Entre licitadas, projetadas, em construção e prontas, existem mais de cem hidrelétricas no Brasil. A desculpa para a construção de tantas hidrelétricas é que elas provêem uma energia limpa e renovável, não poluidora.
O que é uma mentira.
Segundo o biólogo Alexandre Kemenes, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), "a hidrelétrica de Balbina, no rio Uatumã, está emitindo cerca de 10 vezes mais que uma termelétrica movida a carvão mineral, considerado hoje o combustível mais poluente”.
Em Balbina, além dos elevados índices de emissão de GEE (Gases de Efeito Estufa), há um baixo aproveitamento energético. Em outro cálculo, que considera a potência gerada pela área do lago, Balbina também fica a dever. Embora tenha alagado 2.600 quilômetros quadrados de floresta, a hidrelétrica tem uma produção energética pífia, de meros 250 MW.
De acordo com Kemenes, vários são os fatores que levam as hidrelétricas tropicais a emitir Gases de Efeito Estufa em grande quantidade. Os lagos muito grandes e profundos construídos sobre uma área florestal e sob a influência do clima amazônico são propensos a problemas desse tipo.
"Devido à estabilidade climática da Amazônia, são formados estratos térmicos nas diferentes profundidades do lago", explicou o biólogo. "Em temperaturas distintas, cada estrato possui diferentes concentrações de gases, entre eles o oxigênio."
No fundo do lago, todo o oxigênio é consumido pelas atividades biológicas, mas não é reposto, formando um estrato anóxio (sem oxigênio). Além disso há grande quantidade de matéria orgânica deixada pelo não-desmatamento da antiga floresta existente na área do lago. A soma desses fatores favorece a ação metabólica de bactérias anaeróbicas, que produzirão altas taxas de CH4 e CO2, os dois principais gases de Efeito Estufa.
"Além disso, a profundidade provoca outro fenômeno físico - a pressão hidrostática - que mantém os gases aprisionados no fundo do lago", declarou o cientista. ( Segundo matéria do jornalista Murilo Tavares para a Agência FAPESP, em19/10/2007. Publicada, originalmente, no site Inovação Teconológica.)
E as turbinas das hidrelétricas liberam gases.
Segundo o biólogo, depois de gerados no fundo do lago, o CO2 e o CH4 chegam à atmosfera por três vias: pelo próprio lago, pelas turbinas da barragem e à jusante dela. Cerca de 85% das emissões ocorrem por ebulição ou difusão, na área do lago.
Quando os gases ficam supersaturados no substrato, eles se desprendem em forma de bolhas e chegam à atmosfera. Ao mesmo tempo, os gases existentes na superfície do lago são difundidos lentamente. Os dados referentes às emissões pelo lago foram medidos em quatro hidrelétricas.
Ocorre que nós, míseros mortais, somente podemos tomar conhecimento da emissão de gases poluentes pelas hidrelétricas depois que elas já estão construídas, porque só então pode ser feita a medição da emissão de gases. Já as termelétricas, basta olhar as usinas movidas a carvão – ou apenas o carvão, sem as usinas – para nos assustarmos, porque ali é evidente a emissão de GEE (Gases de Efeito Estufa). No entanto, as hidrelétricas poluem menos que as termelétricas - afirma Kemenes.
LOBBY
Dizer que a construção de hidrelétricas é uma das maneiras para contribuir para a “energia limpa” é uma grande mentira. E esta mentira vem desde os tempos da ditadura – e agora é uma mentira encampada pelos atual governo, aliado das grandes multinacionais do setor energético que fazem um lobby junto aos congressistas e ao Executivo para que esse modelo de desenvolvimento seja o prioritário no Brasil.
Qualquer iniciativa a favor de fontes de energia renováveis, que não sejam as megahidrelétricas, é bloqueado.
De acordo com Heitor Scalambrini Costa, (Adital, 29/04/2008) - professor da Universidade Federal de Pernambuco; membro da ONG Centro de Estudos e Projetos Naper Solar – “o lobby hidrelétrico se baseia no fato que a maioria absoluta dos engenheiros e técnicos do setor é especializada em hidroeletricidade e deve sua carreira profissional à indústria, que se formou, historicamente, em torno dos megaprojetos, desconsiderando as alternativas e com argumentos técnicos e econômicos, que parecem totalmente persuasivos, de que devemos continuar sendo assim para sempre.
