Como gaúcho e gremista acredito que Ronaldinho fez muito bem em escolher o Flamengo. E também acho que Ronaldinho deveria tirar o apelido de “Gaúcho”. Não se torna mais necessário. Se era para distinguir do outro Ronaldo, o Fenômeno, não há mais necessidade. Agora todos sabem quem é quem.
Não é para querer ofender o povo carioca, mas acredito que seja consenso entre os gaúchos que Ronaldinho deveria adotar o apelido de “Carioca”. Ficaria mais adequado para ele. Claro que Ronaldinho nasceu em Porto Alegre e tem direito de ser chamado de “gaúcho”. Mas esse apelido, que apenas especifica o seu lugar de nascimento, torna-se, agora, demasiado.
Além disso, a palavra gaúcho não designa apenas quem nasceu aqui no Rio Grande do Sul. Os catarinenses, com toda razão, são gaúchos, e a maioria dos paranaenses tem um sentimento de gauchismo. E não só no Brasil. Gaúchos, ou “gauchos”, são os uruguaios, os argentinos e os paraguaios, sendo que o Rio Grande é o centro dessa nacionalidade. Aqui se cultiva, talvez mais acentuadamente, no Brasil, o espírito de gauchismo.
Há quem queira dizer que existe uma “ideologia do gauchismo”. Até já li algo a respeito. Ledo engano. Ser gaúcho é, antes de tudo, um estado de espírito agradavelmente nacionalista. As nossas crianças, quando aprendem as primeiras letras, e até antes, ficam sabendo que são brasileiras. Mas o professor ou professora sempre acrescenta: “e, além disso, você é gaúcho”. Aos poucos, as crianças aprendem, sem que sejam necessárias grandes teorizações, o que é “ser gaúcho”.
E “ser gaúcho” tem a ver com honra, unidade nacional em torno de uma mesma história e cultura, sentimento interno de força que faz com que os gaúchos de verdade suplantem os maiores obstáculos sem nenhum queixume. Porque ser gaúcho é transcendência. Sem querer desfazer dos demais estados do Brasil, o gaúcho sabe que tem “algo mais”.
Da mesma forma que o mineiro, o baiano, o macuxi, e todos aqueles povos que cresceram em torno de valores e tradições e formam o Brasil.
Mas, infelizmente, desconfio que aqueles dois estados do sudeste que dominam o Brasil – São Paulo e Rio de Janeiro – não cultivem esse sentimento de nacionalismo próprio. O paulista é um aglomerado de pessoas de diversos estados, que procuraram ali o seu ganha-pão. Diversas culturas que ainda tentam organizar-se em uma só cultura. Tanto que os paulistas acreditam que a sua atual música regional tem o nome de “country” – mesmo que a música não represente toda a cultura de uma região ou estado.
Não se percebe uma cultura nativa de São Paulo. Se há uma cultura, deve ser a do “crescimento acelerado”, adotada por Dilma. Algo assim como “vamos crescer de qualquer jeito, mesmo que seja necessário destruir o resto do Brasil, porque o que interessa é nóis”.
O Rio de Janeiro é aquela coisa leve e suave. "Cartão postal do Brasil", Cristo Redentor, Ipanema, Copacabana, samba, futebol e até a ilusão da beleza das favelas cariocas. Podem chamar isso de cultura, mas acho muito pouco. As raízes daquela cultura estão à beira d’água salinizada. Capital do Brasil por muito tempo, arrogou-se o direito, junto com São Paulo, de dominar o nosso país.
E agora, com o petróleo do pré-sal, valha-nos Deus! Em plena época do supremo capitalismo no Brasil, o Rio de Janeiro orgulha-se de ser o Estado mais rico. Isto, devido ao Lula, que também deveria ser chamado de Lula “Carioca”, assim como o Ronaldinho. Lula decretou que o dinheiro da extração de petróleo deve ficar apenas no Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Ele tem o direito de vetar – o que é um estranho direito, quando se diz que o Brasil é uma democracia. E vetou a emenda Ibsen Pinheiro, que previa a distribuição dos royalties da exploração do petróleo para todos os estados da federação. Isto, na pressuposição de que o petróleo é brasileiro e não apenas carioca.
E são 26 estados, mais o Distrito Federal. Mas Lula vetou a emenda. E Dilma não fará diferente se a emenda for reapresentada. E o dinheiro do petróleo ficará apenas nos estados onde é extraído: Rio de Janeiro e Espírito Santo. Algumas migalhas irão para os outros estados. Mais uma prova de que o Congresso Nacional não tem força alguma e de que a União não é uma união.
