sexta-feira, 30 de março de 2012

A LUZ DA VERDADE


Está havendo um grande equívoco e muita gente esta caindo nele. O que houve em abril de 1964 foi a derrubada de um governo constitucional, eleito livremente pelo povo. As Forças Armadas, por não concordarem com o governo, o derrubaram através de um golpe militar, sem qualquer apoio popular. Deram a sua versão do golpe, chamando-o de revolução, quando, na verdade, foi uma quartelada contra a qual não houve resistência porque o presidente João Goulart preferiu fugir do país e as forças populares ficaram órfãs de liderança. Os demais líderes políticos da época seguiram o caminho de Jango, fugindo como se fossem culpados, quando a sua única culpa foi a fuga.

     Sabia-se que a IV Frota dos Estados Unidos estava em mares brasileiros para apoiar o golpe, mas até os generais golpistas se surpreenderam com tanta facilidade, quando tomaram o poder. Esperavam resistência, porque Jango era um líder popular que já tinha sido golpeado em 1961, mas conseguira assumir o poder graças à resistência do povo gaúcho, que recebeu a adesão do III Exército.

     Foi um golpe anunciado.

     O governo Goulart defendia a reforma agrária e o nacionalismo, e os militares brasileiros da época eram a favor do domínio dos Estados Unidos nas Américas. Desde 1945, quando derrubaram Getúlio Vargas, percebeu-se uma nítida mudança de rumo na ideologia das Forças Armadas brasileiras. Estas, tinham ajudado as forças aliadas a vencer a guerra na Europa e seus líderes militares voltaram daquela guerra com a “cabeça feita” pelos ideólogos estadunidenses.

     Era época da Guerra Fria e eles acreditavam que o Grande Mal residia na União Soviética e que os Estados Unidos e governos aliados da Europa eram os defensores das forças do Bem. Acreditavam que tudo deveria ser dado para essas forças do Bem, inclusive o território dos seus países e as mentes dos seus habitantes. Sucederam-se os golpes militares na América do Sul e Central.

     Em nome do que os militares chamavam de democracia os governos eleitos democraticamente eram derrubados.; e maior era a opressão quando esses governos eram a favor do povo, como no Brasil, que tinha um governo claramente nacionalista. Os partidos comunistas existiam, mas eram minoria insignificante, que nada pesava no cenário político nacional.

     O grande medo era o nacionalismo.

     Mas foi em nome do combate ao comunismo que, em 1º de abril de 1964 o governo João Goulart foi derrubado. E Jango não era comunista.

     Sucederam-se as perseguições, as torturas e os assassinatos, não somente contra os nacionalistas, mas também contra os socialistas e comunistas, e isso provocou a resistência armada de diversas facções, em sua grande maioria da classe média, sem nenhum contato com o povo ou organizações populares.

     Fundaram-se partidos clandestinos, objetivando a luta armada contra o regime militar e alguns tentaram fazer a revolução urbana, outros a revolução rural, e todos esses grupos foram dizimados, falhos em organização e diminutos em número. Nunca se leu tanto Marx como nos anos ’70 e ’80. O golpe militar dava seus frutos contraditórios.

     No final dos anos 1980 a União Soviética ruía e no Brasil – assim como nos demais países militarizados das Américas – havia uma “abertura política”, porque um regime ditatorial não é bom para os negócios e os grandes empresários que tinham bancado aquela aventura necessitavam abocanhar um crescente mercado de jovens sem rumo.

     Tudo pelo Mercado. O cenário foi armado através de passeatas, shows de músicos da moda, todo o apoio da mesma mídia que apoiara o golpe militar, e a geração pós-revolucionária se viu engajada na “luta pela democracia”, que nada mais era que a volta do voto livre e direto com a certeza de que os eleitos seriam sempre os amigos do poder.