“A outra força do poder hidrelétrico são as empreiteiras especializadas em grandes obras. Ambas as forças deste lobby se baseiam em uma mentalidade de grandes obras, legitimada por uma ideologia de desenvolvimento pela qual devemos fazer tudo grande, para ter um Brasil grande.
Acrescenta (em matéria publicada originalmente no site “Terra Sim, Barragem Não”, em 30 de abril de 2008) ainda: “o que se constata é que o mundo inteiro está investindo em energia eólica e fotovoltaica (eletricidade solar).
“O mercado de energia eólica cresceu 30%, em 2007. Na China, ele triplicou. Nos EUA, dobrou. Na Espanha cresceu 30%, com adição de 3.500 MW à rede. Na Alemanha, cresceu 8%, representando a adição de 1.700 MW ao parque eólico, totalizando quase 22.500 MW, o maior do mundo. No Brasil não chega a 250 MW de potência instalada.”
E existem inúmeros projetos para a implementação de energia solar e energia eólica no Brasil. Só que vão para a Câmara Federal e são engavetados. Ficam em último lugar naquela pilha de projetos que não interessam aos deputados. Porque muitos deputados também pertencem a lobbys. São patrocinados em suas campanhas políticas para, depois de eleitos, aprovar ou não aprovar determinados projetos de lei. Chamam isso de democracia. E também senadores. E também ministros.
Este é um país de mensalões e mensalinhos e somente são descobertos aqueles (ou aquelas) corruptíveis quando há interesse de outro grupo mais forte, de também prováveis corruptíveis, para que a corrupção dos seus adversários políticos apareça. Senão, me responda: quem coloca as câmeras e as direciona para os flagrantes de corrupção que aparecem na TV?
Assim, os lobbys. Começam no Congresso, dão a sua voltinha nos ministérios e vão até a presidência da República.
Não é extremamente estranho a Dilma, desde que era Ministra da Casa Civil e decidiu que o PAC era uma necessidade para o Brasil, colocar como prioritários projetos de construção de hidrelétricas, como a de Belo Monte e as de Rondônia? Sequer ouviu os ambientalistas. Quando alguns deles se revoltaram foram colocados para fora do governo. E o Lula aplaudindo. Pobre bobo Lula.
E agora, depois que a Dilma assumiu o lugar do Lula, quando o presidente do IBAMA, Abelardo Bayma, não quis dar a licença para Belo Monte ser construída, simplesmente foi demitido. Talvez Dilma esteja apenas com uma idéia fixa, ou muito mal informada a respeito do impacto das hidrelétricas, não só no meio ambiente onde são construídas, mas também em relação à emissão de gases de efeito estufa.
Eu prefiro pensar assim: que a Dilma não sabe - tanto quanto o Lula não sabia, ou sabia? - do mal que estará provocando ao insistir na construção de hidrelétricas. Prefiro pensar assim, porque no seu discurso no Senado, na abertura das atividades do Legislativo (atividades que ainda estão sendo esperadas que aconteçam, porque o Congresso tem trabalhado ao reboque do Executivo) ela disse que iria dar preferência às fontes de energia limpa.
E a partir daquele momento começou a fazer de tudo para construir Belo Monte e mais algumas hidrelétricas que estão projetadas para funcionar em Rondônia. Logo, ela não sabe o que é energia limpa.
Talvez não tenha a menor idéia e pense que as hidrelétricas, porque são movidas pela água e porque a água costuma ser branca, devem ser uma fonte de energia limpa.
Dilma fincou pé na construção de Belo Monte. Quer porque quer, ela é a Presidente, ela fala grosso, ela bate o pé, ela já decidiu e não volta atrás... Puro capricho. Ou influência dos noticiários de televisão. Principalmente agora, depois do tsunami no Japão, ela deve ter achado bonito e quer o seu próprio tsunami no Xingu.
