domingo, 2 de outubro de 2011

A CLAQUE DO NEYMAR


foto de Lidia Amaral


O triste da corrupção que nos aflige é a contínua mentira desinformativa dos meios que deveriam ser de comunicação, e o são, mas com o único objetivo de comunicar aquilo que interessa aos donos dos meios de comunicação – ao mais das vezes grandes empresários ligados ao capital que esmaga a grande maioria do povo brasileiro.

     Dentre os países que estão sendo chamados de “emergentes”, o Brasil é aquele que tem a maior desigualdade social; percebe-se, também, que é o país que tem o povo mais desinformado ou mais enganado pelos meios de comunicação, e que gosta de ser enganado. Entre os países apelidados de “desenvolvidos”, os Estados Unidos ganha o troféu de país que tem a maior desigualdade entre ricos e pobres – e o povo dos Estados Unidos – é sabido – é considerado um dos mais alienados e desinformados do mundo. Talvez perca para o povo brasileiro, mas existem divergências a respeito.

     Há quem pense que corrupção consiste unicamente em comprar ou ser comprado, em prostituição física, mental e espiritual, mas também é corrupção a mentira ou a fabricação de “verdades” – o que não deixa de ser uma prostituição espiritual, uma vez que é inculcado no espírito das pessoas, através de falácias, afirmações que acabam passando por verdadeiras, mas não correspondem àquilo que se vê ou que se constata.

     Estamos assistindo a um fenômeno de marketing que tem por objetivo transformar um jogador médio em um craque. Isso, talvez, porque a atual geração de admiradores do futebol, no Brasil, não sabe exatamente o que significa a palavra craque. Apesar de todos gostarem de falar inglês, por hábito ou por aculturação, ou simplesmente por complexo de inferioridade, convém lembrar que a palavra craque vem de “crack”, e foi incorporada ao futebolês na época em que existiam jogadores que “quebravam” a mesmice medíocre das partidas de futebol. Os mais conhecidos foram Pelé e Garrincha, mas existiram outros que já estão distantes no passado, mas que com um pouco de pesquisa e paciência o amável leitor interessado poderá descobrir por si mesmo.

     Talvez seja apenas uma experiência midiática, com objetivos sociológicos, objetivando observar até que ponto o chamado “torcedor brasileiro” é facilmente influenciável, ou se detém, ainda, um pouco de senso crítico. As massas existem para serem moldadas, manipuladas, o que acontece diariamente; mas no futebol, é a primeira vez que acompanho tamanha campanha de marketing para influenciar o povo a acreditar que temos, novamente, um craque no futebol brasileiro. É claro que ainda existem craques no nosso futebol – mas craques em relação aos demais jogadores, que são, quase todos, extremamente medíocres.

     No caso de Neymar, não há como negar que é um jogador acima da média, em se tratando do futebol brasileiro. Assim, se ele fizer alguma jogada acima da média será natural. Mas o que estão fazendo com o pobre do menino, endeusando-o como se fosse um verdadeiro craque está sendo ruim não só para a sua personalidade como para o nosso entendimento do que é certo ou errado.

     Menininhas com fitas na cabeça, onde está escrito o nome do jogador; as mesmas menininhas gritando toda vez que ele toca na bola. Isso, em qualquer lugar onde ele vá jogar. Ao ponto das pessoas ficarem se perguntando se aquelas menininhas são as mesmas ou se é apenas uma febre inoculada pelo marketing.

     E esse mesmo marketing – que parece ser extremamente ativo – faz com que narradores de futebol, pessoas que parecem idôneas e respeitadas, falem no Neymar a cada trinta segundos, basta ele estar em campo. É algo muito estranho. Basta o Neymar tocar na bola para os narradores ficarem excitados. E quando o Neymar, por acaso, dribla algum daqueles jogadores de terceira categoria, os narradores entram em êxtase. Ao final do jogo – em máximo atentado ao bom senso – mesmo nos jogos em que o time do Neymar perde, é mostrada uma edição dos momentos em que Neymar tocou na bola e fez alguma coisa. Mais ridículo ainda é quando o Neymar chuta uma bola no canto e o goleiro pula atrasado ou prefere levar o gol e esses narradores dizem que foi um golaço. E quando o Neymar joga na seleção – onde já tem um lugar cativo graças a esse marketing – há uma câmera exclusiva seguindo o menino.

     Mas senhores!... Quosque tandem pensareis vós que somos tão bobos?

     Todos desconfiam que a Copa do Mundo esteja sendo planejada para o Brasil vencer. E todo planejamento implica em marketing. Quando a seleção brasileira de futebol vencer a Copa de 2014 – caso os uruguaios não joguem a final – o ídolo que está sendo fabricado desde agora será transformado em herói, mesmo que fique no banco de reservas. Futuramente, os especialistas em futebol dirão que 2014 foi a Copa do Neymar, assim como 1958 foi a do Pelé e a de 1962 a de Garrincha.

     Coitados dos demais jogadores brasileiros que participarem daquela próxima Copa do Mundo que o Brasil deverá vencer! Serão apenas coadjuvantes.

     Recentemente tivemos o caso de Mario Fernandes, jogador do Grêmio que preferiu não aceitar a convocação para jogar contra o time de reservas da Argentina. Foi xingado por todo sudeste brasileiro e pelo norte-nordeste que segue as opiniões marketizadas, mas revelou personalidade. Se o próprio Diego Souza – o melhor jogador brasileiro da atualidade – ficou na reserva para dar lugar ao Neymar, que tem cadeira cativa na seleção, para que participar de uma seleção que, ao que tudo indica, costuma ser escalada pelos empresários dos jogadores?

     Acredito que outros jogadores – aqueles que tiverem mais personalidade e capacidade de discernimento -, à medida que se aproximar 2014, provavelmente vejam na atitude de Mario Fernandes um exemplo a ser seguido, preferindo dar mais atenção aos seus próprios clubes do que à seleção, que ainda é canarinho, mas pertence às grandes empresas multinacionais que a patrocinam.

     Até lá, muito ainda vai ser falado sobre o Neymar; sobre o grande craque que ele é, sobre os seus penteados, maquilagem, sorrisos, olhares. Toda uma geração está sendo predisposta a aceitá-lo como espelho. E muito se trabalha nos meios de comunicação para que isso aconteça.

Um comentário:

  1. Também no futebol, Brasil é Brasil! Neymar é mais um em que a mídia, entre outros, tenta impor goela abaixo. Saudades do futebol de verdade! Ótimas inserções Estados Unidos x Brasil. Parabéns!
    Lidia.

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