     Anos depois de Sarney, o Obediente, Collor, o deposto pela Globo, Itamar, o magro passivo e Fernando Henrique, que começou a entregar o Brasil para as multinacionais, foi eleito Lula, já manso e obediente, que continuou a política dos presidentes civis anteriores e acelerou a entrega do país. Dilma é Lula de saias, atrapalhada e gritona, talvez por ser atrapalhada. Guarda o trono para o seu grande amigo, enquanto os militares dão gargalhadas nas casernas.

     Mas pararam de rir quando foi instituída a Comissão da Verdade, para apurar as torturas e assassinatos da ditadura. Reclamam em altos brados. “Mas como! O trato não era esse! Vocês podem até votar e eleger os seus corruptos representantes, desde que não toquem no que nós fizemos enquanto éramosos seus incorruptíveis donos. Comissão da Verdade?! Estão brincando?! Olha que nós damos outro golpe...”

    O trato não era esse. A anistia combinada pelos sarneys, tancredos, simons, ulisses e outros menos votados era uma anistia ampla, geral e irrestrita, incluindo os torturadores e assassinos militares. Os anistiados da oposição poderiam sair da cadeia ou voltar para o Brasil – e os que voltaram estavam devidamente aculturados, mansos e quietos, sedentos pela democracia suíça, mas o que fazer? Aqui é Brasil e era necessário dar tempo ao tempo ou tempo à mídia.

     Os tempos mudaram, apesar de Lula, de Dilma e dos demais acumpliciados com o poder fardado e ao poder de farda era dado o Haiti para invadir e as favelas do Rio para fingirem de guerra.

     Estava indo tudo muito bem, e até Copa do Mundo e Olimpíadas teremos para celebrar a paz dos guettos e a vitória da hipocrisia; todos os dias é descoberto um novo(?) corrupto e a imprensa de Dilma diz que este é um governo quase sem inflação e com um PIB gigantesco e todos ficam felizes quando assistem novelas, futebol e BBB, além de outras digestivas cassetas que servem para amainar a triste visão da nudez do Rei (ou da Rainha) quando, súbito!

     Súbito, os massacrados, os torturados de verdade e os assassinados pela ditadura militar saem dos túmulos, esbravejam nas desconhecidas covas onde foram escondidos, gritam, insepultos, nos papéis secretos dos órgãos de inteligência e exigem justiça.

     E os militares se unem novamente e dizem: “Não pode! Justiça não! Aquilo foi uma guerra, onde houveram mortos e feridos de ambas as partes e se nós matamos e ferimos mais é porque estávamos mais bem armados! Silêncio ao silêncio! Quede-se muda a Comissão da Verdade por mais cinquenta ou cem anos, até que todos esqueçam definitivamente aqueles anos que foram de muito chumbo, sim, e daí?”

     Daí que a memória não aceita a mentira. Não foi uma guerra. Foi um período ditatorial de opressão, de torturas e de assassinatos até hoje impunes. Não foi uma revolução, mas um período de retrocesso político; foi a Idade Média do Brasil, onde os suseranos moravam nos Estados Unidos e os vassalos fardados obedeciam as suas ordens.

     Os que resistiram, muitas vezes de armas nas mãos, exerceram um direito e, se hoje temos um governo destinado a passar para a História como subserviente e omisso aos donos do poder mundial, nem todo o povo brasileiro é formado por acomodados zumbis.

     Por isso é necessário que a verdade histórica apareça, até para salvaguardar a honra das Forças Armadas. Urge que os responsáveis pelas três armas reconheçam que naquele momento de loucura da nossa história foram cometidos crimes que não podem ser aceitos como naturais, ou a corrupção moral também aparecerá dentro das Forças Armadas e o povo consciente acreditará que as Forças Armadas da época da ditadura militar são as mesmas Forças Armadas de agora. Só mudaram os chefes. Não se pode ter medo de fantasmas, se realmente são fantasmas; mas pode-se exorcizá-los com a luz da verdade.

Um comentário:

  1. Quando virá à luz essa verdade? Difícil prever, apesar da pressão da sociedade. Muito boa matéria sobre o que realmente aconteceu e acontece nos bastidores da história do povo brasileiro. Ótimas informações sobre a época da famosa "revolução" inventada.
    Lidia.

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