. Principalmente se tiver um Judiciário que garanta a impunidade.
E o senhor ministro-chefe diz que o PT é de esquerda. Conheço várias pessoas que, ingenuamente, pensam a mesma coisa. Talvez eles entendam esquerda como uma posição que não seja exatamente a extrema-direita. Como a extrema-direita é muito mais atuante no Brasil, através dos grandes canais de televisão e de programas como “Manhattan Connection”, entre outros, dá pra confundir.
Confunde ainda mais por não haver esquerda organizada no Brasil. Não se pode chamar de esquerda um PCB imobilizado que se alimenta de teses doutrinárias e ainda espera a revolução burguesa para depois, então, quem sabe, se as condições objetivas e subjetivas forem as apropriadas... É querer demais.
Tampouco pode ser apelidado de esquerda o PSOL, que apenas tomou o lugar que o PT deixou vago quando o PT ainda se pensava socialista e que se solidariza ao sistema ao legitimar as eleições. O PCO ainda é uma incógnita e o PSTU quer ser trotskista sem saber exatamente o que seja marxismo. Apóia o golpe de estado no Egito como se fosse uma revolução proletária.
Essa desorganização do que seria a esquerda no Brasil dá um grande espaço para que o PT se autoproclame de esquerda – e as pessoas acreditem. Principalmente pessoas que não tem nenhum conhecimento de política.
Na verdade, a função do PT no Brasil é a de acabar com a esquerda, e de acabar até com o trabalhismo, que é o seu principal adversário, porque o desmascara.
Se formos comparar, o governo João Goulart, que iniciou a reforma agrária, instituiu o método Paulo Freire na educação e as reformas de base – que abrangiam os setores educacional, fiscal, político e agrário – esteve anos-luz à frente do que hoje é o PT, com o seu falso humanismo social. E evoluiria naturalmente para o socialismo se não tivesse sido golpeado pelas Forças Armadas aliadas dos Estados Unidos, em 1964.
Os governos de direita pós-ditadura militar brecaram tudo isso, e principalmente o PT que, fingindo-se de socialista, aos poucos foi se aliando novamente às mesmas forças retrógradas que o trabalhismo sempre combateu.
O que foi golpeado em 1964 foi a força e a consciência do povo brasileiro em sua capacidade de transformação; foi o trabalhismo, o que ainda restava de nacionalismo no povo brasileiro e que os militares chamaram de “comunismo”. Foram os trabalhistas que foram presos, mortos, torturados e escorraçados do seu país.
Aquela gurizada da classe média que formou grupos de guerrilha tentando uma resistência armada a um governo totalmente militarizado e que se considerava comunista depois de ler um Politzer e um livro do Che e que, ainda mais tarde, formou o PT e uma Nova Esquerda que abjurava o socialismo, e que hoje está no poder nada teve a ver com o nacionalismo da época de João Goulart.
E hoje quer ser internacionalista sem conseguir, ao menos, ser socialista.
Aceitaram alegremente a globalização imposta por Bush & Cia. E hoje pensam que são de esquerda, quando, simplesmente, cumpriram a missão que a direita lhes tinha imposta: a de acabar com qualquer sintoma de nacionalismo no Brasil. A recompensa é o poder. Um poder compartilhado com as Forças Armadas, com as multinacionais, com o grande capital nacional e estrangeiro, mas poder.
E com o poder, eles podem fazer de tudo, incluindo o máximo de corrupção. E se dizem de esquerda.
Acreditei também por muitos anos que o PT seria um partido de esquerda. O tempo foi pródigo, mostrando a cara de um partido que não tem denominação. Ótima a matéria, contendo informações de corrupção, relembrando-as. Parabéns e obrigada!
ResponderExcluirLidia.
O PT, tentou ser um partido de esquerda, mas o Lula, nunca foi ao menos socialista e tendo este como líder, o partido tornou-se social democrata, e isto foi corroborado em recente pesquisa no congresso, em que os congressistas petistas em sua maioria não se identificam mais como socialistas.
ResponderExcluirOlá, me interesso sobre política e achei o texto interessante. Eu levanto um questionamento histórico sobre a esquerda, pensando: Quando um governo de esquerda assumiu o poder como o partido bolchevista ou na revolução cubana e os demais países envolvidos na esquerda socialista, houveram modelos de governabilidade ideais? Acredito que pensar a esquerda como um ideal de governo é um grande erro, e assim digo "o PT é um governo de esquerda", uma esquerda que possui modelos de corrupção como qualquer esquerda e mesmo como a direita. Já colocar a direita no poder seria um genocídio ao coletivo. Vejo o PT da mesma forma que todos os partidos esquerda, a diferença é que ele está no poder e percebo a esquerda como dos males o menor da política. Espero que em poucas linhas tenha conseguido expressar meu pensamento.
ResponderExcluirA diferença entre o socialismo e os governos que se dizem "de esquerda" é que no primeiro existem certas premissas básicas em busca da governabilidade ideal. Para entender-se isso é necessário alguma cultura política. A frase "dos males o menor" é típica dessa ausência de cultura. O PT deixou de ser socialista porque se aliou ao grande capital nacional e internacional, como diz o texto, e segue as premissas do capitalismo. Ora, se o capitalismo é contra a esquerda, logo o PT não é de esquerda, como quer fazer crer aos seus diletantes seguidores. O que facilita essa crença de que o PT é "de esquerda" é a ausência total de uma discussão teórica em um nível mais elevado. Não, necessariamente, um nível universitário, mas também não uma conversa de cafezinho, ou de cerveja. Conheço pessoas que pertencem ao PC do B que, supostamente, deveriam ter um mínimo de conhecimento sobre marxismo, que nada conhecem de Marx, Lênin ou quaisquer outros ideólogos da verdadeira esquerda socialista. E pertencem ao um partido que se diz comunista! Imaginem o pessoal do PT!
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
Equanto o povo disser amem nada muda.ENQUANTO o povo não reclamar,participar,ser poder...nada muda,enqunto o segundo ou terceiro mundo baixar sempre a cabeça para o primeiro mundo o colonialismo vai marchar sempre discreto e autoritário.ENQUANTO...
ResponderExcluirAcredito que visões diversas tornam um debate interessante, contanto que se possa perceber todos os angulos. Acredito que aprendi mais em conversas de bar do que em minha faculdade, o importate é que se tenha uma boa leitura antes da conversa de bar, respeitosamente convido os amigos e lerem este artigo: http://www.achegas.net/numero/dezessete/marcel_freitas_17.htm
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