domingo, 27 de fevereiro de 2011

A ESTRATÉGIA


A estratégia é a mesma, tanto no Brasil de 1961 quanto na União Soviética de 1989. Claro que há diferenças de povo, língua, evolução social, cultura y todo lo más... Mas a estratégia é a mesma.

     Em 1961, Jânio Quadros renunciou depois de sete meses no governo, dizendo que forças terríveis o obrigavam a isso. Ninguém até hoje descobriu quais eram essas forças terríveis. Elas apareceram claramente após a renúncia de Jânio: formou-se uma Junta Militar que pretendia governar o Brasil e não dar posse ao vice-presidente João Goulart. As “forças terríveis” não temiam Jânio, mas o seu vice, Jango.

     E se... E se Jânio estivesse junto naquele golpe? Sua função seria apenas a de ser um presidente contraditório, apalhaçado, que, na hora certa – e a hora certa foi o Dia do Soldado (coincidência?) – renunciaria dando espaço ao golpe militar. O golpe militar contra Jango, que era do partido do povo, o PTB (não confundir com a mesma sigla de agora) – um partido claramente nacionalista e que marchava rumo ao socialismo. Mas Brizola não deixou acontecer o golpe, com a resistência no Rio Grande do Sul, e o golpe foi adiado até 1º de abril de 1964.

     União Soviética, anos ’80. O Exército Vermelho não conseguiu vencer a guerrilha de Osama Bin Laden e da Al-Qaeda, aliados dos Estados Unidos no Afeganistão. O povo soviético sofre privações com essa guerra desgastante; os soldados estão descontentes e insatisfeitos com a direção militar. Torna-se urgente uma retirada.

     O presidente Gorbachev entende que é necessária uma reestruturação da sociedade soviética – perestróika, em russo – e para isto entra em contato com o seu tradicional inimigo, os Estados Unidos. Estranho, não? São várias as visitas de Gorbachev aos Estados Unidos, junto com a sua bela esposa Raissa, ocasiões em que ele fala de glasnost – abertura política, em russo. Ou seja, para reestruturar a economia soviética depois da guerra com o Afeganistão (vale dizer, com os Estados Unidos), Gorbachev pede apoio financeiro a Wall Street. Em troca, promete abrir, aos poucos, o mercado soviético.

     Os Estados Unidos cozinham Gorbachev em fogo lento. Na União Soviética, membros do Partido Comunista começam a desconfiar de Gorbachev, principalmente Boris Yeltsin, que mais tarde será Presidente da Federação Russa. Mas a perestróika e a glasnost continuam festejadas pelo Ocidente, enquanto acontecem rupturas ideológicas na União Soviética.

     Surge um fato novo, não por acaso. Nos anos ’80, logo após a eleição de Karol Woytila (João Paulo II), em 1978, como Papa – o primeiro Papa polonês da História - na Polônia, que é, então, um país comunista, é formado o sindicato Solidariedade – o primeiro grande sindicato de direita da História, liderado pelo carismático Lech Walessa. O sindicato Solidariedade torna-se uma força política.

     Lembremos que João Paulo II foi o sucessor de João Paulo I – Albino Luciani – que foi assassinado depois que descobriu o escândalo do Banco do Vaticano e suas relações com a Máfia e a Maçonaria, através da Loja Maçônica Propaganda Dois, à qual pertenciam apenas membros da elite italiana, como Sílvio Berlusconi. João Paulo II foi eleito porque era polonês e porque daria um fim às investigações do seu antecessor – como de fato aconteceu.

     Tudo se encaixava. Um Papa polonês, um sindicato que tem como ideologia o catolicismo e visava o fim do regime comunista, a União Soviética sendo derrotada no Afeganistão, a glasnost e a perestroika de Gorbachev - acusado de traidor. O capitalismo percebe que pode vencer o que entende por comunismo dentro do próprio império soviético. Muito dinheiro é investido. O Exército Vermelho é dividido; a KGB é infiltrada.

     Ao mesmo tempo, Ronald Reagan anuncia o projeto Guerra nas Estrelas. Consiste em uma série de satélites interligados que detectariam um ataque nuclear soviético (ou de qualquer outro país) no instante em que este tivesse início. Imediatamente, armas anti-mísseis seriam lançadas para destruir os mísseis inimigos. A União Soviética, quase na bancarrota, não tem condições de fazer o mesmo e cai no blefe. Uma guerra nuclear seria impensável. Nada mais resta senão abrir o mercado às multinacionais do Ocidente: a glasnost anunciada por Gorbachev.

     Na mesma União Soviética, uma nova geração ansiosa pelas novidades do Ocidente aplaude as mudanças estruturais. Principalmente os filhos dos burocratas soviéticos, que constituíam uma classe média alta disposta a gastar. O povo vinha perdendo, aos poucos, a sua capacidade de mobilização desde o final da era de Stálin, nos anos ’50, e é engolido pelo sorvo capitalista.

