terça-feira, 5 de abril de 2011

OS CAMINHOS DO BRASIL


A presidente Dilma disse, em cerimônia de condecoração a militares no Palácio do Planalto, que o “Brasil corrigiu os seus caminhos”. Acrescentou que as Forças Armadas são muito necessárias e afirmou que “as riquezas do pré-sal, descobertas nas profundezas do Atlântico, que impõem um estágio para as forças de defesa, a garantia efetiva da soberania nacional pela proteção das nossas fronteiras, tanto no oceano como também na Amazônia, se transformaram na prioridade da nossa estratégia de defesa” – segundo a agência Reuters. Na mesma ocasião, a presidente não quis dar entrevista aos jornalistas presentes.

     “Um país que conta, como o Brasil, com Forças Armadas caracterizadas pelo estrito apego as suas obrigações constitucionais é um país que corrigiu seus próprios caminhos e alcançou um elevado nível de maturidade institucional” – falou Dilma, satisfeita com a medalha que também tinha recebido dos militares, pelos inúmeros serviços prestados às Forças Armadas.

     Só não explicou o que significa “corrigir os seus caminhos”, no que se refere ao Brasil. Não explicou porque a imprensa foi proibida de ouvi-la. Percebe-se que ela não está a par do que realmente está acontecendo nas Forças Armadas, que defendem a ditadura militar que se instalou no Brasil em 1964. Ou sabe de tudo e concorda com tudo.

     Convém lembrar que no final de março os três clubes militares (Exército, Marinha e Aeronáutica) lançaram um manifesto comemorando os 47 anos do golpe de 1º de abril de 1964. Para eles - os militares - é como se a ditadura ainda não tivesse acabado. O que houve foi apenas uma retirada estratégica dos militares para os quartéis, deixando que os civis votassem, mas sob o controle das Forças Armadas.

     No mesmo manifesto dos clubes militares, eles dizem que “(...) os integrantes das Forças Armadas da época que, com sua pronta ação, impediram a tomada do poder e sua entrega a um regime ditatorial indesejado pela nação brasileira (...)”. E comemoraram isso.

     Talvez Dilma entenda – em harmonia com os militares das três armas – que corrigir os caminhos do Brasil signifique exatamente aquilo que está no manifesto. Que, na época, em 1964, os militares agiram bem quando tomaram o poder, porque o Brasil se encaminhava “para um regime ditatorial indesejado pela nação brasileira”. Ocorre que o Brasil que foi golpeado em 1964 tinha um governo constitucional e democrático desejado pela nação brasileira. Com o golpe de estado é que se instalou a ditadura.

     Todos, ou quase todos, sabem que o golpe militar de ’64 foi arquitetado por Washington, através da “Operação Brother Sam”, que previa, inclusive, a invasão do Brasil pelos Estados Unidos no caso de forte resistência do governo constitucional. Os militares brasileiros que acreditavam – e parece que ainda acreditam – que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, foram utilizados como marionetes. Instigar e produzir ditaduras na América Latina era parte da política internacional dos Estados Unidos, na época da “guerra fria”.

     Os militares golpistas eram treinados em bases dos Estados Unidos e passavam a acreditar que eram os donos dos seus países – pela simples razão de que tem o poder bélico e, por esta razão, podem tirar e fabricar governantes à vontade. Militares são ensinados a não pensar, somente obedecer. E os militares brasileiros não pensam e obedecem aos seus senhores da América do Norte.

     Com o fim da ditadura militar nos anos ’80, grande parte do povo brasileiro passou a acreditar que era, realmente, o fim da ditadura. Não se deram conta do acordo entre as elites civis e militares para que fosse mudada a aparência do sistema. O principal inimigo tinha sido vencido: o nacionalismo, representado pelo antigo PTB que tinha tentado fazer as reformas de base, a reforma agrária e uma modificação estrutural no sistema de ensino, através do método Paulo Freire.

     Após mais de vinte anos de ditadura militar podiam ser realizadas eleições tranquilamente. O presidente João Goulart, que estava no exílio, tinha sido morto em 1976; Brizola poderia ser controlado; os demais antigos próceres do PTB poderiam ser induzidos a participar da farsa e a sigla “PTB” foi entregue, por juristas amigos, exatamente para os inimigos do antigo PTB.

     Além disso, surgia uma nova geração que poderia ser manipulada facilmente pela mídia do sistema - conforme aconteceu - passando a adorar o deus Mercado e a aceitar as novas regras que a tornavam cúmplice ou alienada.

     O PT, que parecia, em seu início, ser um partido de esquerda, ao dividir-se em várias facções facilitou a tomada do poder, dentro do partido, pela facção mais numerosa, que se autodenomina “Articulação de Esquerda” e que, aos poucos, mostrou-se muito amiga do sistema – e Lula aparecia como um demagogo sem idéias ou ideologia que poderia ser manipulado à vontade.

     Tudo arquitetado, foi reiniciada a “democracia” sob um novo prisma. O PT cada vez mais de direita – contrabalançando a extrema direita dos demais partidos; o PDT de Brizola perdendo a força a cada eleição e cedendo em todos os pontos para continuar a subsistir e o povo elegendo, seguidamente, pessoas ligadas ao sistema, induzido pela mídia das grandes redes de televisão, que se transformavam no principal fator de sustentação do regime.

     Os militares, nas casernas, riam e os Estados Unidos mostrava-se satisfeito com o andamento da democracia brasileira. Tudo de acordo com os planos pré-traçados.

     Quando foi a vez do Lula assumir o poder, ele se declarou um “Lulinha paz e amor” e fez um governo voltado para as multinacionais, os latifundiários e os grandes empresários, sem nunca esquecer de pajear os militares. Dentro do PT, formava-se uma nova geração de desejosos do poder pelo poder que se aliava às antigas oligarquias, mas as suplantava em esperteza e capacidade de corrupção.

     O povo manipulado pela mídia, amordaçado pelos sindicatos aliados do governo e recebendo mesadas, aprendeu a discutir somente futebol e novelas, acreditando que estava sendo governado por um governo de esquerda sem saber o que é esquerda e aceitando passivamente o seu destino.

     E os militares, nas casernas, rindo.

     Quando o poder foi passado para Dilma, através daquela estranha máquina eletrônica que chamam de urna eleitoral, Lula já tinha feito um acordo militar com os Estados Unidos e o Brasil novamente transformava-se em vassalo e entregava a sua soberania às multinacionais do país aliado; entregava a sua dignidade à vontade do país aliado e fazia as vontades dos militares aliados do país aliado.

     Dilma apenas continuou a cumprir a agenda. Submissa e de cabeça baixa. Foi torturada durante a ditadura militar – segundo ela – e talvez saiba que não convém dizer não aos torturadores.

     No final de março, os militares das três armas lançaram aquele manifesto que elogia a ditadura militar e a considera ainda existente, porque é um manifesto que comemora os 47 anos do golpe – desde 1º de abril de 1964.

     Dilma nada fez a respeito. Ao contrário: condecorou vários militares e foi condecorada pelos militares - e disse que o Brasil, agora sim, está no rumo certo, e que deve dar o maior apoio às Forças Armadas, “para que cumpram a sua função constitucional”.

     Justamente as Forças Armadas que rasgaram a Constituição vigente naquele abril de 1964 e estarão dispostas a repetir o feito, caso alguém ou alguma coisa se interponha nos caminhos que elas estão ditando para o Brasil.

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