sexta-feira, 22 de abril de 2011

O JESUS QUE EU CONHEÇO



Não consigo ver Jesus naqueles filmes hollywoodianos, onde fazem dele uma pessoa plácida, extremamente passiva, com voz mansa, cabelos loiros, olhos azuis e aquele jeito domesticado que até desanima. Aquele é o Jesus criado nos Estados Unidos.

     O meu Jesus é, antes de tudo, uma pessoa forte, destemida, com mãos calosas de carpinteiro e um olhar magnético que atrai a todos e a todos acolhe. Mas sem pieguice, sem maneirismos. Simples, cabelos longos maltratados, barba mal cuidada, com o seu único manto e somente um par de sandálias, que o levam para todos os lados, pregando a revolução da fé.

     É uma pessoa extremamente sincera. Detesta a hipocrisia, a falsidade, os meio-termos, as mistificações, ou expressões como “quem sabe...”, “vamos ver...”, “talvez...”. Não suporta pessoas indecisas ou os que tem medo da vida. Certa vez, passando por uma aldeia, um jovem disse que gostaria de segui-lo. Ele respondeu: “Que bom! Larga tudo e vem comigo agora”. O jovem retrucou: “Agora não dá. Eu tenho muito que fazer ainda: negócios a terminar, me despedir dos parentes, organizar a viagem. Depois disso tudo eu te sigo”. Era um jovem rico, apegado às suas coisas. Jesus o deixou de lado e fez aquele célebre comentário de que seria mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que uma pessoa rica ganhar o reino dos céus.

     Aliás, volta e meia ele faz esse mesmo comentário, com outras palavras e para outras pessoas, porque acredita que a repetição leva à compreensão. A compreensão de que aos ricos somente interessa a riqueza, que é o seu único deus.

     Jesus não gosta dos ricos. Disse que a moeda é de César, mas nem por isso justificou a riqueza. César que ficasse com a sua moeda; ele e os seus seguidores tinham mais o que fazer do que ficar admirando e juntando moedas. Ninguém pode servir a dois senhores ou acabará traindo um deles. Ou serve ao Pai ou serve ao Príncipe deste mundo, que adora coisas materiais e incentiva as pessoas a fazer a mesma adoração. Mas esta também não foi uma maneira de justificar a pobreza. Ao contrário. Indigna-se com a exploração das pessoas mais humildes e chegou a dizer que os que tem fome e sede de justiça serão saciados.

     Mas desde que lutem para isso. Porque os famintos e os sedentos não podem ficar esperando que a solução dos seus problemas caiam do céu. Quando os apóstolos pediam a ele alguma coisa, ele respondia: “por que vocês não fazem isso?!” Era o mesmo que dizer – “por que estão sempre pedindo?” E os imprecava: “Homens de pouca fé!” E completava: “Se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão fazer o que quiserem, inclusive mudar uma montanha de lugar”.

     Da mesma maneira, hoje, e em todas as épocas, quando alguém pede para ele alguma coisa e fica esperando que essa coisa se realize sem nada fazer a respeito. Ele costuma repetir que aos inválidos e doentes ele ajuda. Inclusive aos inválidos e doentes de ânimo e de coração, mas espera dos sadios que tenham fé em sua própria capacidade.

     Ele veio pregar a fé. Mas não a crença cega. É claro que é ótimo e correto ter esperança e acreditarmos que seres espirituais nos ajudam; mas eles ajudarão mais ainda se acreditarmos no nosso interno secreto poder. O poder de transformarmos a realidade. E esse poder somente se revela através da fé que Jesus prega, da crença de que temos a capacidade de fazermos os mesmos milagres que ele faz.

     Por isso, ele mandou os seus seguidores, de dois em dois, por toda a Galiléia, para curarem os enfermos e ajudarem os necessitados a ajudarem a si mesmos. Não por qualquer magia secreta que tivesse ensinado, mas após despertar nos apóstolos a confiança – que é a verdadeira fé – de que poderiam fazer tudo aquilo que ele fazia. E depois eles voltaram exultantes, dizendo “Mestre, curamos enfermos, ajudamos as pessoas”. E ele sorria.

     Não um sorriso beatífico, mas o sorriso da certeza de que os seus ensinamentos estavam dando certo, que a semeadura encontrava terreno fértil. Talvez tenha sido esta a razão porque ele procurou os mais pobres e os mais humildes como seguidores – para horror dos muito ricos. Porque os humildes tem a capacidade e a presteza de aceitar novos ensinamentos, enquanto os ricos e aqueles que se pretendem sábios são o que Jesus chamou de sepulcros caiados: pessoas que se acreditam superiores às outras pessoas, porque adquiriram mais bens materiais. Estão mortos, mas não sabem disso.

     Jesus não é aquela coisa fraca que o cinema mostra. Ele detestava os fariseus, porque eram a classe dominante sobre os judeus daquela época e exploravam os demais judeus. Chamava-os de hipócritas e não tinha medo de destruir os seus falsos argumentos. Não hesitou em correr com chicotadas os vendedores que ficavam em volta do templo, assim como não hesita, hoje, em denunciar a hipocrisia que reina no mundo.

     Vocês não o vêem? Não ouvem as suas palavras? Não reconhecem os seus sinais?

     Talvez porque não observem bem. Ele continua ao lado dos mais fracos, dando-lhes fé para que prossigam na sua luta e acreditem na vitória final. Mesmo que o seu reino não seja deste mundo, ele se sente responsável com todos os que não desistem, apesar de sofrerem injustiças diariamente. Geração após geração, os hipócritas são desmascarados e os famintos e que tem sede de justiça são saciados, porque resolvem ter fé na sua própria força, e exigem a verdadeira justiça aqui na Terra.

     Ele está em todos os lugares, auxiliando e protegendo. E, principalmente, inculcando a verdadeira fé.

     Muitas vezes, o seu lado humano fraqueja, quando morre junto com os que são assassinados ou é humilhado ao lado dos que são humilhados ou tem as suas palavras mistificadas. É quando ele grita humanamente: “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice!”. Mas depois pondera, e o seu lado divino exclama: “Mas seja feita a tua e não a minha vontade”.

     O Jesus que eu conheço é assim. Transforma a água em vinho diariamente, para que a festa da nossa união perdure para sempre. Oferece o seu corpo em alimento, para provar que a morte é apenas um rito de passagem e se ele conseguiu vencê-la, porque não conseguiremos?

     Mas se faz duro quando necessário, quando sentimos pena de nós mesmos, quando quase perdemos a fé. É quando mostra as suas chagas.

     Certa vez, não faz muito, eu estava me queixando da vida, de alguns achaques, de pessoas que eu julgava que estavam sendo injustas comigo. Na verdade, eu desejava mimos.

     Ele me olhou nos olhos e me levou até a sacada de minha casa. Ali, ele me mostrou um homem que estava catando lixo na rua e me disse: “Vê? Lá vou eu em busca do sustento diário. Mesmo injustiçado por esta sociedade podre, continuo na luta, acreditando que vou conseguir transformar esta situação, e mesmo que morra e grite naquele momento único ‘Pai, porque me abandonaste?’, saberei que foi apenas um momento de fraqueza, porque o Pai e eu somos um e sempre poderei ressuscitar.”

     O Jesus que eu conheço é esse. Não somente o que dá pão aos famintos, mas principalmente o que ensina a plantar o trigo.

2 comentários:

  1. Excelente, muito bom mesmo!

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  2. Muito boa boa a matéria! Jesus! Penso tanto nele e como realmente teria sido. Parabéns!

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