sábado, 1 de janeiro de 2011

ELA


Ela abraçou fortemente Hillary Clinton. Com alegria, como se apenas esperasse aquele momento para desenrugar a testa e mostrar-se efusiva, cordial, quase beijando as mãos da visitante.

     Para o Chávez ela apontou o dedo, como uma mãe dizendo para o filho: “Não comece a fazer bobagens! Eu estou observando você!”.

     Foi uma conversa de mais de dois minutos, com a Clinton. Expansiva, ela deve ter dito que não se preocupassem lá no norte da América, que ela controlaria o Sul. Estariam ombro a ombro nos mesmos sonhos e na mesma luta. O Lula tinha feito algumas bobagens, como aquele encontro com o presidente do Irã, mas com ela seria diferente... Hillary que ficasse tranquila.

     Cerca de uma hora antes, quando tomou posse na Câmara, ela leu o seu programa de governo assustando alguns quando disse que faria uma poupança a longo prazo com o dinheiro do pré-sal... Mas alegrou outros ao afirmar que o Rio de Janeiro é a cidade preferida do governo.

     Ameaçou, ao dizer que a experiência militar nas favelas do Rio tinha dado certo e que seria estendida aos outros estados.

     Os 80% de brasileiros que vivem de expedientes tremeram. Nesta terra, quem não paga um bom imposto pode ser considerado bandido e o Jobim anda com o dedo no gatilho. É uma tradição dos governos fascistas se armarem contra a população, embora ela tenha dito que fará tudo pelos fracos e oprimidos.

     Disse que vai colocar as tropas nas fronteiras, para combater o “narcotráfico e o terrorismo”. Um aviso para as FARCs, que são consideradas terroristas e narcotraficantes pela mídia oficial brasileira, conforme as recomendações de Washington.

     Vai ficar assim: o governo estadunidense-colombiano de um lado e o governo supostamente brasileiro do outro. No meio, a Venezuela, a Bolívia e o Equador, além dos movimentos armados da Colômbia.

     No mais, nada de mais. Continuará com a política de terra arrasada, plantando cana de açúcar para fabricar etanol e expandir a monocultura que tira o sangue da terra. Os latifundiários adoraram. Obviamente, o desmatamento continuará, mas a imprensa dela dirá que é pouca coisa. 

     Deu a entender que vai construir as malfadadas hidrelétricas – Belo Monte, no Pará, e mais duas em Rondônia – que fizeram Marina Silva demitir-se do governo Lula. E ainda acrescentou que a política desinvolvimentista dela não agredirá o ecossistema. Conversa para nordestino dormir.

     Sobre reforma agrária, nada. Nem uma palavra. Nem a palavra “INCRA” foi pronunciada. Tampouco reforma urbana. Reforma alguma. Disse que vai continuar o que o governo Lula estava fazendo.

     Péssimo sinal. O governo Lula nada estava fazendo que não coincidisse com os interesses das multinacionais, dos grandes banqueiros e dos amigos do poder.

     Abraçou a Hillary Clinton com muito amor.

Um comentário:

  1. Também assisti à posse da Dilma, e cheguei a visualizar Lula há oito anos atrás na mesma situação, onde minha esperança era enorme. Muita coisa mudou de lá prá cá, e hoje fica difícil na minha cabeça repetir o que já foi desestruturado pelos fatos e ocorrências de dois mandatos frustantes. Só nos resta conferir as evidências.
    Lidia.

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