domingo, 20 de novembro de 2011

QUAL É O JOGO DA GLOBO?


Muito surpreendente aquele vídeo em que atores da Rede Globo se colocam contra a usina hidrelétrica de Belo Monte. Surpreendente, por ser da Globo.

     Eu não sou o único a ficar surpreso, mas acredito que também os verdadeiros movimentos contra a construção de Belo Monte, como o Movimento Xingu Vivo Para Sempre. Ou seja, o povo do Pará, o povo da Amazônia, que não admite ser saqueado em seus bens naturais e se opõe decididamente e com todas as suas forças não só contra a construção de Belo Monte, como contra a construção das usinas hidrelétricas de Jirau e de Santo Antônio, em Rondônia, e contra a depredação da Amazônia, que vem sendo planejada desde a época da ditadura militar e tem aumentado gigantescamente nos últimos dez anos.

     O Movimento Xingu Vivo Para Sempre – conforme está escrito no seu site (http://www.xinguvivo.org.br/quem-somos/) “é um coletivo de organizações e movimentos sociais e ambientalistas da região de Altamira e das áreas de influência do projeto da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, que historicamente se opuseram à sua instalação no rio Xingu. Além de contar com o apoio de mais de 250 organizações locais, estaduais, nacionais e internacionais, o MXVPS agrega entidades representativas de ribeirinhos, pescadores, trabalhadores e trabalhadoras rurais, indígenas, moradores de Altamira, atingidos por barragens, movimentos de mulheres e organizações religiosas e ecumênicas, tais como:

     “Prelazia do Xingu, Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira Campo e Cidade, Instituto Socioambiental –Xingu, Comitê Metropolitano Xingu Vivo, Movimento de Mulheres Campo e Cidade – Pará, Associação das Mulheres Urbana e Rurais de Senador José Porfirio, Associação das Mulheres de Brasil Novo, Movimento de Mulheres de Medicilândia, Movimento de Mulheres de Uruará, Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade de Placas, Movimento de Mulheres de Pacajá, Movimento de Mulheres de Anapu, Movimento de Mulheres de Rurópolis, Associação de Mulheres Agricultoras do setor Gonzaga, Associação das Mulheres do Assentamento Assurini, Pastorais da Prelazia do Xingu- Comissão Justiça e Paz, Pastoral da Juventude, CPT- Xingu, CIMI- Conselho Indigenista Missionário, Pastoral da Criança, Irmãs Franciscanas, Comitê em Defesa da Vida das Crianças Altamirenses, Associação Fundação Tocaia, Equipe Samaritana paróquia Imaculada Conceição, Congregação La Salle, Grupo de Trabalho Amazônico Regional Altamira, Associação Rádio comunitária de Altamira, Mutirão Pela Cidadania, Fundação Elza Marques, S.O.S Vida, SINTEPP-Sindicato dos Trabalhad@res em Educação Pública do Pará sub–sede Altamira, Sindicato dos Trabalhad@res Rurais, Associação Radio Comunitária de Vitoria do Xingu, Associação de Cultura de Brasil Novo, Associação Rádio Comunitária de Medicilândia, Associação Rádio comunitária de Porto de Móz, Forum da Amazônia Oriental, SDDH-Núcleo Altamira, Associação dos moradores da Reserva Extrativista do Riozinho do Anfrísio, Associação dos Moradores da Reserva Extrativista do Rio Iriri, Associação dos Moradores da Reserva Extrativista do Xingu, Comitê de Desenvolvimento Sustentável Porto de Moz, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porto de Moz, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Vitória do Xingu, Associação dos Pilotos de Voadeiras e Barcos de Altamira, Centro de Formação do Movimento Negro Transamazônica, SOCALIFRA, Sindicato das Domésticas de Altamira e região, Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Altamira e Região, Pastoral da Juventude Rural, Fórum Regional de Direitos Humanos Dorothy Stang, Sindicato dos Trabalhadores em Saúde no Estado do Para sub-sede Altamira, Associação Pró-moradia Parque Ipê, Associação dos Agricultores Ribeirinhos do Assentamento Itatá, Associação Casa Familiar de Altamira, Associação de Resistência Indígena Arara do Maia-ARIAN Associação dos Produtores da Volta Grande do Xingu, Associação do Povo Indígena do Xingu Km 17, Associação dos Povos indígenas da Aldeia Paquissamba da Volta Grande do Xingu Associação Ação e Atitude, Associação dos Agricultores e Ribeirinhos do Xingu.”

