quarta-feira, 20 de abril de 2011

AMANDA KARSBURG



Neste final de semana, durante o feriadão de Páscoa, Amanda estará lutando em busca do inédito título de Campeã Brasileira de Xadrez Feminino sub-20. Foi indicada pela Federação Gaúcha de Xadrez para representar o estado no campeonato aberto de Campinas.


     Ano passado, com apenas 15 anos, Amanda foi vice-campeã gaúcha de Xadrez na sua categoria, habilitando-se para representar Bagé e todos os gaúchos. Agora parte para nova etapa, tentando a vitória no Campeonato Brasileiro Aberto de Campinas.

     Bagé é terra de ótimos enxadristas, mas principalmente de ótimas enxadristas. Ano passado, Mayara Acosta venceu a etapa regional dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul. Mayara e Amanda são duas enxadristas que se decidiram a ir além, a buscar mais, a sair da casca asfixiante dos torneios citadinos e mostrar a todos os seus talentos.

     Treinadas por Carlos Jeismann - sempre dedicado a incentivar o xadrez bajeense - as nossas duas maiores pérolas estão revelando, aos poucos, o seu brilho e pedindo passagem para maiores conquistas.

     Lembro de Amanda e Mayara enfrentando o mestre de Xadrez e hexa-campeão gaúcho Paulo Sérgio de Castro Oliveira, quando ele deu uma simultânea em Bagé para mais de 20 jovens enxadristas, em 2009. Foram as duas últimas a deitar o Rei e Mayara ainda se deu ao luxo de sacrificar a sua Dama pelas duas Torres de Paulo Sérgio, o que levou a um final complicado, fazendo Paulo Sérgio sentar e meditar muito, só vencendo devido ao maior conhecimento e experiência. Naquele dia, Paulo Sérgio me disse, após a simultânea, que aquelas duas gurias tinham muito talento. Nós, que acompanhávamos a evolução das meninas, já sabíamos disso.

     Era só uma questão de impulso para que elas decolassem, e tenho o orgulho de ter ajudado a dar aquele primeiro impulso, quando, no mesmo ano, representando a FGX, promovi a realização da etapa da Copa QI em Bagé, ocasião em que Amanda e Mayara conquistaram os dois primeiros lugares na sua categoria.

     Agora, Amanda está em Campinas, se preparando para o maior desafio de sua carreira enxadrística. Talento não lhe falta e já é uma das 32 melhores enxadristas do Brasil, na categoria sub-20. Mas a sua viagem quase não aconteceu, devido à falta de patrocinadores. A mãe de Amanda declarou ao jornal Folha do Sul que conseguiu algum apoio depois de muita insistência.

     “Temos o ressarcimento das passagens de ônibus e de avião feito pela prefeitura, mas é um processo quase humilhante. A devolução do dinheiro ocorre em 30 dias e justamente por esses fatores fiz o pedido apenas duas vezes” – declarou ao jornal Mara Karsburg, lamentando a falta de patrocínio para um dos maiores talentos esportivos que já surgiu em Bagé.

     Bagé é uma cidade que, muitas vezes, destaca-se pelo reacionarismo. Lembro que a tricampeã mundial de levantamento de peso, a bajeense Jane Morales Costa, também suou muito para poder participar das competições em que foi vencedora. Há muitos empresários em Bagé, que gastam milhões por ano para promover as suas empresas e alguns que adoram a autopromoção. Mas quando se trata de reconhecer o talento, encolhem-se como se estivessem enciumados.

     A Prefeitura, através da sua lenta burocracia e depois da família da Amanda insistir duas vezes, irá ressarcir a família dos gastos com a viagem de Amanda, daqui a 30 dias. Mas, se Amanda sair bem colocada ou vencer o campeonato talvez, então, consiga um patrocinador de verdade.

     O Grande Mestre Steinitz disse, certa vez, uma frase que se eternizou: “O Xadrez não é para almas tímidas”. E, certamente, a alma da Amanda não é tímida. Tenho certeza que ela fará o melhor. Para isso, não lhe faltam raça, vontade, arte e talento. Independente do resultado que obtiver no campeonato já será uma vencedora. Mas, se conseguir classificar-se bem, o próximo passo será o Campeonato Mundial, em Nova Délhi.

     Por enquanto, ficamos todos torcendo.

2 comentários:

  1. Também estive presente na Copa QI, e a oportunidade de conhecer e apreciar a capacidade das meninas citadas na matéria. O que foi explanado com muita propriedade, é fato concreto, apesar de ser muito triste conviver com o reacionarismo desta nossa Bagé. Às vezes chega a desanimar, mas a luta por mudanças na mentalidade medíocre (com as devidas exceções) deve continuar. Ótima abordagem! Parabéns!
    Lidia.

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  2. Além das dificuldades naturais de se conseguir patrocínio, como disse o Fausto. Ás vezes, a falta deste pode ser também culpa do próprio atleta que se limita a esperar sempre por patrocinios locais.
    Além disso o Atleta deve ter conciencia do que o patrocinador é, e porque ele está patrocinando.
    Deve haver uma reciprocidade nos interesses e ambos devem ganhar, não apenas um deles.
    O Interesse deve ser mútuo, parceria atleta-Patrocinador.

    Complementando, para encontrar oportunidades o atleta tem que procurar também grande centros, talvez até se mudar.

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