terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A QUEM ELES SERVEM?

Em uma entrevista com um latifundiário gaúcho, o jornalista perguntou a respeito do reflorestamento e a resposta foi: pra que plantar mais árvores, se estamos acostumados com esta linda visão das verdes coxilhas? É esta a mentalidade. O pasto plantado, com um ou outro capão de mato ilhado entre as verdes coxilhas, engorda o boi e é só isso que interessa para os fazendeiros que vivem da pecuária: que o boi engorde para o abate. Mas, se tiver que plantar árvores, plantará eucaliptos ou pinheiros, que crescem rapidamente e tem uma madeira muito apreciada pelas indústrias de celulose.

     O que interessa é o lucro. Não pensem os que visitam esta terra de verdes coxilhas que aqui se cultiva o amor à natureza. Para pecuarista, ecologia é palavrão. Não somente os pecuaristas. Aqueles que cultivam plantações extensivas de soja e arroz, através de sementes transgênicas, pouco estão ligando para a natureza ou para o dia de amanhã. Exceto se o dia de amanhã for um dia de lucros. Se a terra se tornar um deserto, compram mais terras, e quando toda a terra estiver desertificada, mudam-se para outros lugares deste imenso Brasil.

     As árvores são inimigas dos grandes plantadores e estancieiros. Ou melhor, os latifundiários em geral são inimigos da natureza. Verde, para eles, é o dinheiro que a devastação da natureza lhes dá. Em outras épocas, atribuía-se à ignorância do produtor rural o desmatamento indiscriminado, a caça e a pesca predatórias. Mas hoje, essa desculpa é ridícula. São inimigos declarados da natureza. Inimigos conscientes.

     E esses inimigos do verde, inimigos da natureza, que trazem em seu DNA a vontade de matar e de devastar, neste exato momento estão sendo presenteados com uma lei – o novo Código Florestal – que lhes permitirá exercer com mais fervor a sua sanha destrutiva e lhes dará a oportunidade de satisfazer ainda mais a sua ganância, aliada ao ódio que manifestam pela natureza.

     O novo Código Florestal permitirá que mais áreas sejam desmatadas no Brasil inteiro. Está sendo considerado um crime de lesa humanidade, porque a ocorrência de pastos em Áreas de Preservação Permanente (APPs) “desrespeita um dos mais básicos fundamentos das ciências agrárias e da economia socioambiental”, escreve José Eli da Veiga.

     A própria CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que tem sido, nos últimos anos, tão reacionária e amiga do poder, afirma timidamente que as mudanças no atual Código Florestal “não representam equilíbrio entre conservação e produção”.

     O MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), tão amigo do PT em outros tempos, diz que “do jeito que o texto está, o Código beneficiará o agronegócio e aumentará o desmatamento. O pequeno agricultor não será contemplado”, disse Cristiane Albuquerque, da Coordenação Nacional do MST. “A tendência é que, com a flexibilização do Código Florestal e ampliação da fronteira agrícola, aumente ainda mais a utilização de agrotóxicos do agronegócio no Brasil, que já lidera o ranking mundial", aponta Cristiane.

     O Comitê Brasil Em Defesa Das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável fez um abaixo-assinado contra o novo Código Florestal, que foi encaminhado a Dilma Roussef no último dia 29.

     Talvez tenha faltado um pouco de visão ao Comitê, por que Dilma foi colocada na presidência da República justamente para dar carta branca para que os seus aliados do Congresso criassem o novo Código Florestal. Também para destruir o Xingu e a Amazônia com a construção de hidrelétricas e entregar o Brasil ao agronegócio. Não há outra razão para Dilma ser a atual Presidente, senão a de apoiar e forçar, ditatorialmente, a implementação de todas as medidas antiecológicas possíveis. Ela entende que isso é “desenvolvimento acelerado”.

     Lembrem que ela tirou Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente, quando a então ministra foi contra a construção de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio.

     O Congresso está vendido. Não existe “situação” e “oposição” – com a gloriosa exceção de alguns deputados e senadores que ainda tem honra e vergonha na cara.

     Com o novo Código Florestal os rios estão condenados à extinção, porque vai acabar a mata ciliar, que os protege. Os topos dos morros serão invadidos por motosserras. As áreas indígenas serão devastadas, o Brasil será devastado, se nada for feito com urgência contra as piranhas devoradoras que infestam o Congresso e demais áreas do desgoverno.

     A quem eles servem? Não se pode servir a dois senhores, mas qual é o senhor da grande maioria dos políticos brasileiros, aqueles que decidem o futuro, autorizando a destruição da nossa terra, dando o consentimento tácito para os assassinatos de ambientalistas?

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