Às vezes eu fico pensando se o verdadeiro presidente do Brasil não seria o Sérgio Cabral... Com Dilma apenas fazendo a frente.
Além disso, Rio e São Paulo são o centro da cultura brasileira. Por ridículo que isso seja. Explicando melhor, naqueles dois estados é criada uma “cultura”, que é chamada de brasileira, e espraiada para todos os demais estados do Brasil como sendo uma “cultura brasileira”. Faz parte da estratégia de dominação daquele centro de poder: vender um Brasil mentiroso para os demais brasileiros.
Assim como os Estados Unidos nos vendem um mundo mentiroso - através das suas agências de informação, que tem as suas “informações” reproduzidas pelas redes de televisão brasileiras.
Da mesma maneira, e usando a mesma estratégia, as grandes redes de televisão com sede no Rio e em São Paulo nos passam uma visão distorcida de um Brasil irreal através das suas novelas, núcleos informativos, entrevistas, etc. Tudo centralizado naquele pequeno eixo, como se o Brasil se limitasse ao que eles querem que acreditemos que seja Brasil. Uma visão norteamericanizada, porque paulistas e cariocas adoram norte-americanos.
Percebem que eles – as redes de televisão deles – nunca, ou quase nunca informam sobre a América do Sul e Caribe, a não ser em caso de desastre, golpe de estado ou para criticar governos que não estão a mando dos Estados Unidos?
A idéia é passar para os demais brasileiros que nós somos parecidos com os Estados Unidos, e devemos seguir a sua ideologia, e que fazemos parte da América do Sul por acidente.
Nós, aqui no sul, percebemos isso claramente. Talvez por termos uma cultura própria, um modo de pensar e de agir que é somente nosso; talvez por formarmos uma nação de verdade.
Mas percebemos, também, que muitos que nascem aqui, aqueles de uma mentalidade mais mesquinha e de pouco capacidade crítica, facilmente se deixam enganar pela subcultura do eixo Rio-São Paulo. De tal maneira, que gostariam de ir morar naqueles estados. São os que se transformam em malandros e chiam quando falam. Para esses, pagaríamos até a passagem de ida, mas só de ida.
Mais uma razão para o Ronaldinho ficar no Rio de Janeiro: é lá que está o dinheiro. É lá que estão as grandes redes de televisão e toda a propaganda em torno de um Brasil idealizado por elas. É lá que se realizam grandes festas, torneios e campeonatos e outras coisas grandiosas e leves para agradar os olhos e o coração do povo mais ingênuo. Lá também se mata diariamente, por ordem do governo, mas o Ronaldinho é muito rico e deve ter muitos guarda-costas.
Aqui no Rio Grande do Sul, a nossa riqueza é a honra, o orgulho, as tradições, a cultura, a força e a união. Ou, como gritou Sepé Tiaraju para os invasores mamelucos (que era o apelido dos paulistas): “Esta terra tem dono!”.
Concordo plenamente. Nada tenho de pessoal contra paulistas e cariocas, mas o que foi passado nesta matéria é muito interessante sob os pontos de vista abordados. Tenho orgulho de de ser gaúcha, e respeito todos os estados brasileiros com suas características próprias e não centralizadas. Parabéns!
ResponderExcluirLidia.
Ronaldinho Carioca !!1 Ronaldinho Catalão !!!!!! Acho que por ser ídolo do Barça, creio que lhe caia melhor Ronaldinho Catalão !!!!
ResponderExcluirCosta.
Abraços, Fausto.
Percebo que o importante não é o Ronaldinho nesta matéria. Na verdade, ele é um idiota dominado pelo irmão. O que o texto me passou, e concordo, foi a dominação do eixo Rio-São Paulo sobre o restante do Brasil. Dominação midiática e econômica. Mas gostaria de acrescentar que o governo depende daqueles dois estados e é cúmplice dessa dominação. Não entendi um dos comentários que fala em Ronaldinho Catalão (???). Mas, considerando que o semianalfabetismo no Brasil é muito grande (sem querer ofender os brasileiros, que prezo muito)e a capacidade de interpretação de informações bastante diminuta, não devemos nos apoquentar com isso.
ResponderExcluirBoa matéria. Desnecessário um explicador.