     E é esse Movimento, formado por diversos movimentos populares, que está à frente da luta contra a construção de Belo Monte; que está à frente da luta pela preservação ambiental no Brasil, notadamente na Amazônia.

     É um movimento popular e a Rede Globo não tem nada a ver com povo, mas com empresários. Não é o único movimento contra Belo Monte. Existem mais algumas dezenas, e não só na região amazônica. Assim como existe um grande movimento, principalmente através da Internet, contra a construção das usinas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau e contra a destruição da Amazônia em nome de um desenvolvimentismo caduco, que só serve ao governo que serve às empresas interessadas somente no lucro.

     Por isso a surpresa com a manifestação em vídeo dos artistas que representam a Rede Globo. De início, uma boa surpresa: não se pode escolher os aliados, por piores que sejam, na hora da batalha. Principalmente se a batalha é contra os “podres poderes”. Mas qual é o jogo da Globo?

     As especulações são muitas, mas duas são as principais.

     1. A Globo estaria querendo tomar a frente da luta contra Belo Monte, no instante em que essa luta está se tornando insustentável para o Governo. Diversas entidades muito representativas, assim como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e, inclusive, a OEA (Organização dos Estados Americanos), pedem o fim da construção de Belo Monte. Muitos magistrados se colocam contra a monstruosidade que está sendo criada no Xingu. E a Globo – espertamente – estaria aparecendo de “boazinha” no momento em que a luta popular contra Belo Monte torna-se mais crucial e definitiva. E assim, aos olhos do povo não engajado, no instante em que o povo vencer o Governo nessa luta a Globo apareceria como a responsável por essa vitória.

     2. Os que dizem que a Globo é contra o Governo – petistas e seus aliados da direita – terão mais um argumento para defender a construção de Belo Monte. Em uníssono, gritarão que, se a Globo é contra Belo Monte, com certeza a usina contraria os interesses da empresa e dos seus aliados. E, portanto, a construção de Belo Monte deve acontecer porque será uma luta contra a Globo. O que daria uma falsa legitimidade para a construção da Belo Monte.

     Não percebo nenhuma luta ou manifestação da Globo contra os agrotóxicos, o desmatamento desenfreado no Brasil inteiro, o latifúndio, a plantação de transgênicos ou contra acelerada desertificação do solo. Não vejo a Globo a favor das lutas populares.

     A Globo se notabilizou por ser a favor do regime militar, por ter eleito Collor e depois o retirado do poder, por ter eleito Fernando Henrique Cardoso, por concordar com a inevitável eleição de Lula, depois de transformá-lo em manso cordeiro, e por representar os interesses das multinacionais, dos empresários, dos latifundiários e de todos aqueles que são declaradamente contra as causas populares.

     Por que estaria, agora, contra Belo Monte? Qual é o jogo que está escondido naquele vídeo dos atores da Globo?

     De qualquer maneira, querendo acreditar que a empresa tenha tomado uma súbita consciência social, é bem-vinda na luta.

     Mas vamos ver os próximos capítulos.

Um comentário:

  1. Também fiquei intrigada com o súbito engajamento da "Rede Globo" no finalzinho da luta popular contra a construção de Belo Monte. Ótima postagem, com as devidas informações e indagações!
    Lidia.

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