domingo, 20 de março de 2011

DILMA E GEISEL




Declaramos guerra à Líbia? É sabido que desde sábado, quando Obama chegou ao Brasil, cedemos nosso espaço aéreo, terrestre e marítimo aos Estados Unidos, numa atitude de vassalagem como nunca antes houve na história do Brasil, talvez somente comparável à atitude de Dom João VI, quando abriu os portos do Brasil ao comércio com a Inglaterra, da qual era devedor.

     Eu sempre achei que aquele topete da Dilma é apenas para a política interna, além de ser um conselho de marqueteiro aquele seu jeitão de mandona. Esperava mais dela. É claro que não esperava que fosse uma Cristina Kirchner, pois para isso lhe falta conhecimento e singeleza; nem uma Ângela Merkel, que sabe se impor quando necessário, muito menos uma Hillary Clinton, que é quem verdadeiramente manda na política externa dos Estados Unidos - mas esperava mais.

     Esperava, pelo menos, um pouco de atitude digna, de verdadeira representante do povo e do Estado. Mesmo sendo uma entreguista - como Lula e o grupo que manda no país - não esperava que fosse entregar tão facilmente o país aos Estados Unidos a uma simples ordem do Departamento de Estado daquele país. Mesmo que por somente dois dias é entregar.

     Além disso, reconhecer que somos incapazes de prover a segurança de um chefe de estado é de uma tristeza avassaladora, principalmente porque as próprias Forças Armadas brasileiras admitiram isso, implicitamente, ao aceitar serem comandadas durante esses dois dias pela parafernália bélica dos Estados Unidos. Faltou dignidade e, principalmente, soberania.

     Aos militares de hoje lembro que ao tempo do general Ernesto Geisel, quando era presidente nomeado pela ditadura, o Brasil agiu com muito mais bravura do que neste momento de servilismo.

     Foi quando Geisel, indignado por algumas exigências dos Estados Unidos, denunciou e rompeu o tratado militar secreto que havia com aquele país. Também foi Geisel quem instituiu o mar de 200 milhas como integrante do território brasileiro e foi Geisel que, certo ou errado, decidiu construir as usinas nucleares da Angra 1 e Angra 2 – com tecnologia alemã e não norte-americana.

     Foi um presidente digno e foi admirado por isso. Os militares brasileiros da época de Geisel aprenderam que patriotismo não significa apenas beijar a bandeira ou perfilar-se ao cantar o hino nacional. É muito mais que isso. E principalmente, em primeiro lugar, defender a honra da pátria acima de quaisquer circunstâncias. Convém lembrar, ainda, que foi Geisel quem iniciou a abertura política e nomeou o seu sucessor, general Figueiredo, com a missão precípua de devolver o poder aos civis.

     Na política internacional, Geisel apoiou a independência de Angola sob um regime socialista, e reatou as relações diplomáticas com a China socialista, entre outros feitos marcantes. Pretendia com isso, ampliar mercados e não se tornar dependente da política norte-americana. É claro que foi um governo anticomunista, mas, ao mesmo tempo, pensava no futuro do país e procurava aplicar um pragmatismo de não-alinhamento econômico, denotando força e independência. E – para mim o mais importante – sentimento nacionalista.

     E é justamente o partido que mais denunciou e lutou contra a ditadura militar, o PT, que, depois de tomar o poder mostra-se o mais entreguista e completamente alinhado com a política e com a economia norte-americana. O mais servil e submisso aos interesses dos Estados Unidos.

     Basta observar que Obama veio ao Brasil para impor uma aliança econômica bilateral de dez pontos que foi prontamente aceita pelo partido de Dilma. Os Estados Unidos já sabiam que o PT queria apenas o poder pelo poder e por nenhum outro motivo; tinham percebido que o anterior governo de Lula tinha sido de um extasiado puxa-saquismo em relação aos Estados Unidos e à ONU; entenderam que o PT pretendia apenas tornar-se um partido forte e dominador da cena política brasileira, sem nenhum plano ou projeto para o Brasil que fugisse aos planos e projetos dos Estados Unidos.

     Por isto, Obama disse que o futuro do Brasil chegou. Claro. O futuro deles no Brasil, com um governo deles, maquiado de verde e amarelo, com uma mídia deles, que influencia cegamente o povo e com as Forças Armadas do Brasil também deles. Ou há alguém, nas atuais Forças Armadas, que seja nacionalista?

     Daí a pergunta: declaramos guerra à Líbia? Porque Obama declarou essa guerra a partir do território brasileiro, talvez não tenha sido nem de sua própria embaixada em Brasília, mas de alguma sala do Palácio do Planalto, sabendo que o voto do Brasil tinha sido de total omissão, de abstenção, e abstenção significa não apoiar explicitamente essa guerra... E, mesmo assim, descansadamente, ordenou o ataque à Líbia a partir de Brasília. Um tapa de luvas na cara da pseudo-política externa brasileira.

     Debochou de Dilma e debochou de nós, brasileiros, que agora temos a certeza que o nosso governo também é omisso em relação a nós e ao nosso futuro, porque o futuro deles chegou aqui.

Um comentário:

  1. Oportunas colocações do governo brasileiro em relação ao imperialismo. Informações interessantes quanto ao governo Geisel. Ótima matéria!
    Lidia.

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