sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A IRMANDADE DA IMPUNIDADE



É como uma grande irmandade. Sabem aquelas irmandades que, muitas vezes, funcionam como grandes clubes de ajuda mútua, escalando os seus membros para todos os cargos disponíveis, a ponto de influenciar as decisões dos governantes visíveis, que são títeres em suas mãos?

     Aquelas irmandades tão organizadas que tem bancos que fornecem crédito aos seus membros, ocultas Câmaras de Deputados, governantes que somente eles conhecem e, provavelmente, uma polícia particular, e cujos membros se consideram superiores aos poderes constituídos das nações.

     Irmandades que se autodenominam irmandades, justamente porque os “irmãos” que as constituem ajudam-se em todas as situações, como verdadeiros irmãos, e consideram os familiares que não são “irmãos” como agregados e serviçais – porque para eles os laços de sangue somente existem dentro das irmandades, que tudo lhes dá.

     Irmandades que se mostram aos olhos do público vulgar – ou “profano”, como eles preferem - como filantrópicas, revolucionárias, espiritualistas, e que provavelmente exerçam muita filantropia entre os seus membros, sejam revolucionárias quando as revoluções são reacionárias e lhes trazem grandes benesses, e espiritualistas quando essa espiritualidade lhes proporciona grande poder material.

     Parece uma daquelas irmandades cujos membros são facilmente reconhecíveis pela arrogância e certeza da impunidade.

     É como uma dessas irmandades.

     Dilma sancionou a Comissão da Verdade. Uma estranha Comissão da Verdade. Começa com as datas-limites. As investigações serão feitas, se forem feitas, de 1946 a 1988. Não fica especificado que a razão da “Comissão da Verdade” é deslindar os crimes da ditadura militar, que começou em 1964. É claro que aqueles crimes serão pesquisados, mas daquele jeito que todos sabem: com muito carinho, para que ninguém se machuque.

     O governo Lula/Dilma, desde que tomou posse, em 2003, tornou-se muito amigo dos militares. É o governo civil que os militares sempre desejaram. Podem pesquisar, podem descobrir, podem divulgar, mas não podem punir.

     Depois de 1988, “stop”. Faz de conta que não aconteceu nada depois daquela data; faz de conta que a nova Constituição, elaborada em grande acordo entre civis e militares, impediu que novas torturas e assassinatos políticos acontecessem.

     Além disso, a “Comissão da Verdade” tem algumas cláusulas muito interessantes. Os integrantes da “Comissão” terão o direito de julgar se os dados obtidos poderão ou não ser revelados. Vejam o que diz o Estadão de 18 de novembro de 2011:

     (...)“A lei determina o prazo em que os documentos deverão ser mantidos sob sigilo: 25 anos para informações ultrassecretas, 15 anos para os dados secretos e cinco anos para os reservados. A prorrogação do prazo só será concedida para os documentos ultrassecretos, por única vez, limitando a restrição ao acesso a 50 anos.”

     E essa é a verdade da “Comissão da Verdade”. Saberemos algumas migalhas, as migalhas que os militares consentirem, mas o governo sempre estará dizendo, em óbvia manobra demagógica, que tem uma comissão que busca a verdade.

     O mundo se surpreende com essa “Comissão da Verdade” muito brasileira.

     A revista britânica “Economist” (http://noticias.r7.com/brasil/noticias/-economist-analisa-atraso-brasileiro-em-lidar-com-os-crimes-da-ditadura-20111118.html), em matéria a respeito, diz que

     "O Brasil tem sido lento na revisão dos crimes da ditadura. A Argentina começou a processar os militares logo após o colapso do regime, em 1983", diz a reportagem. "A Suprema Corte do Chile decidiu em 2004 que os "desaparecimentos" não eram passíveis de anistia."

     Mas esse tipo de “Comissão da Verdade” já está dando anistia antecipada aos torturadores e assassinos do regime militar. Na mesma matéria:

     “Segundo a Economist, uma das consequências desse atraso "é que a repressão continua, só que agora a violência se concentra mais na polícia, e não no Exército".

     A revista destaca que a truculência da polícia é raramente punida e frequentemente aplaudida, como acontece nos filmes Tropa de Elite, e que ativistas esperam que a Comissão da Verdade altere essas opiniões.”

     O mundo inteiro sabe que o governo brasileiro marginaliza a pobreza, mas o governo manipula a nossa opinião pública e deseja manipular ainda mais com uma nova lei que está sendo elaborada nos bastidores para cercear, fiscalizar e monitorar a imprensa. Toda ditadura necessita que toda a imprensa fique ao seu lado, ou não será uma ditadura completa.

     Governo e militares formam uma irmandade no Brasil. Uma irmandade daquele tipo.

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