terça-feira, 15 de novembro de 2011

SEU CHICO E OS GOLPES DA REPÚBLICA


- Esses brasileiros tem uma mania estranha de espichar feriados – disse o seu Chico, depois que me encontrou e cumprimentou no dia 15 de novembro, naquele deserto de cidade que até parecia que todos tinham morrido.

- Pois não é, seu Chico?

- Parece que ninguém gosta de trabalhar. Hoje é o dia, mas ontem já foi ponto facultativo e todos preferiram o facultativo ao ponto. Dizem que é costume de carioca essa coisa de feriadão, o senhor não acha?

- Lá malandragem é... Agora, se é coisa de carioca não posso lhe dizer com certeza. Quem sabe não é de paulista estressado?

- Mas estão sempre estressados aqueles paulistas! Será que é porque não ouvem o cantar dos passarinhos?

- Periga ser, seu Chico. Dizem que eles não param de correr mesmo quando estão dentro de casa. Mas deve ser lenda...

- Lenda é essa coisa de que a República foi proclamada com o apoio do povo. Na época, o povo nem sabia o que era República. Talvez até hoje não saiba.

- Foi um golpe de estado no Imperador, seu Chico. Colocaram ele num navio e depois repartiram os cargos.

- E mal repartidos. E olha que de lá pra cá golpes de estado é que não faltaram. Sem contar os da República Velha, que era toda hora, e a revolução de Getúlio em 1930, que foi um favor para o Brasil, depois foi uma sucessão de golpes.

- A começar pelo golpe no próprio Getúlio, em 1945, seu Chico, quando os militares o depuseram por ordem dos Estados Unidos. Na mesma época fizeram o mesmo na Argentina: depuseram o Perón.

- E o povo na orfandade, como sempre. Depois mataram o Getúlio, em 1954, porque eu não acredito que aquilo tenha sido suicídio...

- Mas e a carta-testamento, seu Chico?

- Pois aquela carta ele poderia ter escrito justamente para que o povo o ajudasse a evitar o golpe e teria sido usada pelos golpistas e assassinos para justificar o suposto suicídio. E depois golpearam o Jânio, em 1962.

- Se bem que o Jânio estava pedindo para ser golpeado, seu Chico. Um governo que não fazia nada.

- Não fazer nada por não fazer nada, temos exemplos mais próximos, o senhor não acha? E nem por isso há a necessidade de golpe... Mas aquele foi um golpe duplo. Na verdade, eles queriam era evitar que o Jango, que era o Vice-Presidente, assumisse, e se não fosse o Brizola...

- O Brizola e o povo gaúcho, seu Chico.

- Nas trincheiras. Mas pouco adiantou, porque o Jango não era exatamente um guerreiro. No primeiro ventinho ele saiu voando. Em 1964.

- Ele disse que era para evitar o derramamento do sangue brasileiro.

- Talvez até fosse, talvez até fosse... Mas não convenceu ninguém. De qualquer maneira, o sangue foi derramado e da maneira mais traiçoeira. Torturas, assassinatos...

- Mas agora tem a Comissão da Verdade, seu Chico, que vai desvendar o que realmente houve naquela época de tantas traições e mandar prender os torturadores e assassinos.

- E o senhor realmente acredita nisso?

- A gente tem que acreditar, seu Chico, senão vai acreditar em que?

- Em Deus e Nossa Senhora, meu amigo. Para mim os golpes não cessaram.

- Por que, seu Chico?

- Mas olha só essa roubalheira! Em pleno governo! Mas não é uma falta de pouca vergonha?!

- Mas dizem que isso é invenção da imprensa da direita, seu Chico.

- Se fosse invenção não tinha tanto ministro demitido, tanta CPI e tanta denúncia. O senhor há de convir que os roubos estão sendo provados, um por um. E só não aparece mais é porque o governo daquela senhora faz questão de esconder o lixo embaixo do tapete.

- Será que é por decoro, seu Chico?

- Até pode ser... Mas penso que deve ser mais por vergonha mesmo.

- E porque o senhor disse que os golpes não cessaram?

- Mas existe pior golpe que o golpe no nosso bolso? Além da miséria, do analfabetismo, da saúde porca, da educação zero e da única preocupação com a tal de Copa do Mundo que só vai dar dinheiro para o governo e seus amigos, ainda nos roubam descaradamente! Mas isso não é golpe atrás de golpe?!

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