     Há reações, no entanto. A História oficial omite, mas falou-se, na época, de uma grande batalha naval na região da ilha de Malta, ocasião em que submarinos soviéticos teriam desertado, provocando a derrota do seu país. A marinha destruída, a aeronáutica comprada, o exército vermelho dividido - o povo estupefato assiste à derrocada do regime. Na Praça Vermelha, em Moscou, a estátua de Lênin é derrubada. A KGB ainda tenta reagir, mas é logo silenciada. Não existe mais governo. Gorbachev foi usado e agora é descartado.

     A União Soviética é dividida e abre as portas ao capitalismo. Forma-se a Federação Russa, sob o governo de Boris Yeltsin. Organizam-se máfias e sindicatos do crime. Prospera a corrupção e a desintegração do Estado. O povo começa a comprar e a endividar-se e perde a sua função de agente da História. Aumentam as desigualdades sociais a um grau assustador.

     1989 é o ano em que na Polônia o sindicato Solidariedade, transformado em partido católico, toma o poder. Lech Walessa é eleito presidente da Polônia e some do panorama político depois de cumprir o seu mandato. O muro de Berlim é derrubado e a Alemanha é reunificada. É o efeito dominó. Os demais países sob tutela soviética caem sob a jurisdição do Ocidente, com exceção da Iugoslávia.

     A OTAN invade a Iugoslávia, provocando uma guerra de etnias. Joga sérvios contra croatas. Tropas internacionais da OTAN dominam Sarajevo, Belgrado, Zagreb e outras cidades importantes. A guerra é cruenta. O que os russos não tinham conseguido fazer, a Iugoslávia tenta, sob a direção do então presidente Slobodan Milosevic. Milosevic é caçado, preso e assassinado. A Iugoslávia é destruída e dividida em vários pequenos países.

     Coincidentemente, na mesma época em que a Polônia criava um líder carismático – baixinho, barbudo e capaz de atrair multidões – chamado Lech Walessa, advindo de um sindicato que, depois, se transformou em partido político de direita e que teria como principal objetivo tomar o poder para depois entregá-lo ao Ocidente... Naquela mesma época surge no Brasil, devidamente fabricado por um grupo que se pensava de esquerda, um líder carismático – baixinho, barbudo e capaz de atrair multidões – chamado Lula, oriundo dos movimentos sindicais que deram origem a um partido híbrido chamado PT e que teria, futuramente, o objetivo de tomar o poder e entregá-lo aos Estados Unidos.

     A História não acontece, é construída.

     Em 1989, no Brasil é eleito o primeiro presidente civil, em eleições diretas depois de muitos anos de ditadura militar: Fernando Collor de Melllo. Um presidente de direita. Um presidente eleito pela máquina da mídia, em especial a Rede Globo e tirado pela mesma Rede Globo quando tentou se insurgir contra a máquina que o elegeu. Não poderia ser de outra maneira; os militares não aceitariam um governo de esquerda no Brasil. Poderiam haver eleições, mas jamais um governo socialista. Este foi o acordo implícito que fez os militares voltarem para os quartéis. De resto, era necessário, para que os países dominados pela política norte-americana dessem ao mundo um exemplo de democracia, mesmo que fingida.

     Os Estados Unidos obrigavam, na época, as ditaduras militares que eles mesmos haviam plantado na América do Sul a tornarem-se “democráticas”, ou ditaduras civis, com a participação popular apenas nos partidos e nas eleições, mas não como fator de transformação social.

     As ditaduras militares caíam em toda a América Latina, dando lugar a governos fantoches, dominados pela política dos Estados Unidos. Além do Brasil, voltaram à “normalidade democrática” Argentina, Uruguai, Peru, Chile, Panamá, Paraguai, El Salvador, Guatemala, Bolívia... Quantos mais? América do Sul e Caribe – com raras exceções - continuam dominadas, mas por governos civis, com as suas Forças Armadas por trás. Assim como na Colômbia, que tem 16 bases norte-americanas em seu território – um exemplo de apego aos Estados Unidos.

     A mesma estratégia. Em 1961, Jânio Quadros foi usado e descartado; nos anos ’80 e até 1989 aconteceu o mesmo com Gorbachev, em escala maior, mas não tão maior. Ao dominar o Brasil com governos obedientes, os Estados Unidos acreditam controlar a América do Sul. Não por acaso as Forças Armadas brasileiras estão se rearmando. Tampouco foi por mera simpatia que Lula firmou um tratado militar com os Estados Unidos, em 2010.

     Em breve, tropas serão enviadas para as fronteiras do norte do país, para fazer pressão aos governos ‘desobedientes’ do Equador, Bolívia e Venezuela – sob o pretexto de combate ao tráfico.

     Assim como Jânio Quadros, Mikhail Gorbachev e Lech Walessa, Lula foi usado e tirado de cena. Talvez assuma uma secretária da ONU – uma entidade completamente dominada pelos Estados Unidos; talvez pense em voltar, algum dia, a ser presidente; talvez passe a viver de lembranças, enquanto a História avança – não por coincidência ou acaso.

Um comentário:

  1. Muito boa a matéria! Uma restropectiva histórica interessante e para mim muito útil, pois alguns dados me eram totalmente desconhecidos. Parabéns!
    Lidia.

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