Dilma acena para as três pontas do triângulo ao dizer que quer incrementar as relações com os Estados Unidos, Europa e Japão. Acena para a Comissão Trilateral.
Em 1973, quando surgiu a Trilateral como extensão do Clube Bilderberg, dividindo o mundo em três núcleos de dominação e fundada oficialmente por David Rockfeller, a suposta esquerdista Dilma já teria sido libertada. Não representava mais perigo e só reapareceu novamente através do PT, nos anos ’80. Foi um quadro obediente, provavelmente da tendência interna Articulação, ocupou vários postos e hoje está na presidência da República. Tudo muito esquematizado.
Mas em 1973, quando vazou a informação da criação da Comissão Trilateral, mesmo sob a ditadura militar e quando aqui a guerrilha do Araguaia, traída, era dizimada, grande parte da esquerda procurou se informar a respeito e logo após surgiu o livro de Hugo Assman – A TRILATERAL: NOVA FASE DO CAPITALISMO MUNDIAL.
O capitalismo mundial estava perdendo a guerra do Vietnã, através do seu mais poderoso representante, os Estados Unidos, e procurava reorganizar-se para atacar novamente. O livro tem textos introdutórios de Noam Chomsky e Theotonio dos Santos. Hoje, você pode encontrá-lo em qualquer sebo por cinco reais. Não foi mais reeditado no Brasil, e a suposta esquerda do Brasil não lê mais livros desse gênero, prefere lutar por cadeiras no Congresso.
Mas naquele tempo, em 1973 ou pouco depois, todos leram o livro, que era muito discutido em conversas quase cochichadas, enquanto rodava um disco da Elis ou do Chico, porque os empregados do governo que trabalhavam em órgãos de repressão como DOPS, DOI-CODI e outros organismos menos conhecidos, colocavam escutas em todos os lugares, quase ostensivamente. Éramos fotografados quando entregávamos jornais de duas páginas, mimeografados, nas universidades. E os jornais eram apreendidos. Jornais de aula.
Naquele livro fica claro que o capitalismo se rearticulava para dominar a Ásia com um eixo no Japão – colônia militar norte-americana desde a II Guerra Mundial... Outro na Europa, mais precisamente na Alemanha Ocidental (a Alemanha ainda estava dividida) – que também era (é?) colônia militar norte-americana desde a II Guerra Mundial – e a partir da Alemanha seria dominada a Europa, através de pactos financeiros e econômicos com os demais países europeus.
E a terceira ponta do triângulo ficaria nos Estados Unidos, que tomaria a si a empresa de dominar completamente as Américas.
Vemos que isso está realmente acontecendo. A Trilateral funcionou e continua funcionando. Falta pouco para os Estados Unidos dominarem completamente as três Américas. Se depender da ajuda estratégica do governo brasileiro isso será feito em breve. Mas não depende só disso.
Na Europa, o euro uniu, dividiu e da crise européia está emergindo um país muito forte economicamente e sempre com o total apoio militar da OTAN: a Alemanha.
E o Japão é a base norte-americana que servirá de ponto de apoio quando a guerra contra a Coréia do Norte se tornar urgente.
Ou, ainda, caso a China não ceda completamente aos apelos materialistas do consumismo ocidental, o Japão será o lugar ideal para a colocação de mísseis estratégicos que a obriguem a tentar uma guerra perdida ou a abrir completamente o seu mercado.
Mas todos os que leram aquele livro nos anos ’70 e que se diziam de esquerda e ainda mais tarde, nos ’80, quando voltaram as eleições no Brasil, formaram-se partidos, como o PT, e os militares se recolheram para os quartéis... Todo aquele pessoal procurava maneiras de estruturar-se para combater o maquiavelismo escancarado do sistema.
Depois se renderam. Preferiram o caminho das urnas, mesmo sabendo que isso é uma mentira que somente abafa a transformação social.
Quase todos eles eram de classe média, média alta. Vejam a Dilma: nasceu em uma família de classe média alta e chegou até a burguesia. Jamais representaram o povo, de verdade, apenas o iludiram com promessas, pequenas reformas, auxílios extras, assistencialismo. Tudo os que as pessoas dessas classes fazem em relação à imensa maioria da população – ilusionismo.
Considerando-se as influências do meio, agem conforme o que é esperado deles. Mas o que me espanta é que seriam pessoas inteligentes, no mínimo com alguma cultura básica, com capacidade de discernimento, talvez até senso crítico. Mas se entregaram completamente ao Sistema. Tornaram-se aliados dele.
Sabemos que toda a esquerda saiu do PT no decorrer dos oito anos de Lula, à medida que percebia para onde ia aquele governo. Entraram para outros partidos ou, simplesmente, não quiseram ser cúmplices. Mas muitos dos que ficaram, inclusive a Dilma, davam a impressão de não serem adesistas...
O que houve com eles? Foram comprados? Foram hipnotizados? Ou, simplesmente, traíram os seus antigos ideais?
Ano passado, o Vandré deu uma entrevista que decepcionou a todos, menos às Forças Armadas. Era outro Vandré. Não aquele dos festivais da canção, mas um Vandré submisso. Na época, falou-se em lavagem cerebral, chantagem emocional e até chips sob a pele que poderiam provocar transformações gradativas no modo de pensar e de agir das pessoas monitoradas.
Lula somente foi eleito pela primeira vez quando se transformou no “lulinha paz e amor”, homem de confiança do Sistema. Aos poucos, foi mostrando que realmente é de muita confiança. Naquela época, Lula já poderia ser Presidente, porque o PT já tinha colocado a máscara de um partido apenas paternalista.
Aquele Lula combativo, denunciador, que prometia grandes mudanças caso fosse eleito ficou para trás. Surgiu uma marionete facilmente manipulável em lugar dele. Como aconteceu isso?
E agora Dilma, que diz que foi torturada pela ditadura militar – que nunca acabou de verdade, mas é a custódia do regime civil que a sucedeu... A Dilma que dizem que participou de alguma luta armada, naquela época, sendo que parte de sua campanha foi baseada nessa propaganda... A Dilma que veste vermelho e passa para o povo mais ignorante uma imagem de transformadora... Nada quer transformar.
Nem poderia, mesmo que quisesse. Toda transformação social origina-se na sociedade, em suas diversas camadas, como uma necessidade orgânica do todo social, que reage frente a uma realidade hostil. Não depende de um governo ou de um governante.
Mas governos e governantes podem fazer a sua parte. Através de uma revolução na educação, usando-se o método Paulo Freire, para que as pessoas tenham consciência da realidade em que vivem. Promovendo uma reforma agrária de verdade, taxando as grandes fortunas e evitando que as multinacionais remetam o seu lucro para o exterior, o que provoca evasão de divisas... Nacionalizando as empresas... Há diversas maneiras.
Mas Dilma não quer nem renovar; não chega a ser sequer reformista.
Taxação sobre os grandes lucros nem pensar, o MST que se comporte, reforma agrária fica para o futuro, todo o poder ao latifúndio e todo o apoio ao imperialismo, à Trilateral.
Na verdade, nunca soubemos quem é Dilma.
O que houve com esse pessoal?
Muito boa a análise sob diversos pontos de vistas. Informações interessantes ao longo destes últimos anos. A ideologia sempre em questão. Valeu! Obrigada!
ResponderExcluirLidia.