terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O IMPÉRIO QUER MATAR JULIAN ASSANGE



Julian Assange será assassinado.

     Mesmo com liberdade sob fiança, depois de ser acusado e condenado por um "bárbaro crime sexual" contra o sistema pelas duas meninas suecas, aquelas que não gostam de transar sem usar camisinha, Julian Assange, criador do Wikileaks, teme ser assassinado se for extraditado para os Estados Unidos.

     Jonah Goldberg, colaborador da National Review, pede na sua coluna publicada numa rede de jornais: “Por que Assange não foi estrangulado no seu quarto de hotel anos atrás?” Sarah Palin quer que seja perseguido e trazido à justiça, dizendo: “Ele é um anti-americano com sangue nas suas mãos”.

     O sangue nas mãos deve ser o sangue que o império derrama diariamente nas suas guerras coloniais mundo afora e que Assange denunciou e desmascarou através do Wikileaks.

     Não foi pouca coisa. Os arquivos mais recentes do Wikileaks contem cerca de 261 milhões de palavras, que revelam o que é o império estadunidense por dentro. Palavras baseadas em documentos devidamente fotocopiados nas embaixadas dos Estados Unidos no mundo inteiro.

     Alexander Cockburn revela que “Na CNN, Wolf Blitzer estava quase raivoso com o fato de o governo dos EUA ter fracassado em manter todas estas coisas secretas em relação a si… Então – como bom jornalista que é – Blitzer pedia garantias de que o governo havia tomado as medidas necessárias para impedir a ele, à generalidade da mídia e aos cidadãos de descobrirem quaisquer outros segredos: ‘Será que já sabemos se eles repararam aquilo? Por outras palavras, alguém neste exato momento que tenha uma licença (clearance) top secret ou secret security já não pode mais descarregar informação para dentro de um CD ou uma pen drive? Será que isso já foi reparado?’ A preocupação central de Blitzer – um dos ‘jornalistas’ mais homenageados do país – é assegurar que ninguém saiba o que o governo dos EUA está a tramar”.

     Isso revela que o jornalismo norte-americano – assim como o jornalismo brasileiro – está de mãos dadas com o império e só revela aquilo que lhe é permitido revelar. As grandes agências de notícia, que distribuem as informações para os canais informativos são, na verdade, grandes agências de censura. Somente é divulgado aquilo que interessa ao sistema.

     O jornalismo não é mais quarto poder, ou poder algum. Os jornalistas foram absorvidos pelo verdadeiro poder. E são manipulados à vontade. Não existe mais “furo de reportagem” ou jornalismo investigativo. Todos os canais estão padronizados. Se surgir alguma matéria que se auto-intitula “investigativa” ou “em primeira mão”, desconfie.

     E o que o Wikileaks fez (faz?) foi justamente o contrário. Revelou as sujeiras, não só dos Estados Unidos como de países aparentemente ‘inocentes’, como Suécia e Suíça. As embaixadas dos EUA mantêm um olhar vigilante sobre os seus hospedeiros. Elas penetraram a mídia, os negócios, o petróleo, a inteligência e fazem lobby para por companhias estadunidenses em primeiro plano.

     E até no Brasil. Aqui, ficamos sabendo que o homem dos Estados Unidos no governo é Nelson Jobim. Não foi grande novidade, mas houve a comprovação.

     Muita coisa ainda está por ser revelada, mas transpirou que aquelas greves recentes dos controladores de vôo nada mais são que uma preparação para a futura privatização da Infraero. Este é um país capitalista, que está sendo entregue aos poucos aos donos do maior capital.

     E o império é o império. Todos devem obedecer a ele, sob pena de serem assassinados. É claro que antes do assassinato real sempre há uma farsa, como foi o caso da prisão de Julian Assange. Acharam-se duas pessoas confiáveis para depor contra Assange por “crime sexual” (não usar camisinha em uma relação sexual). Uma das acusadoras, Anna Ardin, segundo conta Israel Shamir “tem ligações com grupos anti-Castro e anti-comunistas financiados pelos EUA. Ela publicou diatribes anti-Castro na publicação sueca Revista de Asignaturas Cubanas publicada por Misceláneas de Cuba… Note-se que Ardin foi deportada de Cuba por atividades subversivas”. Muito amiga dos Estados Unidos.

     O mesmo Shamir informa que “No momento em que Julian pediu a proteção da lei sueca sobre a mídia, a CIA imediatamente ameaçou acabar a partilha de inteligência com o SEPO, o Serviço Secreto Sueco”.

     Assange foi preso na Inglaterra, onde tentou asilo político, condenado por aqueles “crimes” na Suécia e solto sob fiança. Agora teme ser deportado para os Estados Unidos, porque acredita que em uma prisão estadunidense poderá ser morto. Alguém duvida?

     Mas Assange poderá ser morto em qualquer lugar. Não será necessário estar nos Estados Unidos. O império não perdoa aqueles que revelam os seus segredos sujos.

     Entre tantas revelações, o Wikileaks denunciou que a embaixada em Teerã servia como base regional da CIA, mantinha registros envolvendo operações secretas em muitos países, nomeadamente Israel, União Soviética, Turquia, Paquistão, Arábia Saudita, Kuwait, Iraque e Afeganistão.

     Ainda segundo Cockburn, a partir de 1982, os iranianos publicaram uns 60 volumes destes relatórios da CIA e de outros documentos do arquivo de Teerã do governo dos EUA, intitulados coletivamente Documentos do Covil da Espionagem Americana (Documents From the US Espionage Den). Como escreveu anos atrás Edward Jay Epstein, historiador de agências de inteligência dos EUA: “Sem dúvida, estes arquivos capturados representam a mais vasta perda de dados secretos que alguma super-potência sofreu desde o fim da Segunda Guerra Mundial”.

     O arquivo de Teerã foi um golpe realmente devastador para a segurança nacional dos EUA. Ele continha retratos realistas de operações e técnicas de inteligência, a cumplicidade de jornalistas dos EUA com agências do governo americano, os meandros da diplomacia do petróleo.

     E muito mais. O Wikileaks tem revelado as infiltrações do serviço secreto dos Estados Unidos nas embaixadas de todos os países... E o que resultou disso.

     O império quer vingança. Não basta prender Assange, não basta condenar Assange. O império necessita de sangue todos os dias, e o seu deus, o deus dos exércitos, exige que todos os inimigos sejam mortos. A começar por Assange.

     Há várias maneiras de matar.

     Em 1953 a CIA distribuiu aos seus agentes um manual de treinamento para assassinar (tornado público em 1997) cheio de conselhos práticos. Um deles:

     “O acidente mais eficiente, no assassínio simples, é uma queda de 75 pés [23 metros] ou mais sobre uma superfície dura. Poços de elevador, porões de escada, janelas abertas e pontes servirão… O ato pode ser executado repentinamente por [indivíduos] com tornozelos vigorosos, inclinando o sujeito sobre a borda. Se o assassínio provocar um alvoroço imediato, desempenhar o papel da ‘testemunha horrorizada’, não é preciso qualquer álibi ou retirada discreta”.

     Na Internet, luta-se pela libertação de Assange, através de uma petição. Outras ações surgirão. Ainda não é inevitável o assassinato de Assange. Mas se Julian Assange for assassinado, todos saberemos quem foi o autor.

Um comentário:

  1. Na verdade, as informações sobre o famoso Wikileaks chegaram até mim através deste Blog. O que agradeço muito, pois estou um pouco desconectada com a imprensa oficial. Parabéns pela matéria!
    Lidia.

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