terça-feira, 1 de março de 2011

DE MÉDICO E DE MONSTRO - UMA HISTÓRIA REAL



Médico: De acordo com os seus exames, a senhora está com artrite reumatóide, que é uma doença que provoca muitas dores porque é autoimune.

     Paciente: É verdade, doutor. Eu tenho dores nos mais diversos lugares do corpo. Às vezes nas pernas, outras vezes nos cotovelos, pescoço, ombros... Nos mais diversos lugares... Mas o que é doença autoimune?

     Médico: É uma doença que afeta o sistema imunológico, provocando inflamação nas articulações. Acredita-se que a origem da doença seja uma alteração do sistema imunológico, que passa a agir contra proteínas próprias do organismo e localizadas nas articulações - embora possa agir também em outras partes do organismo.

     Paciente: Às vezes eu não sei o que fazer de tanta dor. Mal consigo trabalhar. Como o senhor sabe, eu sou secretária, e tem dias que mal posso me mexer.

     Médico: É a rigidez matinal. Esta doença provoca rigidez durante algumas horas depois que acorda, e se não for tratada adequadamente pode se transformar em um quadro clínico muito sério, porque é uma doença incapacitante.

     Paciente: Doutor, eu fui obrigada a faltar ao trabalho devido às intensas dores e o Estado entrou com um processo de abandono de cargo contra mim...

     Médico: A senhora não pode trabalhar enquanto a doença não entrar em remissão; enquanto não pararem as dores. Na verdade, a senhora não poderia mais trabalhar. É uma doença incapacitante. Além disso, conforme os seus exames, a senhora tem osteoporose, o que pode provocar fraturas espontâneas. Por isto eu vou lhe dar esta receita e um atestado para mandar para a perícia médica do estado.

     Paciente: Obrigada, doutor.



Algum tempo depois...



     Paciente: Doutor, o senhor acertou. Aqueles remédios que o senhor me deu diminuíram as minhas dores. Pelo menos eu não sinto tantas dores durante o dia inteiro. Mas agora o Estado está exigindo que eu vá fazer uma nova perícia. Da última vez que eu fui quase não conseguia sair do ônibus depois de cinco horas de viagem. E o perito ainda negou aquele seu atestado.

     Médico: Foi?

     Paciente: Foi, doutor. Além do que, o perito que me atendeu disse que eu não tinha nada porque não podia ver as minhas dores. E ainda me disse que se ele, o perito, estivesse sentindo dores, ninguém poderia saber. Só faltou dizer que eu estava fingindo, doutor, foi extremamente estúpido, negou o laudo médico e eu ainda saí de lá com mais dores ainda.

     Médico: É?

     Paciente: É. Então eu conversei com a minha advogada e ela me disse para falar com o senhor, que foi quem descobriu a minha doença, para que me desse outro laudo médico e um pedido à perícia do Estado para que façam a próxima perícia aqui, porque eu não posso fazer uma viagem dessas sem prejudicar ainda mais a minha saúde.

     Médico: Pois é, minha senhora, sinto muito, mas eu não posso lhe dar esse laudo agora, sem que faça novos exames.

     Paciente: Eles estão exigindo que eu vá para uma nova perícia e eu não tenho condições de viajar sem prejudicar a minha saúde. Além disso, o Estado me tirou o IPE e eu não estou mais recebendo há quase três anos, devido ao processo que o Estado está me movendo por abandono de cargo. E o senhor sabe que não é verdade; eu não abandonei o cargo. Somente não pude mais ir trabalhar devido à minha doença que o senhor mesmo diagnosticou como doença autoimune e incapacitante...

     Médico: Sinto muito, minha senhora, mas agora, depois que eu fui nomeado perito da Justiça, aconselho a senhora a agir com prudência. Se a chamaram para uma perícia na capital, deve ir.

     Paciente: Foi o senhor que me disse que eu não poderia trabalhar neste estado e até deu a entender que qualquer esforço demasiado seria perigoso para a minha saúde. E uma viagem de cinco horas, mais a rigidez matinal ao chegar, mais o atendimento grosseiro do perito... O senhor não acha que seria uma crueldade?

     Médico: A senhora poderia ir de carro.

     Paciente: Doutor, faz quase três anos que eu não estou recebendo e o senhor ainda acha que eu tenho carro!

     Médico: Se não tem, a senhora terá que fazer a viagem de ônibus mesmo. Eu não posso lhe dar um laudo informando sobre o que a senhora entende por impossibilidade de deslocamento.

     Paciente: Doutor... As minhas doenças... Foi o senhor mesmo quem diagnosticou...

     Médico: Talvez seja necessário um novo diagnóstico... Agende uma nova consulta.

     Paciente: Eu já estou aqui, consultando com o senhor!

     Médico: A sua hora acabou, minha senhora. Agende uma nova consulta... Vamos ver... Fale com a minha secretária, mas nõa sei se poderá ser ainda este mês... Talvez demore um pouco.

     Paciente: Mas doutor!

     Médico: (abrindo a porta) Passe bem, minha senhora.

2 comentários:

  1. Pior é que muitas vezes a coisa é por aí, mesmo.

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  2. Realmente uma história real! Concordo plenamente, pois trago no corpo os sinais das atrocidades cometidas por aqueles, que a princípio, teriam por missão curar. Parabéns pela abordagem!
    Lidia.

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