quarta-feira, 14 de março de 2012

HARRY E A FRAGATA BRASILEIRA



O príncipe Harry esteve no Rio de Janeiro – o Brasil dos cartões postais – provocando uma grande comoção naquele povo que adora príncipes e princesas e famílias reais e tudo o que se relacione com nobreza, a tal ponto que dá a impressão que tem grande trauma desde que expulsou (ou nada fez contra a expulsão) Dom Pedro II. Cariocas, paulistas e mineiros não queriam exatamente uma república, mas o que fazer contra os generais que desejavam governar?

     Ainda teremos de volta a realeza com um sistema parlamentar de governo. Tudo indica. O sistema parlamentar evita golpes de estado e a realeza dá ao povo uma sensação de segurança, como se estivesse sendo protegido lá de cima, por pessoas escolhidas por Deus. Substituiremos Pelé por um rei de verdade e Xuxa por uma rainha que não será apenas dos baixinhos. Todos ficarão felizes. Haverá uma imprensa especializada para cobrir somente as atividades da família real. Imaginem manchetes como: “A PRINCESA SILVA BRAGANÇA MACHUCOU O JOELHO, MAS PASSA BEM”, “O REI LEVANTOU ÀS DEZ HORAS E DISSE QUE O POVO BRASILEIRO É MUITO BOM”, “A RAINHA DONA QUITÉRIA ACOMPANHA O BBB”. Coisas assim. E o povo comentando nas ruas:
     - Você sabia que dizem que o Príncipe Silva é gay?
     - Não diga!
    - Digo, mas vai casar para resguardar as aparências.
     - Ainda bem!

     Mas eu estava escrevendo sobre o príncipe Harry, aquele da Inglaterra, filho da ex-princesa Diana (e, por isso, temos tantas Daianas e Daianes por aqui). Esteve no Rio de Janeiro, a capital do petróleo, praticou alguns esportes à vista do embasbacado povo, foi até uma favela onde ouviu os tiros tradicionais, concedeu entrevistas aos repórteres ansiosos, deixou-se fotografar com pessoas muito felizes e foi embora.

     Foi uma visita pequena. Enquanto isso, o seu irmão, William, estava nas Malvinas. Com uniforme de conquistador, segundo Cristina Kirchner, que não se deixa dominar tão facilmente como Dilma Silva Roussef. As Malvinas são argentinas, todos sabem. Mas os ingleses e seus amigos insistem que são inglesas e as chamam de Falklands. Na região das Malvinas tem petróleo, muito petróleo, e os ingleses não estão ali, com navios de todo tipo e soldados apenas para garantir a conquista de rochedos. Além do petróleo é uma região estratégica, pertinho da Patagônia e a um passo da Antártica, onde existem tantos minerais cobiçados pelos bem armados ingleses e aliados.

     Quando da Guerra das Malvinas, em 1982, a Inglaterra obteve o apoio da ONU e do seu exército, a OTAN, através dos Estados Unidos. Foram usadas as armas mais poderosas da época, assim como os mísseis Stinger e Exocet, além de submarinos nucleares, navios de guerra e porta-aviões – ingleses e estadunidenses – contra uma obsoleta frota de guerra argentina. O principal crime de guerra dos ingleses foi o afundamento do General Belgrano, navio com marinheiros recrutas que estava fora da área de exclusão marítima. 323 soldados morreram, na ocasião - a metade dos mortos argentinos durante a guerra, que durou pouco mais de dois meses.

     Harry estava no Brasil, brincando de promover as Olimpíadas de Londres, William está nas Malvinas, tentando promover a raiva dos argentinos e o Brasil... O Brasil estava e está no Mediterrâneo. O Brasil está onde está a sua bandeira e temos uma fragata brasileira no Mediterrâneo, pertinho do Líbano, liderando uma missão de paz da ONU. Desde novembro de 2011. O custo dessa brincadeira está estimado em cerca de R$130 milhões.

     A fragata União (F-45) está equipada para guerra. Ficará oito meses em águas internacionais, com cerca de 300 militares a bordo. Sua missão é liderar uma frota composta por embarcações da Alemanha, Grécia, Turquia, Indonésia e Bangladesh. O objetivo é patrulhar as águas libanesas, participando da UNIFIL-FTM (Força Interina das Nações Unidas no Líbano – Força Tarefa Marítima).

     Essa Força Tarefa substitui, desde outubro de 2006, o bloqueio naval imposto por Israel ao Líbano. No dia 25, assume o comando da UNIFIL o contra-almirante Wagner Lopes de Moraes Zamith. Em abril, parte a fragata Liberal, com 270 homens a bordo.

     O Líbano é um pequeno país do Oriente Médio que faz fronteira com Jordânia, Iraque, Síria e Israel. É a terra dos antigos fenícios. Quanto aos países fronteiriços do Líbano, a Jordânia é um país aliado do ocidente, O Iraque é um país dominado, a Síria é um país em guerra civil e Israel é a cabeça de ponte dos Estados Unidos e da Europa na região.

     O Líbano já foi alvo de invasão dos Estados Unidos e de Israel e, desde 2007, é governado pelo general Michel Suleiman, amigo dos antigos e novos invasores. No entanto, o povo libanês, através do satanizado Hezbollah, não aceita essa situação de país colonizado e vez por outra reage. Mesmo cercado, resta a via marítima para receber socorro. E agora o Brasil apóia o cerco ao Líbano, através de suas fragatas liderando uma força tarefa da ONU.

     A desculpa encontrada pelo Governo Dilma para essa absurda “missão de paz” é provar que o Brasil é um bom aliado, pau pra toda obra, que, em troca dos bons serviços prestados poderá receber uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.

     Para isso já conta com o apoio explícito de David Cameron, primeiro-ministro da Inglaterra. E, se conta com o apoio da Inglaterra, o apoio dos Estados Unidos está implícito. Os dois países são irmãos gêmeos. O Brasil de Dilma & Cia. pretende ser o irmão mais moço.

     E cada vez mais o Brasil se ‘desplega’, se afasta dos demais países latino-americanos – que já consideram o Brasil um país imperialista - e se aproxima dos Estados Unidos e da Europa. Cada vez mais se mostra servil e dócil aos interesses daqueles que mandam através das armas.

Um comentário:

  1. Excelente matéria sobre a visita da realeza inglesa ao nosso país. As informações e críticas do blogueiro vem a calhar. Pelo menos, para desenformados como eu. Obrigada.
    Lidia.

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