Belo Monte não só vai destruir parte do parque do Xingu e afetar o ecossistema da Amazônia numa escala indescritível, como, também, vai gerar uma energia muito suja. Como será uma megahidrelétrica, a terceira maior do mundo, vai gerar gases de efeito estufa numa escala imensa.
Sem falar nos mais de trinta povos indígenas que serão expulsos das suas terras legítimas e realocados de qualquer maneira em cidades como Altamira para sofrerem todo o tipo de dificuldades.
E será que Dilma não sabe que estará provocando tudo isso apenas por birra? Ou será puro desconhecimento do que seja energia limpa e energia suja? Não quero acreditar que Dilma esteja “comprada” por algum lobby de empresários, multinacionais, políticos corruptos, empreiteiras... Por mais que ela me pareça contraditória, não é do estilo dela. Para mim, ela é honesta e está apenas muito mal assessorada e muito mal informada sobre energia.
ENERGIA LIMPA
Energia limpa não é energia gerada por hidrelétricas.
Energia limpa é a energia solar. A energia luminosa do sol, transformada em eletricidade por um dispositivo eletrônico, a célula fotovoltaica. Já as placas solares usam o calor do sol para aquecer água.
Energia limpa é a energia eólica, ou energia provocada pelo vento. O vento gira as pás de um gigantesco catavento, que aciona um gerador, produzindo corrente elétrica.
Energia limpa é a energia das marés. As águas do mar movimentam uma turbina que aciona um gerador de eletricidade, num processo similar ao da energia eólica. Mas ainda não existe tecnologia para exploração comercial.
Energia limpa é a produzida pelo biogás, que é a transformação de excrementos animais e lixo orgânico, como restos de alimentos, em uma mistura gasosa, que substitui o gás de cozinha, derivado do petróleo. A matéria-prima é fermentada por bactérias num biodigestor, liberando gás e adubo.
Energia limpa é a dos biocombustíveis. Ou seja, a geração de etanol e biodiesel para veículos automotores a partir de produtos agrícolas (como semente de mamona e cana-de-açúcar) e cascas, galhos e folhas de árvores, que sofrem processos físico-químicos.
Todos essas fontes energéticas tem prós e contras, mas vem diretamente da natureza e nela não interferem negativamente.
Mas a presidente do Brasil quer hidrelétricas – grandes fontes de energia suja - e quer – pasmem! - energia nuclear. O CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear – acaba de declarar, através de um dos seus representantes que o plano para a implantação de novas usinas nucleares no Brasil continua.
Pretendem instalar mais quatro usinas nucleares no país, além das duas usinas que já existem em Angra dos Reis. Tiveram que abrir o jogo, porque não se falava nada a respeito até o desastre nuclear no Japão.
Lobby, emprego para cientistas, grandes multinacionais envolvidas nessas futuras construções ou apenas desatino e loucura acelerada? Além da energia das hidrelétricas, existe energia mais suja que a nuclear, que jamais se extingue, mesmo com os reatores desligados?
Mas não custa nada acreditar que os cientistas não são tão loucos nem o governo tão insensível. Talvez voltem atrás quanto à energia nuclear. Mas insistir com as hidrelétricas, tendo plena consciência do mal que elas fazem... Tem algo errado aí. Algo que não fecha, que não coincide com a lógica da consciência de todos os povos que buscam a defesa dos seus ecossistemas e lutam por fontes de verdadeira energia limpa e renovável.
Mesmo que esse “algo errado” seja apenas insistência de menina mimada, o que interessa para nós, o povo, que não tem voz e quando grita não é ouvido é que insistir com esse modelo de desenvolvimento, a pau e corda, é o mesmo que fabricar um triste destino para o Brasil e para os brasileiros.
É realmente de arrepiar a verdade sobre energia suja e limpa relatado na matéria. Esperemos que esta loucura não se concretize. Parabéns pelas informações prestadas! Obrigada!
ResponderExcluirLidia.
Muita grata pelas informações. Publiquei (com créditos seus) no Grupo MOVIMENTO EM DEFESA DO RIO ABAETÉ/MG, no Facebook.
ResponderExcluirobrigado pela info! algo me soava mal nisso de "energia limpa" do lobby deles. Se-nao vao ver os efeitos da mega obra das Tres Gargantas do YangTze.
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